5 Minutos com

5 Minutos com: Artur Faria, CEO da Oxygea

Executivo falou sobre planos da Oxygea para 2024, com aumento dos investimentos e mudanças no programa de aceleração

Artur Faria, CEO da Oxygea
Artur Faria, CEO da Oxygea (Foto: Divulgação/Arte por Startups)

Empreendedor entusiasta e líder eficiente talvez sejam boas formas de começar a descrever Artur Faria. Com ampla experiência no setor financeiro, ele passou 10 dos 18 anos de carreira na Braskem, liderando áreas de planejamento estratégico, inteligência de mercado e fusões e aquisições. E, em paralelo, cofundou a CGC Energia, empresa que projeta, financia, constrói e aluga frações de Usinas Fotovoltaicas (UFVs).

Mas hoje, o foco de Artur é outro. Embora esteja no conselho da CGC e mantenha uma certa proximidade com a gigante industrial, ele é CEO da Oxygea, veículo de corporate venture capital, corporate venture builder e aceleração de startups que atua com liberdade e independência da empresa-mãe com a meta de investir US$ 150 milhões em negócios com foco em sustentabilidade e inovação nos próximos cinco anos.

Em um papo de peito aberto com o Startups, Artur falou sobre a importância de unir os aprendizados da jornada empreendedora com a executiva e estratégias para administrar os desafios da rotina intensa. Além disso, compartilhou suas percepções sobre o mercado de inovação aberta no Brasil e a relevância da Oxygea neste contexto, e quais são os planos do veículo para 2024, com foco no aumento dos investimentos e uma reformulação do programa de aceleração. Veja, a seguir, os melhores momentos da conversa:

Qual é a importância de uma empresa já consolidada e de atuação global criar iniciativas de inovação aberta e relacionamento com startups?

Existem algumas limitações relacionadas ao quanto é possível inovar em uma grande corporação. A organização já tinha uma área muito presente de inovação aberta, mas faltava uma ponta. Com o tempo, percebemos que iniciativas estavam surgindo na companhia e tinham o potencial de se tornarem empresas, mas esbarrávamos em um ambiente que não era muito fértil para que pequenos negócios prosperassem – o que acaba sendo uma realidade das grandes organizações por conta das regras de compliance, conformidade e burocracia.

Ao mesmo tempo, vimos que fazer investimentos em startups pelo estatuto atual da companhia era praticamente impossível, porque qualquer investimento em um CNPJ novo requer aprovação do conselho. Seria levar para o conselho a negociação de investimentos de R$ 1 milhão – R$ 2 milhões, enquanto o board estava lidando com US$ 100 milhões – 200 milhões. Era completamente incompatível.

Dito isso, a necessidade de destravar novos negócios da companhia, fazer o investimento da forma correta e dar um apoio à área de inovação aberta, é muito importante. Apesar da empresa ser extremamente inovadora, faltava essa ponta para que a gente pudesse, de fato, jogar o jogo de uma forma diferente. A Oxygea tem um posicionamento muito singular no ecossistema.

Quais diferenciais a Oxygea traz para este mercado?

Temos uma grande independência da empresa-mãe, o que nos ajuda a entrar onde precisamos no ecossistema. Outro ponto é que por mais que toda grande corporação queira se engajar com o ecossistema de inovação, existe uma assimetria gigantesca em N dimensões, e a Oxygea tem como missão mitigar essas assimetrias.

Além disso, ao invés da gente estar voltado para gerar retorno imediato para a corporação-mãe, estamos direcionados para a geração de valor para a carteira, ou seja, para as startups. Você nunca vai ouvir a gente dizer que fizemos um investimento porque aquela startup ajuda parent-company. Nossa visão não é essa e, por isso, o nosso posicionamento é diferente ao dos outros CVCs do mercado. A gente é pró-startup, pró-ecossistema. Nossa tese de investimentos inclui essa liberdade.

É claro que ter ua grande organização comprando serviços ou fazendo POCs (Provas de Conceito) com essas startups é super interessante. Mas a gente quer fazer isso para ajudar a startup, não porque ela precisa ajudar a empresa-mãe.

Além de executivo, você também é empreendedor. De que forma a sua experiência como founder te ajuda a liderar a Oxygea?

Sempre tive a predisposição para empreender, pois tenho pessoas na família que seguiram esse caminho. Sempre fui um grande questionador de como grandes corporações operam. Por ter trabalhado em banco de investimento e multinacionais, via a necessidade de estruturação, mas também percebia a falta de agilidade e a possibilidade de fazer coisas diferentes.

A CGC Energia surgiu a partir de discussões sobre o segmento de energia solar que tiveram início em 2016 e foram colocadas em prática em 2018. Energia solar era um tema que ganhava força no Brasil, é um mercado que está crescendo exponencialmente e, naquela época, conheci uma pessoa que sabia bastante sobre esse tema. Me interessei e montamos uma empresa em torno disso.

É muito importante desenhar um outro paradigma para a inovação corporativa, entendendo que muita coisa precisa ser reinventada. Quando a pessoa vive a experiência empreendedora, traz um outro tipo de empatia e relacionamento com a vida do founder. O executivo corporativo normalmente não tem essa sensibilidade. Estar nas duas cadeiras – investidor e empreendedor – é muito importante por isso. Ser empreendedor permite que eu conheça melhor as dores de quem está do outro lado da mesa.

Uma coisa que sempre comento comento com os empreendedores do nosso portfólio é que, tão importante quanto saber o que eles querem fazer é saber o que não querem fazer. E isso é parte da experiência. Pensar como atuar no dia a dia, fazer a gestão correta, entre outras questão. Outra coisa que aprendi é a importância de ter muita humildade. Mesmo com a minha bagagem e experiência, fui pisando nesse mercado com muita humildade para acertar o time, desenvolver um senso de liderança fluida e propor fazer algo completamente diferente.

Como é administrar as tarefas que surgem ao assumir esses variados papéis?

Realmente, são muitas coisas acontecendo, mas acho que criei uma estrutura e consigo dar o nível de apoio necessário nas agendas necessárias. Tem que ter muita delegação de tarefas, o que está alinhado com a questão da liderança fluida, dando espaço para as equipes e as pessoas crescerem. A principal função que exerci até hoje foi compor a equipe da forma como fizemos. Era um tabuleiro de xadrez, e fui pensando quais atribuições e competências eram necessárias.

Foi extremamente difícil, mas enriquecedor. São pessoas muito complementares em suas respectivas áreas, o que me dá muita segurança no dia a dia. É um time bastante sênior, com uma estrutura maior do que de muitos fundos de venture capital no Brasil.

O meu foco prioritário é sempre a Oxygea. Na CGC Energia, meu sócio toca o dia-a-dia com a equipe e faço parte do conselho para participar das discussões mais estratégicas – o que toma parte do meu fim de semana. Então, o meu dia-a-dia é equilibrar a Oxygea com a família, unindo liderança fluida, delegação planejada e muita estruturação.

Como a Oxygea está olhando para 2024 e quais são as prioridades para o restante do ano?

Como temos essa independência, estamos sempre nos reinventando. No ano passado, colocamos em prática o programa de aceleração Oxygea Labs, que recebeu mais 320 inscrições. Em 2024, queremos estruturar esse programa de uma forma diferente. Estamos aperfeiçoando o projeto há um tempo com base no que funcionou ou não e como podemos melhorar a iniciativa como um todo. Em 2024, vamos redesenhar esse programa, com um anúncio previsto para o fim do primeiro trimestre.

Será um ano de consolidação de todo o trabalho feito em 2023. Além disso, é o ano em que a gente sacramenta a nossa prática de investimentos. Atualmente, o portfólio da Oxygea – somando o Corporate Venture Building e os aportes – tem sete empresas. Já temos investimentos para ser anunciados neste primeiro semestre e a previsão para o ano é ampliar e intensificar o número de aportes. Assumimos um grande compromisso com o ecossistema – são US$ 150 milhões para investir ao longo de cinco anos – e queremos cumprir essa meta. Colocamos o jato no ar e agora vamos acelerar a velocidade.

Raio X – Artur Faria

Um fim de semana ideal tem: praia

Um livro: “O Sinal e o Ruído”, de Nate Silver

Um artista favorito: Pearl Jam

Prato de comida favorito: Bacalhau

Uma mania: Revisar as coisas muitas vezes

Sua melhor qualidade: Uma mistura de confiança com colaboração