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Desde pequena, Carolina Strobel gosta de resolver problemas. A curiosidade e as aptidões de menina, somadas a uma sede insaciável por conhecimento, a levaram ao curso de Direito da Universidade Federal do Paraná. Entre um mestrado na Inglaterra e a aprovação em um concurso público de volta ao Brasil, ela construía o que para muitos seria uma carreira de sucesso. E talvez até fosse.

No entanto, Carol queria mais. Não necessariamente mais dinheiro ou mais títulos, mas mais paixão. “Queria trabalhar em algo que me trouxesse paixão, embora ainda não soubesse qual era. Queria procurar e fui buscando oportunidades”, conta. Foi quando decidiu mudar-se para a cidade de São Paulo e concorrer a uma vaga de emprego na Intel, na área de venture capital, private equity e M&A.

Mesmo sem experiência na área, ganhou a oportunidade de aprender na prática ao lado de grandes lideranças do ecossistema global de inovação. “Sou o resultado dos investimentos que as pessoas fizeram em mim. Acho que muito por isso, hoje sou uma investidora”, afirma. Atualmente, ela é partner da Antler, fundo global de venture capital early stage, e COO da gestora Redpoint eventures, além de board member e conselheira de companhias como Sinqia, Softplan e Anjos do Brasil.

Em um papo de peito aberto com o Startups, Carolina refletiu sobre sua trajetória no venture capital, os aprendizados colhidos ao longo dos anos e suas perspectivas sobre o mercado. Veja, a seguir, os melhores momentos da conversa:

O que a Carol criança pensava em ser quando crescesse?

Sempre gostei de resolver problemas, desde pequena. Decidi fazer Direito por dois motivos, um deles foi porque sou de Curitiba e estudava em um colégio que ficava do outro lado da Universidade Federal do Paraná, um prédio muito bonito. As colunas, o edifício antigo, tudo aquilo me fascinava. Além disso, com o tempo, fui entendendo que as minhas vocações e habilidades eram muito importantes no processo de solução de problemas. A capacidade de olhar para determinada questão e pensar a solução, ou fazer o encontro das águas entre duas pessoas que querem encontrar a solução para algo e achar o lugar perfeito em que ninguém ganha mais do que o outro. Fiz faculdade de Direito muito com essa visão, percebendo que eu consigo ser instrumental para ajudar as pessoas.

Fiz um mestrado na Inglaterra, na área internacional, e quando voltei ao Brasil queria ampliar meus horizontes, sair um pouco da caixa. Já estava fazendo o que eu fazia há muito tempo e sempre fui muito curiosa, gosto de conhecer coisas diferentes e aprender mais. Sempre fui insaciável em termos de aprendizagem, educação e conhecimento.

O que te move?

Antes de trabalhar com venture capital, atuei em um banco e cheguei a passar em um concurso público, mas optei por não seguir – o que deixou minha mãe muito chateada. Ela ficou preocupada, porque para ela o concurso público era a certeza de que a filha teria sucesso. Mas para mim sucesso não era passar no concurso público, por mais doído que isso fosse para a minha mãe, que me sustentou sozinha trabalhando como assistente social do Estado. Ela enxergou aquilo como se eu estivesse abrindo mão de uma segurança para a minha vida. Mas na verdade eu não estava abrindo mão da minha felicidade.

Para mim, sucesso não significa necessariamente ter dinheiro para pagar as minhas contas. Claro que quero ter dinheiro para pagar as minhas contas, mas eu quero ser feliz também. Trabalhar em algo que me traga paixão. E, sem sombra de dúvida, é o que eu faço hoje, e o que fiz a minha vida inteira: fiquei em busca dessa paixão e tudo me construiu para chegar onde eu estou agora. Queria seguir minha paixão, embora ainda não soubesse qual era. Queria procurar e fui buscando oportunidades.

Como você caiu no mundo do venture capital?

Tomei a decisão de sair de Curitiba e ir para uma cidade onde eu tivesse outras oportunidades. Então, fui para São Paulo fazer duas entrevistas: uma em um escritório de advocacia e outra na Intel, que me conquistou imediatamente.

Me perguntaram o que eu conhecia de venture capital, private equity e M&A, e respondi que nada. Falei a verdade: “sou uma advogada formada pela Universidade Federal do Paraná, que estudou com bolsa de estudos a minha vida inteira – no colégio, no mestrado e depois fiz a faculdade pública – e sempre tive que ser a melhor aluna porque minha família não tinha condições de pagar por tudo isso. Corri atrás de tudo o que precisava e achei maneiras de chegar no resultado final.  Sou curiosa, dedicada, esforçada e responsável. É isso que eu sou. Nunca trabalhei com VC, mas estou disposta a aprender se você quiser investir em mim.”

Eu sou o resultado dos investimentos que as pessoas fizeram em mim. Acho que muito por isso, hoje sou uma investidora. Os investimentos que fizeram em mim incluíram a oportunidade de morar no Vale do Silício, onde aprendi muito. Entendi que o Vale é uma imensa bolha em todos os sentidos, inclusive das pessoas que têm acesso à capital. É um boys club branco, hétero, de famílias que são investidoras por gerações.  É outro mundo, e pude entender como as decisões de investimento globais eram feitas, acompanhando os investidores mais famosos do mundo. E foi muito bacana trabalhar no backoffice disso tudo, entender a indústria dos advogados, do marketing, dos fundos.

Depois, voltei para o Brasil – sempre tive essa intenção. As pessoas me perguntavam muito, “por que você não fica lá fora? Seja na Inglaterra ou nos EUA”. Para mim, sempre ficou muito claro que de nada adianta eu me preparar, tentar ser o melhor possível, se não puder trazer esse conhecimento para o meu país. Que é o país que eu amo, que quero morar e que quero que seja desenvolvido. Nunca foi a minha intenção ficar fora. 

Como você está enxergando o momento atual do mercado de venture capital?

É um momento muito pé no chão. O venture capital é cíclico, e já passei por alguns. Foram dois ciclos da Intel Capital, agora estou passando por um ciclo que ainda é da Redpoint, e começando um novo na Antler. É um privilégio passar por momentos distintos e aprender com eles, errando e acertando. Isso é importante para a formação de um investidor. Tem um ditado no Vale que diz que demora 50 milhões de dólares para você construir um bom investidor – e talvez isso seja verdade. Você tem que errar para aprender a acertar mais.

Agora, acho que é um momento de otimismo, mas com cautela.  Pensar em units economics,  pragmatismo e monetização. Não dá pra imaginar que a gente vai ter dinheiro de growth tão à disposição como a gente tinha antes. Inclusive no early stage, por mais que falem que dinheiro de growth é só nos estágios mais avançados, começa no early stage. O investimento serve para fazer crescer e não para fazer com que a empresa sobreviva. É claro que no início tem um investimento para a validação e início da tração, mas é uma dose cuidadosa. É a mesma coisa que medicamento: remédio tem que ser a dose certa, se não vira veneno. E a gente não pode envenenar as startups do início.

Recentemente, você fez um post no LinkedIn contando um pouco de suas conquistas recentes profissional e pessoalmente. Incluindo a da venda da Pismo, de investimentos pela Antler, entre outros. Fazer parte  dessas histórias de sucesso aumenta o peso  da responsabilidade?

Sim. Esses dias, participei de uma conversa com um grupo  de investidores que são meus amigos, quase como se fosse uma terapia  em grupo.  Conversamos a respeito das coisas que a gente fez. E eu me sinto assim  obrigada a ter sucesso, o que é muito perigoso. Porque o sucesso é ótimo,  mas é construído com muitos anos, em cima de várias fontes diferentes.  O sucesso não é individual, é em grupo – especialmente no venture capital. Além disso, é um sucesso  que parece te trazer  a obrigação de sempre ter  resultados financeiros, e nem sempre a gente vai ter.  O que a gente sempre  quer ter no venture é um sucesso  que pague o fundo, que dê retorno  para os investidores e que traga  mais fundadores para esse processo. Se não, não funciona. Então, sim, traz mais responsabilidade.

Sempre tem uma situação bastante feminina de a gente não poder mostrar muito dos nossos sucessos.  Fomos criadas com limitações de que a gente não pode se autodeclarar pessoas de sucesso.  Isso é muito complicado, porque dificulta que a gente traga novas mulheres para esse mercado. As pessoas têm que ver a possibilidade de sucesso. É um trabalho  muito forte que tem que ser feito com as mulheres  de maneira geral para que a gente fale o que fez, conseguiu e conquistou. Eu fiz sendo mãe, trabalhando em outras coisas e durante longos anos, não foi de um dia para o outro, mas há resultados acontecendo. Participar  disso tudo é muito emocionante, é emocionante  ver o resultado dos ciclos  se fechando.

Raio X – Carolina Strobel

Um fim de semana ideal tem… Família e amigos

Um livro: “Outlive”, de Peter Attia

Algo com que não vivo sem: Amor, paixão

Uma música ou artista favorito: Adoro Titãs e Ella Fitzgerald

Um prato preferido: Churrasco mal passado

Uma mania: Acredito na construção de um futuro melhor e com mais criação de valor e abundância

Sua melhor qualidade: Sou uma boa negociadora; tenho uma habilidade grande de negociação  e diplomacia

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