Mesmo sem saber, o espírito de empreendedora já fazia parte da vida de Carolina Kia. “Sempre fui muito inquieta e estava sempre criando coisas, é algo que praticamente nasceu comigo”, conta, em conversa com o Startups. Hoje, ela aproveita as aptidões de menina para conduzir a estratégia da bud, plataforma que auxilia as empresas a modernizar e otimizar a gestão de suas equipes para tornar que as pessoas trabalhem de forma melhor e mais saudável.
A ideia surgiu dentro da weme, uma consultoria especializada em design e tecnologia que Carolina fundou ao lado de Maurício Bueno e Wagner Foschini, e que hoje atende mais de 200 clientes no Brasil, incluindo marcas como BTG, Visa, Alelo, Elo, B3, Pfizer, Unilever, Mars, Natura e Rappi. Fundada em 2021, a bud levantou uma rodada pré-seed de R$ 1 milhão com a Bossanova Investimentos e investidores-anjo como Andrey Izyumov (ex-Goldman Sachs) e Robledo Ribeiro (HostGator LatAm).
Antes de criar o próprio negócio, Carolina atuou por mais de cinco anos na PwC, onde desenvolveu uma sólida base em consultoria e alimentou ainda mais a veia empreendedora. Além de envolver-se em organizações sem fins lucrativos como Rotary Internacional, Capitalismo Consciente, Enactus e Yunus&Youth, ela se tornou representante do Women’s Impact Network da Singularity University e, hoje, lidera a aceleração de iniciativas de transformação digital sustentável de grandes marcas, colaborando para que a gestão de equipes tenha um modelo ágil, mas que priorize a saúde mental de profissionais de alta performance.
Em um papo de peito aberto com o Startups, Carolina falou sobre o início de sua jornada empreendedora, os principais desafios enfrentados e as perspectivas da bud para 2024, além de refletir sobre como gosta de passar o tempo livre e trazer insights sobre liderança e inovação. Veja, a seguir, os melhores momentos da conversa:
Como foi se descobrir empreendedora e o que te levou ao mundo da tecnologia e da inovação?
Nunca tinha pensado em empreender de forma muito estruturada, mas hoje, olhando para trás, vejo que estava sempre criando coisas, como um site para compartilhar coisas boas, um jogo de escape, mistérios e enigmas e até uma plataforma de crowdfunding de causas animais. Sempre fui muito inquieta; é algo que praticamente nasceu comigo, talvez muito inspirado pelos meus pais, que sempre empreenderam. Acho que empreender não é necessariamente criar uma nova empresa, mas estar em um lugar, inquieta, pensando em coisas que podem ser melhoradas – e isso eu fiz muito. Então, quando olho para trás me vejo empreendedora desde sempre.
Na PwC, identifiquei com alguns colegas a oportunidade de criar um centro de negócios de impacto social, conectando grandes organizações com iniciativas de impacto. Então, já estava empreendendo mesmo em uma gigante do setor, identificando a oportunidade para fazer algo novo, independentemente se é lançar uma nova empresa ou uma iniciativa dentro de uma organização.
Quando estava na PwC, sentia que tinha algo acontecendo no mundo que estava muito acelerado, era como se estivesse em um trem e visse as coisas passando rapidamente na janela, e eu queria viver o que acontecia do lado de fora. Foi quando conheci o Maurício e o Wagner, que hoje são meus sócios. A weme estava nascendo como consultoria de design e tecnologia e eles precisavam de uma pessoa que conhecesse sobre grandes empresas – justamente o que eu vinha fazendo desde então. Fundamos a companhia em 2017 com o objetivo de apoiar grandes organizações a adotarem metodologias mais inovadoras, centradas nas pessoas e de forma mais colaborativa para resolver seus problemas.
Quais foram os principais desafios dessa jornada?
Houve um milhão de desafios, pois empreender é uma montanha-russa gigante. O principal é, como líder, ter que diariamente tomar decisões difíceis que nem sempre vão agradar a todos, mas que são importantes quando se tem a visão do todo. Isso para mim é muito complicado, e fiz muita terapia para entender. Meu perfil é muito político; quero sempre agradar a todas as pessoas ao redor.
Descobri que empreender é ter coragem para tomar algumas decisões difíceis e dar o melhor no contexto que você tem para fazer elas acontecerem. Acho que manter uma visão gentil e generosa mesmo em situações desafiadoras é importante. Acredito que cada um oferece o que tem, e procuro oferecer o que tenho de melhor e mais bonito para as pessoas com quem convivo.
Crescer dá um trabalhão. Empresas menores têm mais velocidade, agilidade e são muito mais adaptáveis – o que tem um lado bom, mas um outro muito desafiador. Como ser humano, pode ser difícil lidar com mudança e instabilidade. Uma empresa maior, um pouco mais lenta na tomada de decisão, pode ser mais confortável em alguns aspectos. Na weme, a gente está sempre se adaptando, o que pode ser bem desconfortável, mas sou apaixonada pelo que faço e não consigo me imaginar fazendo outra coisa.
Quais as prioridades da bud para 2024? Pretendem captar?
A bud nasceu dentro da weme ao percebermos que, em termos de bem-estar e saúde mental nas organizações, infelizmente, as pessoas estão doentes, com estresse, ansiedade, burnout, entre outros problemas, e as empresas não sabem como resolver esse desafio. A bud surge da necessidade de apoiar as companhias a melhorarem o bem-estar de seus times por meio de práticas de gestão para que eles sejam mais felizes e produtivos.
Atualmente, o principal desafio é seguir crescendo. Uma startup em seus primeiros anos consegue crescer bastante e nós continuamos com esse gás para manter o ritmo de expansão. Este ano, estamos focados no Brasil e na América Latina para ajudar os líderes a adotarem metodologias ágeis e serem mais produtivos com os seus times. Muitos de nossos clientes têm unidades de negócio no Brasil, mas também em países como Argentina, México e Colômbia.
Alcançamos o breakeven em março de 2023, e foi um grande marco conseguir tornar a nossa startup saudável em menos de dois anos. Com o breakeven e o contexto do mercado, vimos não é necessário captar neste momento. Alguns fundos nos procuram e mantenho um bom relacionamento, mas este ano não pretendemos abrir uma rodada. Estamos em um ritmo de crescimento super estável e saudável, sem necessidade de buscar investimento externo agora.
Quem é a Carolina Kia fora do trabalho? O que você gosta de fazer e como passa o tempo livre?
Sou uma pessoa que gosta de viajar e tem um olhar curioso sobre as coisas que está vivendo. Ano passado, vivi de forma nômade. Fiquei seis meses na Europa, quando estávamos validando uma tese de expansão para lá, e segundo semestre fiquei no Nordeste do Brasil viajando dois mil quilômetros de carro.
Este ano, me mudei para São Paulo, porque minha vida pessoal acaba se misturando muito com a profissional. Empreender é passar 24 horas por dia pensando na sua empresa, que é como seu filho. Acho que a gente é uma coisa só. A Kia que está aqui falando com o Startups é a mesma que é filha, noiva, prima e amiga. Eu me misturo completamente.
Medito todos os dias, toco piano, sou apaixonada por jogos de tabuleiro – tenho algumas dezenas em casa e gosto muito – e tenho um espírito meio gamer. Prefiro sentar em uma mesa com um jogo de tabuleiro no meio ao invés de sair para um bar e ficar só jogando conversa fora.
Raio X – Carolina Kia
Um fim de semana ideal tem… uma ida de bicicleta ao Parque Ibirapuera
Um livro: “How to work with (almost) everyone”, de Michael Bungay Stanier
Uma música ou artista favorito: “Elephant Gun”, de Beirut
Algo com que não vivo sem: Tapete de yoga
Um prato preferido: Cuscuz nordestino com queijo coalho
Uma mania: Só uso uma aba por vez no computador, raramente tem várias abertas ao mesmo tempo
Sua melhor qualidade: Presença