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Bruno Costa é daquelas pessoas que está sempre inventando algo novo. Criativo desde criança, não demorou muito para que tivesse o seu primeiro contato com a programação. Com apenas 7 anos, querendo descobrir como criar jogos de videogame, ficou encantado com a possibilidade de criar alguma coisa apenas com o uso do computador e, desde então, já sabia que trabalharia no ramo.

Ainda na infância, o menino de Marabá (PA) tentou criar uma empresa de videogames. Quando jovem, mudou-se para Belém e abriu um estúdio de games e, na mesma época, entrou para o curso de Computação na Universidade Federal do Pará. Juntou-se com alguns amigos da universidade e lançaram a Sinextra Game Studio. “Na época, éramos super inexperientes, tentando descobrir o mundo dos games e, ao mesmo tempo, o do empreendedorismo. Todo mundo trabalhando por amor, e aprendendo aos trancos e barrancos”, conta Bruno.

Depois, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde estudou no Instituto Militar de Engenharia e, na faculdade, envolveu-se em diversas iniciativas, incluindo um site com soluções para as pessoas se prepararem para o vestibular. De lá, co-fundou a PaperX, uma plataforma educacional que desenvolvia exercícios e avaliações online. A startup chamou a atenção da Descomplica, que adquiriu a empresa em 2018.

Em 2020, Bruno fundou a Abstra como uma ferramenta que usa pouco código (low-code) para empresas criarem aplicativos internos sem precisar contratar desenvolvedores. Dois anos depois, a startup levantou um seed de US$ 2,3 milhões em uma rodada liderada pelo SoftBank, com a participação dos fundos Alexia e Iporanga – a gestora, aliás, já tinha colocado recursos na companhia, fazendo o seu pre-seed.

Em um papo de peito aberto com o Startups, Bruno falou sobre os aprendizados de empreender durante a juventude, a vida pós-captação e as novidades tecnológicas da Abstra para os próximos meses. Veja, a seguir, os melhores momentos da conversa.

Você saiu de casa ainda jovem, aos 18 anos. Por que decidiu mudar de cidade e como foi tomar essa decisão?

Eu estava tocando a Sinextra e a empresa começava a ter os primeiros clientes grandes. Além disso, tinha namorada e a minha vida toda em Belém. Nunca tinha viajado para o Sudeste até então e larguei tudo para seguir um sonho que ainda era meio abstrato, na expectativa de que conseguiria coisas melhores indo para o Sudeste.

Foi uma decisão difícil para a minha família, minha mãe dinheiro emprestado para pagar o cursinho, porque não conseguia me bancar. Acho que foi o primeiro risco que realmente tivemos que tomar como família. Foi um exercício de salto de fé, mas dá para ver que valeu a pena.

Na época, foi um sofrimento enorme, pois no cursinho voltei para o modo pré-vestibular e depois passei mais um ano como militar. Mas foi aprendizado, é importante tentar tirar proveito de uma situação ruim, na medida do possível. Amadureci muito como pessoa e hoje considero que foi uma experiência rica.

Quais aprendizados das experiências anteriores você colocou em prática ao fundar a Abstra?

Tive muitos erros e aprendizados, porque no início eram experiências muito amadoras. O principal foi ter um problema claro a ser resolvido. Quando fundei a Abstra fui isso muito melhor logo no início, mas ao longo tempo descobri que ainda tinha muito espaço para aprimorar.

A outra questão tem a ver com o nível de aceitação ao erro que o mercado tem e o pragmatismo que você pode dar ao negócio. Minhas empresas anteriores operavam praticamente no bootstrapping, apenas com um investimento-anjo pequeno, e o resto pelas próprias pernas. Não era nas cifras de investimento que temos hoje. Atualmente, percebo que se eu tivesse contado com isso desde o início, conseguiria realizar mais experimentos para errar e acertar, testando mais ideias ao longo do tempo. Estar pronto para errar é algo que faz muita diferença.

Quais os diferenciais da Abstra?

O que mais temos é concorrentes, com um aumento de ferramentas no-code/low code, mas cada uma com ângulos diferentes de atuação. Nosso diferencial é estar focado no programador. Tenho a tese de que a programação vai, ao longo do tempo, se tornar mais popular. O trade-off que as ferramentas têm – elas normalmente são muito técnicas ou muito limitadas – acontece porque elas tentam tirar o básico da programação do caminho. Mas programação é uma ferramenta que, apesar de difícil, foi construída para resolver esses problemas.

A programação está se tornando um tópico mais popular no Ensino Médio brasileiro, e em todo o mundo. Todos os países estão olhando para como conseguirão incluir este tópico. Acredito muito no potencial da Abstra de entregar uma ferramenta para o coder – aquele profissional que não é o desenvolvedor experiente, nem o que está no início da carreira.

Se entrego uma boa ferramenta focado neste grupo, consigo entregar o trade-off que ninguém conseguiu ainda, de que a pessoa não vai ter que se limitar ao que o drag-and-drop faz pura e simplesmente, nem ter que passar 10 anos estudando para virar desenvolvedor e fazer o negócio. Estamos apostando muito nisso. A inteligência artificial tem facilitado o processo, porque a barreira de decorar as documentações e ferramentas tem caído por terra, e o que sobra é o conhecimento lógico.

A Abstra recebeu o investimento seed no início de 2021. O que avançou na empresa desde então?

Foi um período de muitos testes. Na época, tínhamos uma tese muito mais no-code do que temos feito hoje de low-code. Focamos no product market fit e agora encontramos o público coder, conseguindo aumentar a tração. Estamos olhando para esse setor com força total. 

Houve uma grande mudança de produto, que era mais drag-and-drop e design-like para um negócio intermediário. Hoje olhamos muito mais para clientes maiores, embora startups também usem a solução. Em termos de receita, as enterprises são um público que tem muito mais valor extraído por usar essa ferramenta e nos permite capturar um volume muito maior, melhorando a precificação.

A conjuntura macroeconômica atual intensifica a montanha-russa de sentimentos. Minha opinião é que empreender é o tipo de coisa que não se faz muito racionalmente, pois quem sobrevive por muitos anos não é necessariamente aquele que calculou o momento exato da pandemia. O momento atual não afeta minha a decisão de empreender, mas torna mais emocionante. Tenho que tomar decisões mais pragmáticas, economizar e provar tração antes de levantar o próximo round – vamos esperar um pouco para fazer o series A.

Quais são os próximos passos da Abstra?

Sempre pesquisei coisas relacionadas à inteligência artificial. Desde a época da graduação esse era um tópico que me encantava, e acompanhei o movimento de inovações em deep learning, processamento de linguagem natural, mesmo sem ser um super especialista. 

No início da Abstra já tinha a visão de que, em algum momento, o processamento de linguagem natural ficaria robusto o suficiente e ser capaz de entregar o nível de automação e inteligência que estamos vendo hoje com o ChatGPT. Mas na época isso ainda era uma visão meio abstrata que a gente pensava em construir do zero ao longo do tempo. Quando percebemos que houve um estalo no mercado e que a tecnologia ficou disponível, vimos que nosso produto era muito propício para surfar essa onda.

Nossa solução é baseada em texto – é o código que você escreve. Se a gente conseguir entregar feedbacks para o usuário de que erros estão acontecendo e como melhorar, ficamos em uma posição muito privilegiada. Nesse contexto, estamos lançando uma funcionalidade de IA.

O produto da Abstra continua muito parecido, mas vamos adicionar um ciclo de interação para o usuário esclarecer dúvidas e erros, integrando esses assistentes de IA de uma maneira inovadora. É uma nova versão que permite entregar muito mais produtividade para o programador.

A inteligência artificial tem levado a produtividade da programação a ordens de grandeza mais altas. Somada ao no-code/low-code, acho que finalmente será possível resolver a questão para softwares serem rápidos e simples de construir – não precisa de um projeto gigantesco e um monte de especialista envolvido. 

Raio X – Bruno Costa

Um fim de semana ideal tem: Amigos e minha esposa

Um livro: “Logicomix”, a biografia de  Bertrand Russell e Ludwig Wittgenstein em quadrinhos

Um prato preferido: Feijoada

Uma coisa com que não vive sem: Computador

Uma mania: Inventar coisas o tempo todo

Sua melhor qualidade: Ser criativo

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