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Fabian Valverde é um dos nomes com maior experiência no mercado brasileiro de startups. Com mais de 18 anos de experiência em projetos digitais, foi executivo da Spring Wireless, empresa de sistemas móveis para empresas que em 2002, quando o próprio termo “startup” ainda nem era utilizado no país, atraiu a Intel Capital depois de ter levantado dinheiro com nomes como o SoftBank.

Depois de passar por grandes empresas como SAP, UNEAR (adquirida pela Mutant) e até chegar na sua mais recente empreitada. Em operação desde 2019, a fintech Paketá é especializada na concessão e gestão de crédito para colaboradores e soma mais de R$ 50 milhões em investimentos feitos por Kinea Ventures, gestora do fundo de corporate venture capital do Itaú Unibanco, Shift Capital, IOB e 4Z.

Em um papo de peito aberto com o Startups, Fabian falou sobre a importância de levantar dinheiro com consciência, suas perspectivas de mercado, o crescimento da Paketá no último ano e os planos da fintech para 2024, com ganho de escala, entrada de novos parceiros estratégicos e perspectivas de captação. Veja, a seguir, os melhores momentos da conversa:

Durante a sua participação no podcast MVP, você comentou que houve um momento no início da Paketá em que vocês receberam uma oferta para captar muito mais do que pretendiam, mas optaram por não aceitar o cheque adicional. O que motivou essa decisão?

Acredito muito que você precisa ter muita clareza antes de captar dinheiro. E dinheiro por dinheiro, no fim das contas, não resolve. Dinheiro excessivo traz mais transtornos do que efetivamente aceleração. Claro, isso depende do momento e do contexto da companhia. A nossa empresa ainda é uma companhia relativamente jovem, opera desde agosto de 2019. E quando acenaram para nós com aquele montante de capital, ainda não tínhamos os caminhos muito claros para gerar a escala.

Naturalmente, se você pega dinheiro, vem uma conta junto – pode ser pressão, diversificação, necessidade de crescimento mais acelerado, etc. No mercado da Paketá, temos que tomar muito cuidado com níveis de crescimento acelerados, porque a gente está emprestando dinheiro e há ciclos de crédito. Não basta simplesmente pegar muito capital e crescer, crescer, crescer, porque se eventualmente você erra no meio do caminho, pode ser um negócio destrutivo.

Mas isso não significa que em algum momento, não se deve fazer rodadas maiores. Acho que tudo tem o seu tempo. Naquele momento, a gente estava operando há apenas dois anos. Queríamos muito menos dinheiro do que estava sendo oferecido e não havia necessidade de estender a rodada, porque assim a gente conseguiria garantir que a empresa crescesse de uma maneira mais saudável, sem grandes loucuras.

Em janeiro de 2023 vocês anunciaram uma extensão da série A, captando mais R$ 16 milhões. O que avançou na empresa desde então?

Muita coisa. Primeiro, a gente teve bastante sucesso no licenciamento da plataforma. Hoje, operamos em duas unidades – a Paketá, que atua com os empréstimos e crédito consignado, e a Base 39, unidade de infraestrutura para crédito, que a gente licencia a para que terceiros possam criar o seu próprio projeto de consignado. A gente licencia a plataforma para bancos, empresas de folha de pagamento, empresas de software de RH, empresas de benefícios flexíveis, entre outros.

Em 2023 tivemos muito sucesso para ampliar esse ecossistema. Atualmente, temos cerca de 27 milhões de funcionários de empresas que têm contato com alguns dos nossos clientes que licenciaram a plataforma. Então foi um movimento bastante relevante no último ano, que foi possível porque a gente fez essa rodada, que nos permitiu direcionar os investimentos e criar o que a gente chama de ecossistema de crédito consignado.

Dificilmente alguém que vai começar alguma coisa no mercado de crédito consignado não lembraria da Paketá e da Base 39. Acho que essa foi a maior conquista alcançada.

Quais as prioridades para 2024 e o que podemos esperar da Paketá ao longo do ano?

Esse é o ano de escala. A Paketá origina cerca de R$ 300 milhões por ano e em 2024 a gente tem que acelerar esse processo, fazer mais empréstimos, seja com a nossa marca própria ou com a marca dos nossos clientes que licenciam a plataforma.

Muitos clientes aguardavam a virada de ano para lançar suas iniciativas, então vocês provavelmente vão ouvir falar bastante de algumas marcas super relevantes que estão lançando crédito consignado com a Paketá. Será um ano de bastante colheita, de garantir que todo o esforço que a gente fez para as integrações, de fato vai repercutir em originação e levar crédito para a maior quantidade de funcionários CLTs do Brasil.

Neste processo de escala, estão bem capitalizados com essa última rodada ou estão olhando para novas captações?

Estamos com algumas negociações em aberto. Há dois players estratégicos bem relevantes que estão próximos, discutindo os termos. Mas também temos a possibilidade de uma rodada de captação já iminente.

A gente gosta muito de alinhar equity e players estratégicos. Foi assim quando trouxemos o Itaú via Kinea Ventures em 2021, e foi assim quando trouxemos a IOB em 2022. Em 2024, provavelmente vamos seguir esse mesmo caminho. Estamos desenhando alguns projetos grandes de crédito consignado com players estratégicos, e acaba sendo natural o convite de aliar com outros empresários e usar o equity para construir algo robusto no cenário local.

Você tem uma longa jornada no mercado de startups e tecnologia. Com base na sua trajetória, já tendo passado por momentos de crise e oportunidades, como você enxerga o mercado atual?

Enxergo como um ponto que aumenta o tamanho do funil de filtro. Passa a ser mais difícil o sucesso e demanda um pouco mais de persistência e resiliência da turma como um todo. Os últimos dois anos trouxeram essa mensagem. 

Por outro lado, aqueles que estão construindo projetos que têm foco no médio e longo prazo, certamente eles passam. É só mais um ciclo. Quem empreende há muito tempo está super acostumado a conviver com ciclos. Sejam ciclos econômicos, políticos, ciclos de investimento ou até mesmo ciclos de tecnologia, quando acaba ocorrendo alguma ruptura. Há 10 anos, acho que seria impensável constituir a Paketá do jeito que fizemos: uma empresa super leve, com alto investimento em tecnologia, porém sem precisar comprar servidores, sem ter que comprar coisas mais físicas, tudo está na nuvem, o que acaba facilitando bastante.

Os últimos três, quatro anos foram marcados por uma facilidade de se gerar negócio, de colocar as ideias em prática. Os últimos dois anos foram mais difíceis do ponto de vista de captação de dinheiro. Por outro lado, o mercado está aí, existem várias oportunidades, e quem tem a mentalidade de se financiar com cliente, tocando o projeto e vendendo, sempre vai ter espaço.

Quanto o seu lado empreendedor toma da sua vida e como você faz para conciliar as responsabilidades?

Toma 100%. Não existe separação entre a pessoa física e jurídica, é o tempo inteiro. Já é algo natural, até mesmo com a família. Minha esposa também tem o negócio dela e os meus filhos, apesar de serem pequenos, já entendem a dinâmica, então acho que é super ok.

Não consigo me imaginar do outro lado – e não há nenhum demérito nisso. É só uma questão de modelo mental mesmo, seria difícil acontecer de eu trabalhar em uma grande corporação, a não ser que fosse por um período situacional, como já aconteceu em momentos em que acabei vendendo outras companhias e durante determinado período trabalhei na empresa que havia adquirido o negócio.

No meu caso, empreender foi algo natural. Talvez a vontade de criar coisas novas e de usar a tecnologia e o conhecimento em negócios para gerar algo diferente acabou me levando ao empreendedorismo. Mas não foi algo “quero empreender, então vou fazer isso”. Foi mais na linha de querer fazer coisas diferentes e acabar empreendendo por conta disso.

Como você enxerga o seu futuro profissional? Pensa em fazer uma saída e empreender novamente?

Não. O momento da Paketá ainda é de construção. A empresa tem apenas quatro anos, e uma das coisas que aprendi ao longo da minha jornada é que não se constrói nada relevante e perene em menos de 10 anos. A gente está nesse processo ainda de construção e todo foco e atenção está nisso.

Naturalmente, pode ter algum evento de exit, alguma saída, mas não acredito que seja algo “saiu e terminou”. A saída deveria acontecer se faz sentido juntar-se com algum outro player para acelerar o processo dessa construção de 10 anos. Algo que faça a gente crescer três anos em um ou alguma coisa do tipo. Aí sim, pode acontecer.

Mas não há a ansiedade de fazer a saída. Talvez porque já tive outros negócios, outros exits e já tive a chance de começar uma empresa do zero, e depois juntar essa empresa com uma outra. Então, não tem essa ansiedade. Vejo muita gente ansioso em fazer a saída de suas empresas, principalmente pela questão do dinheiro. Então, respondendo a pergunta, do meu lado, não, e estou super tranquilo em relação a isso.

Que conselho você dá para a nova safra de empreendedores que está chegando agora no mercado?

Busque o simples. Às vezes, a turma acaba complicando demais onde não precisa. Tenha uma capacidade de execução muito grande e tente construir um time forte, que você possa olhar para o lado e confiar nos colegas. Acho que com essas três coisas – simplicidade, execução e time forte – dá para fazer grandes entregas.

Raio X – Fabian Valverde

Um fim de semana ideal tem: família

Um livro: “Sapiens – Uma Breve História da Humanidade”, de Yuval Harari

Uma música ou artista favorito: “Viva La Vida”, de Coldplay

Prato de comida: Carne

Uma mania: Combinou, está combinado

Sua melhor qualidade: Confiabilidade

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