Caio de Santi entrou em contato com o empreendedorismo ainda na infância, quando acompanhava o pai e os avós nos negócios da família. Foi o primeiro gostinho da vida que lhe esperava anos depois. A ponto de com 12 anos já ser capaz de analisar a fábrica do pai e apontar o que precisava ser feito diferente.
Hoje, ele aproveita as aptidões de menino na JustForYou, beautytech que fabrica cosméticos personalizados para cabelo por meio de uma plataforma de inteligência artificial. Caio fundou a startup em 2019 ao lado de Rodrigo Stoqui e Alex Eduardo Domingos e dois anos depois a empresa chegou a R$ 20 milhões em faturamento. No ano passado, a companhia já estava avaliada em mais de R$ 100 milhões após receber um aporte de valor não revelado da Eurofarma.
Em um papo de peito aberto com o Startups, Caio falou sobre sua infância em uma família empreendedora, a criação da JustForYou e os desafios em meio às incertezas do mercado. Veja, a seguir, os melhores momentos da conversa.
De onde vem o lado empreendedor? O Caio criança já se imaginava criando negócios?
Não sei com quantos anos isso começou, mas eu era bem pequeno. Meus avós eram comerciantes e meu pai tinha uma fábrica de móveis. Sempre frequentei os empreendimentos da minha família. Cresci na fábrica do meu pai, olhava tudo o que tinha de errado e com 12 anos já falava ‘um dia vou estar aqui e fazer diferente’.
Fui muito estimulado. Na época que surgiu a internet banda larga pedi para o meu pai e ele disse que eu tinha que criar um projeto para que ele colocasse a internet em casa. Foi quando criei uma empresa de mensageria com um software que disparava listas de e-mail. Hoje isso é spam, mas na época era algo diferenciado. Esse foi meu primeiro empreendimento. Não deu certo, mas conquistei a internet. Mesma coisa quando pedi um gravador de CD, meu pai falou para eu montar um projeto e eu fiz.
Fiquei com essas experiências na cabeça, continuei vivendo no meio do empreendedorismo familiar. Na faculdade, escolhi um curso que na época não era muito bem visto, mas que hoje é uma das principais profissões do mercado, o Design. A graduação me deu uma visão boa para ser empreendedor, porque comecei a pensar nas coisas na forma de projeto. Se vou vender uma cadeira e fabricá-la, tenho que fazer uma peça confortável, bonita e que seja possível de produzir. Essa visão de projeto me deu noção de como funciona uma empresa.
O que te motivou a fundar a JustForYou?
Sempre tive a sede de empreender. Com a graduação em Design, fiz o processo clássico de trabalhar em agência, mas sempre queria mais. Meu primeiro projeto que realmente foi para frente aconteceu há cerca de 16 anos. Era um marketplace que conectava designers e publicitários a pequenas e médias empresas, o que hoje é muito comum, mas na época não existia. Foi a primeira vez que consegui começar, criar e vender e uma empresa. Com o negócio, tive contato não só com a parte de produção de produtos, mas também de calcular margens e administrar uma equipe.
Quando saí desse projeto, fui convidado a participar de um outro que nunca imaginei que fosse fazer na minha vida: fundar uma empresa que ia trazer uma biotecnologia do Canadá para o Brasil e desenvolver o mercado na América Latina. Envolvia linha de produção, desenvolvimento de produto químico, uma parte complexa de vendas. Foi um desafio muito grande fora da minha área de conforto, em que tive que me especializar em finanças e fazer MBA. Mas deu super certo e durou quase 10 anos. Em 2018 fiz um exit e vendi minha participação.
Mas não consegui ficar parado. Fui para os Estados Unidos e em 2018 participei de uma trilha de conhecimento sobre produtos personalizados, em que falaram que o futuro era produzir produtos em larga escala feitos um a um. Fiz um benchmarking nos EUA e descobri algumas empresas de cosméticos começando a crescer na parte de personalização.
Tinha relação com minhas experiências com linha de produção, pesquisa e desenvolvimento de produto químico. Decidi trazer isso para o mercado brasileiro, o quarto maior em cosméticos e o segundo na área de cuidados para cabelo. Em 2019 criei o MVP da JustForYou e desde então crescemos bastante.
Quais são os seus principais desafios como CEO, especialmente considerando o momento atual do mercado?
Nessa época de incertezas, é continuar mantendo o time engajado. A competição de atração de talentos deu uma acalmada devido às ondas de layoff. Antes havia uma dificuldade enorme de atração, agora é muito mais o engajamento. Conseguir manter as pessoas engajadas com um desafio bem estabelecido. Da porta para fora, é aproveitar oportunidades, algo que está cada vez mais difícil. Os próximos 2 anos vão ser uma época de seca, temos que nos manter com calma e pé no chão. Andar com os próprios pés para que quando passem as dificuldades do mercado a gente consiga aproveitar as oportunidades.
No meu dia a dia, pratico tênis pela manhã, que é um esporte muito psicológico. Você contra você, embora muita gente ache que é você contra seu adversário. Procuro ter essa experiência logo cedo porque consigo entender a minha mente, os desafios que eu tenho comigo mesmo, se estou ansioso e trabalhar isso logo. Depois, chego na empresa e sigo as agendas pré-definidas. Costumo intercalar com algumas áreas, deixo espaços reservados para o pessoal e momentos livres. É uma rotina regrada, mas procuro deixar que a empresa consiga me usar. Tenho que me adaptar mais à companhia do que ela a mim. Procuro entender as necessidades da semana e resolver um grande ponto por dia.
Como você enxerga o seu futuro profissional? Pensa em fazer uma saída e empreender novamente?
Aprendi que existem ciclos. Na outra empresa em que trabalhei, o negócio era praticamente um filho, o que não acho saudável. A companhia tem um ciclo, e o principal desafio é aproveitar as oportunidades com paciência. Busco uma saída, mas na hora correta. Não sei dizer meu futuro profissional, mas vou continuar empreendendo. Não sei o tamanho do impacto. Isso só vai aparecer na hora certa, estou focado no presente. Gosto de resolver problemas. Pegar desafios e fazer acontecer, criar algo diferente. Mudar o mundo não significa transformar tudo o que há nele, pode ser algo pequeno.
Raio X – Caio de Santi
Um fim de semana ideal tem: um lugar tranquilo com meus filhos e minha esposa
Um livro: “Coragem” e “Confiança”, do Osho. Para a vida ou empreendedorismo, esses livros são essenciais
Uma música favorita: gosto bastante de Pink Floyd
Um prato preferido: filé à parmegiana
Uma mania: nunca quero usar PowerPoint, só lousa
Sua melhor qualidade: resiliência