Andréa Fernandes é apaixonada. Por pessoas, pela vida, pelo seu trabalho, diversão, comidas e por estar em companhia. Em suas próprias palavras, é absolutamente intensa em tudo que faz. E com a união dessas qualidades, ela lidera a área de marketing da Better Drinks, grupo brasileiro de marcas de bebidas que nasceu da união das marcas Bear-Mate, F!VE, Mamba, Praya e Vivant.
Publicitária por formação, iniciou sua carreira em 1994 produzindo eventos ao redor do Brasil e do mundo. Ao longo de sua trajetória, trabalhou e liderou times multifuncionais em diferentes indústrias, categorias e organizações, como Ambev, Kraft Heinz, agências de publicidade e a holding TGroup.
Em um papo de peito aberto com o Startups, Andréa falou sobre suas motivações, os desafios como diretora de marketing de uma empresa em alto crescimento e liderança feminina. Veja, a seguir, os melhores momentos da conversa.
O que te move? Te faz levantar da cama, ir trabalhar e enfrentar os desafios do dia a dia?
A paixão pelas pessoas. Percebo, e todo mundo fala, que sou muito apaixonada e tenho bastante energia, e o que me move são as pessoas tanto na minha profissional quanto pessoal. Tenho um filho de 12 anos, o Felipe, que é um menino incrível que me faz acordar todos os dias muito feliz e com a certeza de que o mundo amanhã será melhor. Além disso, estou sempre cercada dos meus amigos e da minha família, amo receber gente em casa, conhecer pessoas novas e estar em companhia. Não separo muito as coisas, vários dos meus amigos vieram do meu trabalho e dos times que construí ao longo dos anos. Isso faz com que a vida seja mais gostosa.
Você sempre pensou em trabalhar com marketing?
Até a metade do 3º colegial queria fazer medicina, muito inspirada pela minha família. Meu avô materno era pediatra e meu pai é ginecologista. Duas pessoas que sempre foram grandes exemplos para mim e que têm como especialidade áreas da medicina que acho lindas. Meu avô nunca cobrou uma consulta na vida, sempre trabalhou pelo que as pessoas podiam pagar. Minha mãe até brinca que é a única filha de médico da época dela que não tinha pai milionário. Ele sempre fez por paixão, e isso me fez ver a medicina como um caminho lindo.
Meu pai, ginecologista e obstetra, é um grande apaixonado por colocar gente no mundo e tornar realidade o sonho da maternidade para muitas mulheres. Então a vida inteira vi duas pessoas que sempre admirei atuando em medicina. Mas na metade do 3º colegial vi que não tinha certeza se queria seguir o mesmo caminho. Então busquei orientação vocacional.
O resultado foi que eu me daria bem com artes cênicas, relações públicas, embora não entendesse muito o que era na época, e publicidade, que estava estourando e era um curso super disputado. Sai de São Roque e me mudei para São Paulo, entrei na primeira turma de publicidade da PUC-SP. O que me apaixona no marketing é justamente a relação entre marcas e pessoas, ou pessoas com outras pessoas, é isso que me faz feliz.
Quais são os seus principais desafios como CMO da Better Drinks?
O primeiro, a um nível pessoal, é lidar, equilibrar e gerenciar paixões tão grandes. Querer estar muito com os meus amigos e perto do meu filho pré-adolescente. Mas também amar o meu trabalho e o meu time. Hoje mesmo, vou receber toda a equipe na minha casa, algo que gosto de fazer e diz muito sobre liderança feminina, gostar de acolher as pessoas e trazê-las para perto. Mas tudo isso cria vários pratos para administrar.
Outro desafio é que tenho muita energia, mas as pessoas não necessariamente são assim. Então tento manter a minha energia sempre alta – porque é o que me faz feliz – e equilibrar isso para as pessoas não se assustarem. Passei o último carnaval em Salvador, com mais de 60 horas sem dormir enquanto trabalhava e me divertia. Sou bem mais velha que a maior parte do meu time e eles falam que não paro nunca. Mas tenho sempre a preocupação de que as pessoas entendam que não tenho a expectativa de que elas sejam assim também.
Sou absolutamente intensa em tudo. Sempre falo para o meu filho que trabalho porque amo – o que não quer dizer que não precise de dinheiro ou tenha contas para pagar. Mas quero ser o exemplo de que o trabalho também traz muita felicidade. Acho que alcancei sucesso muitas vezes e também já estive longe dele outras tantas. Para mim, sucesso é fazer o que amo com as pessoas que amo.
Qual foi um momento que você pensou que não daria conta na sua vida profissional e o que você aprendeu da experiência?
Ter pessoas em quem confio me ajuda muito. Mas acho que toda semana penso ‘meu Deus, será que sou a pessoa certa para estar nessa cadeira? Vou dar conta disso?’ Os momentos mais intensos que passei foram na época que fui CEO da TGroup, onde liderei um grupo de startups de crescimento acelerado. Foi a primeira vez que trabalhei diretamente com tecnologia senti uma coisa do imponderável e incontrolável. Não sou desenvolvedora, então olhava para um relatório ou dashboard que precisava estar pronto e não conseguia visualizar aquilo.
Passei mais tempo como empreendedora, freela ou atuando em pequenas empresas do que em corporações. Os maiores desafios foram migrar para as grandes companhias. Sou uma pessoa bastante transparente, acho importante darmos nossas opiniões, com jeito, claro. Mas o mundo das grandes corporações é bastante político. Passei 7 anos na Ambev, fui muito feliz e bem sucedida, mas tinham desafios grandes de adaptação. No mundo dos eventos, um projeto de longo prazo dura cerca de 3 meses. Aí cheguei na Ambev e as metas eram anuais, o que achava muito longo por conta das minhas experiências anteriores.
Você falou sobre o seu papel como liderança feminina Como você enxerga o mercado hoje em termos de oportunidades para as mulheres terem sucesso nesse ambiente?
Sem dúvida, tem evoluído bastante, o que não quer dizer que a gente esteja perto do sucesso. Sou uma pessoa otimista, prefiro olhar tudo que conquistamos. Senão, acho que se perde a energia para dar os próximos passos. É importante não estereotipar as lideranças femininas: apesar de, muitas vezes, as mulheres terem características de serem mais acolhedoras, não devemos colocar isso em caixinhas, como se todas fossem mais sensíveis ou qualquer outra coisa.
Sou acolhedora, mas também tenho opiniões super fortes e me posiciono. E fico muito incomodada quando falam que não preciso ter uma postura masculina para vencer a discussão. Não é uma postura masculina, é minha personalidade, e deveria ser olhada sem o viés de gênero. A Better Drinks é um lugar muito acolhedor por e para todos, vivemos em um ambiente bem diferente de como é no restante do mundo, o que me deixa muito orgulhosa do trabalho que está sendo feito.
Recentemente, um amigo me perguntou como era a minha relação com o Dia da Mulher. Respondi que já tive várias posições e perspectivas. Hoje, para mim, é um grande momento celebração porque sinto que tivemos muitas conquistas como mulheres. Por outro lado, é sempre um dia de reflexão. Como mulher branca, que veio de uma classe social alta, com acesso à escola, viagem e a um monte de coisa, muitas vezes me questiono o quanto tenho lugar para falar sobre liderança feminina. Fui bastante privilegiada e sempre tive pessoas – homens e mulheres – que me deram a certeza de que podia ser o que eu quisesse. Ser criado desde cedo por pessoas que te respeitam como ser humano e nunca colocaram um gênero na mesa como limitador, me coloca numa posição muito diferente.
Uma coisa que me incomoda muito é que nunca quero que me olhem e pensem que eu estou lá pelo simples fato de ser mulher. Isso tira a visão que as pessoas têm sobre a sua capacidade, competência e entrega. Vivo sempre nessa dualidade de: como inspirar mulheres a terem certeza de que elas podem estar em todos os lugares, mas que elas não ocupem uma posição que tira o valor da mulher, como se estivéssemos aqui só para cumprir um checklist.
Raio X – Andréa Fernandes
Um fim de semana ideal tem: Meu filho
Um livro: “Onde os Sonhos Acontecem”, de Robert Iger
Uma música favorita: “O Leãozinho”, Caetano Veloso
Um prato preferido: Tenho muitos, sou completamente food lover
Uma mania: Estar sempre acompanhada
Sua melhor qualidade: A paixão, e também o maior defeito