
Como parte de uma família ligada ao setor bancário, Carlos Simonsen sempre teve interesse em seguir carreira como investidor. “É um negócio que nos permite ser pagos para aprender”, brinca, em conversa com o Startups. “Fazer parte do ecossistema de é algo fascinante, especialmente no Brasil, onde o mercado de investimento privado ainda está em fase de crescimento.”
Ex-aluno da Escola de Engenharia da Universidade de Columbia e bacharel em Engenharia Industrial pela École des Mines de Paris, na França, o executivo acumula mais de dez anos de experiência em private equity e banca de investimento. Ao longo da carreira, passou por empresas como Itaú BBA, Anheuser-Busch InBev, e Avant, além de ter sido senior partner da CapSur Capital e Corton Capital.
Atualmente, Carlos é cofundador e managing partner da Upload Ventures, spin-off do fundo early stage do SoftBank na América Latina. Hoje, a Upload também investe em startups no growth stage. “Meu background em operação agrega valor às startups investidas pela Upload Ventures, ajudando-as a ter mais disciplina financeira, aprimorar a governança e se preparar para a próxima fase de crescimento”, avalia.
Em um papo de peito aberto com o Startups, Carlos analisou o atual cenário do mercado de venture capital na América Latina, destacando a mudança de ânimo em relação aos investimentos privados. Ele também refletiu sobre os erros e aprendizados de sua trajetória como investidor e compartilhou as prioridades da Upload Ventures para 2025.
Veja, a seguir, os melhores momentos da conversa:
Como você avalia o mercado atual de venture capital na América Latina? E como a Upload tem navegado nesse contexto?
Não vou entrar em questões políticas, mas após as eleições americanas observamos uma mudança significativa no ânimo em relação ao investimento privado, algo que não via desde 2021, quando experimentamos o período de ‘embriaguez’ provocado pelo excesso de liquidez.
Nos Estados Unidos, o otimismo com os negócios aumentou consideravelmente, o Oriente Médio também está em alta, enquanto a China se tornou um mercado menos atrativo para investimentos, o que torna a América Latina ainda mais interessante. Vale destacar que a participação do investimento privado caiu de 3% do mercado total para 1,8% no ano passado, mas a expectativa é retornar aos níveis normais de 3%. Estamos bastante otimistas e trabalhando intensamente desde o final do ano passado.
Todos os nossos investimentos são em empresas com potencial de escalabilidade além do Brasil. Isso se deve à natureza desses negócios e ao fato de que o mercado endereçável pode ser global, sem a necessidade de se limitar ao Brasil ou à América Latina.
Trabalhar com startups exige uma mentalidade ágil e adaptável. Como você se mantém atualizado e preparado para mudanças no mercado?
Olha, eu não tomo ansiolítico, mas talvez devesse, porque são muitas ideias o tempo todo. Todo dia, estamos conversando com alguém que pensa de forma diferente, que traz uma nova proposta. Às vezes, a ideia é ótima, mas não vai funcionar. De vez em quando, encontramos um negócio realmente especial e sabemos que precisamos agir rápido.
Um exemplo disso foi o Nubank, anos atrás. Houve uma época em que criar um banco 100% digital seria considerado maluquice. Por isso, é importante ter humildade intelectual para entender que, embora algumas coisas não pareçam evidentes no momento, com o tempo, à medida que o campo regulatório melhora e as gerações mudam, elas podem fazer total sentido.
Hoje, se você olhar para a internet, a computação em nuvem e agora o 5G com inteligência artificial, temos uma combinação perfeita para uma nova onda de revolução, muito mais rápida do que a anterior.
Você pode compartilhar erros ou aprendizados que enfrentou como investidor?
Os erros que cometemos, na minha opinião, foram relacionados a investir em fundadores que não eram técnicos. Para nós, como fundo de tecnologia, é essencial ter investimentos em pessoas que realmente entendem de tecnologia. Os erros de avaliação ocorreram justamente quando acreditamos que, ao investir em um fundador com experiência em consultoria ou vindo do setor bancário, ele seria capaz de fazer o negócio acontecer – o que nem sempre se confirma.
Hoje, temos uma rede de relacionamentos muito forte com o ecossistema. Entramos no momento em que o mercado realmente se aqueceu, com um grande fluxo de negócios toda semana. Cometemos erros de avaliação ao investir em pessoas não técnicas, e acabamos pagando o preço por isso. Claro, também tivemos algumas sortes, mas investir em fundadores técnicos sempre se mostrou uma boa estratégia para nós. Além disso, ajudamos esses fundadores a ter a melhor base de clientes possível, o que impulsionou a expansão internacional e trouxe mais clientes globais para os negócios.
De que forma a Upload Ventures tem se beneficiado dos avanços tecnológicos, e aproveitado essas inovações para melhorar a tomada de decisão?
A Upload Ventures conta com uma ferramenta de IA proprietária que desenvolvemos internamente. Ela conecta todas as informações que coletamos, possibilitando uma tomada de decisão mais embasada sobre investir ou não em uma startup. Em resumo, a IA funciona para nós como um ‘devorador de dados’, sendo altamente eficiente na análise de grandes volumes de dados históricos. Quanto mais completa e sofisticada for a base de dados, mais precisa será a resposta da IA.
Graças a isso, hoje, em 2025, temos uma compreensão muito mais profunda sobre as nossas empresas do que tínhamos quatro ou cinco anos atrás, quando começamos. Nossos memorandos de investimento, agora, são muito mais complexos e detalhados, com uma abordagem mais assertiva em relação aos riscos e às oportunidades envolvidas.
Quais as prioridades da Upload Ventures para 2025?
Acho que o mercado melhorou muito desde 2022, e acredito que teremos um 2025 muito mais agitado do que 2023 ou 2024.
Precisamos investir o máximo possível em inteligência artificial (IA), especialmente em fundadores fora da curva que compreendem que a tecnologia de IA veio para ficar. Ao contrário do que está acontecendo na Europa, onde a regulação excessiva de IA está comprometendo seu próprio futuro, o Brasil ainda não segue esse caminho. Devemos aproveitar ao máximo essa tecnologia para desbloquear o maior valor possível para o consumidor final, pois isso melhora a vida de muitas pessoas.
Portanto, a IA é uma prioridade, especialmente quando integrada na cadeia de valor. Existem diversas áreas em que a IA pode gerar impacto, como healthcare e dados para fintechs. Embora, como tecnologia, não vejamos muitos ativos de IA no Brasil, a capacitação em IA (ou, AI Enablement, em inglês) dentro de grandes corporações está promovendo uma revolução significativa.
O principal para nós é priorizar a qualidade. Não estou preocupado em bater uma meta de número, como muitos fundos fazem. O que importa é atingir uma meta de qualidade. A barra para nossos investimentos tem que ser sempre muito alta. Os erros que cometemos no passado foram justamente por investir em negócios só porque todo mundo estava fazendo o mesmo. Felizmente, erramos pouco, tanto que estamos aqui. E, na história recente, acertamos muito.
Raio X – Carlos Simonsen
Um fim de semana ideal tem… Minha Família
Um livro: “The Age of AI: And Our Human Future”, de Daniel P. Huttenlocher, Eric Schmidt e Henry Kissinger
Um filme: “O apartamento”, dirigido por Asghar Farhadi
Uma música: 80s rock
Uma mania: Ler
Sua melhor qualidade: Resiliência