Mais um ano começa. São 365 dias. 365 oportunidades de renovar. Inovar. Revolucionar. E tirar sarro. Porque a zoeria never ends. Papinho de coach quântico logo no dia 2 de janeiro é dureza, né? Mals aí. Mas não dá pra negar que o momento é de reflexão. Se preparar para o que está por vir.
E quem lê o Startups não parece estar com medo do que o ano guarda. Pelo contrário. A expectativa para a maioria das pessoas (33%) é de um ano melhor que o que passou. Há também os que acreditam no velho lema da crise ser igual a oportunidades (26%).
Já pouco menos de um terço acredita que o bicho irá pegar e que o melhor é seguir a recomendação dos católicos: Seguraaa na mão de Deus. Por fim, tem aqueles que admitem que nada sabem depois de tanta turbulência em 2022.
A consulta sobre expectativas para 2023 rodou na última semana no perfil do Startups no LinkedIn e nos 3 grupos que a gente tem no WhatsApp (já conhece o grupo?) e recebeu 718 votos ao todo.
Adoro esse otimismo. Espero que os otimistas vençam. Sempre.
Bola de cristal para 2023
No começo do ano passado me meti a fazer alguns comentários sobre o que eu esperava para 2022. Ao contrário da lista de 2021, que eu acertei a maior parte dos chutes, digo, projeções, a do ano passado foi um horror.
Talvez levado pelo otimismo do 1º dia útil do ano novo, fiz avaliações que ficaram longe de se realizar, como o nascimento de 7 unicórnios brasileiros – número que ficou em 2. Também falei que valuations continuariam altos. Que sonho.
Uma coisa eu acertei na mosca. Foram 0 IPOs na área de tecnologia. A consolidação entre startups também rolou, mas em um ritmo bem menos eletrizante do que eu imaginava. E o apetite gringo nas rodadas locais continuou alto já que com o dólar forte, os negócios se mantém atraentes.
E o que esperar de 2023? Bora ligar a bola de cristal. Depois você pode me cobrar.
- 0 IPOs. Repeteco do ano passado sim, afinal, fazer uma listagem é o end game para investidores de venture capital, então é um momento importante para qualquer startup. Mas a janela continua fechada, e sem chance de se abrir no curto prazo. A Dock demitiu porque precisou se “despreparar” para o IPO que ela estava pronta para fazer. A colombiana Merqueo entrou com pedido para abrir capital na Nasdaq. Mas o processo tem poucas chances de avançar;
- 0 unicórnios. Barbada também, eu concordo. Mas alguém tem que dizer;
- Mais layoffs. Achou que as demissões que rolaram em 2022 resolveram a questão? Pois saiba que o processo de enxugamento apenas começou. O mote de 2022 foi a preservação de caixa. Quem não conseguiu esticar muito a corda, vai precisar rever as contas. E mesmo quem fez um bom trabalho em segurar as contas vai precisar revisar as planilhas. Então, já viu;
- Downrounds. Atrelado a isso, estão as rodadas com valuations descontados. Os VCs têm dinheiro disponível, disso a gente já sabe, mas o dinheiro vai custar mais caro – e olha que dar equity sempre foi a moeda mais cara na mesa de negociação;
- Crédito como alternativa. O mercado de venture debt engatinha no Brasil. Em 2023 não veremos um grande salto ou mudança muito expressiva de patamar, mas certamente veremos mais atividade, com essa modalidade aparecendo como um complemento mais frequente do cheque de rodadas – principalmente ali na faixa das séries A e B;
- CVCs ativos. Em 2022, as empresas brasileiras se comprometeram a investir mais de R$ 2 bilhões em fundos de venture capital próprios. Obviamente que esses recursos não estão ali parados em uma conta esperando para serem usados. Vão sendo liberados com o passar do tempo. Estando suscetíveis a mudanças de orçamento e de gestão. Mas o espaço para corporações investirem em startups está garantido na medida que os VCs tiraram o pé;
- M&A. Nomes como Gupy, Sólides e Superlógica são companhias que têm dinheiro em caixa, já fazem aquisições e, certamente, vão aproveitar o momento para continuar indo às compras. Concorrentes também podem se juntar na tentativa de permanecerem vivos. Grandes empresas devem fazer movimentos mais pontuais principalmente para reforçar segmentos em que já atuam (afinal, 2023 não é um ano para ficar inventando muita moda não);
- Dificuldades para as fintechs. As fintechs são, e continuarão sendo, as startups favoritas dos investidores. Mas isso não quer dizer que a vida delas será fácil. A restrição de crédito e o aumento dos juros trouxe difculdades para as companhias que atuam nesse segmento, enquanto os bancos e carteiras digitais terão que adapatar seus modelos de negócios às novas regras do Banco Central;
- VCs sentem o impacto. Todo mundo fala do inverno das startups. De como elas têm sofrido com a menor disponibilidade de recursos. Mas uma ponta que a maioria das pessoas deixa desamarrada é a dos VCs. Com os juros lá em cima, captar recursos para novos fundos não será uma tarefa fácil e atuais investidores ficarão mais atentos ao que vem sendo feito. Compra e união de portfólios, perda de talentos para outras áreas do mercado financeiro ou para empresas, casas saindo do mercado, ou mesmo devolvendo dinheiro para cotistas. Welcome to the jungle!
- Early stage ainda ativo. Pra ninguém dizer que eu só vejo o lado ruim das coisas, um bom sinal: a atividade de investimento no early stage vai se manter. As negociações não serão fáceis, mas o fluxo continua já que os negócios mais iniciantes podem começar a vida de forma mais pé no chão, e guardam potencial de valorização mais no tempo.