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Gonzalo Parejo encontrou no Brasil o ambiente ideal para colocar em prática toda ambição e a inquietude que estavam guardadas desde muito antes. Com mais de 13 anos de experiência em segmentos como insurtech, logtech e fintech, o empreendedor tornou-se expert em tirar ideias do papel e escalar times na América Latina e na Europa.

Ele ingressou no mundo das empresas de alto crescimento em 2011, logo depois de se mudar da Espanha para o Brasil e ingressar no Groupon. Depois, foi parte do founding team da corretora de seguros online Bidu, cofundou a startup de logística Ontruck e atuou como diretor da nstech.

Em 2021, porém, o executivo decidiu encarar um novo desafio e juntou-se ao norte-americano Benjamin Gleason para fundar a Kamino, plataforma completa de gestão de gastos para empresas. Não demorou muito para empresa atrair clientes e investidores de peso: em 2022, fintech anunciou um dos maiores aportes pré-seed da América Latina, levantando US$ 6,1 milhões em uma rodada liderada pelo fundo Inspired Capital com a participação de Global Founders Capital, Fontes (fundo early stage da QED Investors), Picus Capital, Flourish Ventures, Propel VC, Clocktower Technology Ventures, Norte Ventures e Gilgamesh Ventures. 

Em um papo de peito aberto com o Startups, Gonzalo falou sobre as oportunidades e os desafios de empreender no Brasil, os principais aprendizados de sua jornada e os próximos passos da Kamino, com ganho de escala, contratação de talentos e, quem sabe, uma nova rodada de investimentos. Veja, a seguir, os melhores momentos da conversa:

O que te motivou a empreender no Brasil e como foi adaptar-se ao novo país?

Viajei para o Rio de Janeiro durante o meu MBA e adorei o país. Naquela época, 2009 e 2010, os Estados Unidos e a Europa estavam sofrendo com a crise, com um clima mais deprimido em termos de oportunidades. Eu era bem jovem, estava em um momento de querer trabalhar, crescer e aprender. Vi no Brasil um clima mais otimista, com uma galera jovem e ambiciosa.

Quando terminei o MBA, em 2011, decidi me arriscar em um país onde eu não falava o idioma e não tinha contatos. Consegui falar com o Benjamin Gleason por meio de um amigo que havia trabalhado com ele na McKinsey & Company. O Benjamin me entrevistou e me contratou para o Groupon no Brasil. Foi quando me aproximei desse mundo de crescimento exponencial, com pessoas talentosas que queriam mudar uma indústria. Dois anos no Groupon me fizeram ficar apaixonado por esse modelo de empreendedorismo.

Vir para o Brasil foi o meu primeiro ato empreendedor, pois antes mesmo de lançar uma empresa eu mudei de indústria, geografia e posição. Tive que procurar uma nova forma de trabalhar, aprender o novo idioma e fazer tudo ao mesmo tempo. Os primeiros três a seis meses foram um choque, tive que realmente me virar e acho que isso me fez ser bem mais resiliente.

Quais você considera como os maiores erros e aprendizados na sua jornada à frente da Kamino?

Alguns erros a gente acaba cometendo de novo, como querer ir muito mais rápido do que consegue e contratar pessoas com um currículo fantástico mas sem atitude para assumir determinadas funções. Um erro que cometi no passado e não faço mais é o de escalar a empresa sem ter product market fit e willingness to pay.

É fundamental conhecer o cliente que quer atacar, que essa persona goste do seu produto e esteja disposta a pagar por ele, além de alcançar mais pessoas com esse perfil, e conseguir escalar com unit economics saudáveis. No começo você não sabe como fazer isso. A grande diferença é que, agora, com 13 anos de empreendedorismo e com os sócios que tenho, sabemos fazer isso bem e a Kamino é um ótimo exemplo disso.

Como você descreve o momento atual da Kamino e como estão os planos para a próxima captação?

O desafio para 2024 é crescer. Temos um produto muito bom que funciona corretamente, mas há um mercado de clientes potenciais que ainda não têm a solução. É o momento de achar os talentos necessários para escalar tudo isso que já estamos fazendo.

Anunciamos a última rodada no início de 2022 e temos runway suficiente para seguir com nosso plano. No entanto, o mercado está cada vez melhor e vamos procurar o melhor momento para dizer que estamos dispostos a receber novos investimentos.

Empreender neste momento tem sido desafiador. Estou acostumado, pois são 13 anos neste mercado e passei por outros momentos de baixa, mas nem todos têm a experiência. Como CEO e fundador da empresa, não dá para pressupor que todo mundo já tem a resiliência necessária e está preparado para adequar-se a esses períodos. Tenho trabalhado muito em explicar a visão do negócio, mostrar que estamos no caminho certo, que o mercado passa por momentos de altas e baixas e que, se seguirmos fazendo as coisas bem feitas e olhando para o longo prazo, tudo vai dar certo. 

A cultura da empresa é um componente importante. A Kamino tem uma cultura muito focada no cliente, em deixá-lo feliz e em ser uma empresa com unit economics que façam sentido para que nós estejamos contentes. Temos uma mentalidade resiliente e buscamos contratar pessoas que estão mais adaptadas a mudanças e contextos desafiadores.

Olhando para o setor de fintechs no Brasil atualmente, você diria que saturou ou ainda tem espaço para mais empresas de alto crescimento?

Sou super otimista na América Latina e, particularmente, no Brasil. Algumas pessoas falam que está saturado, e pode ser que em alguns micro segmentos a saturação realmente seja maior. Mas, no geral, a economia da região representa muito menos do que deveria. Parte do que a Kamino quer fazer é possibilitar que as empresas cresçam mais, o que fará o mercado ser muito maior.

A forma de olhar para o mercado vai mudar muito nos próximos anos. Acredito que até 2030 vão acontecer coisas espetaculares na região.  Acho que ainda tem espaço para muito investimento e muitas empresas. Fintechs, em particular, vão continuar sendo um dos principais segmentos de investimento.

Sua esposa, Nathalia Simões, também é empreendedora e fundou a Holistix. Como é a dinâmica de um casal de empreendedores à frente de suas respectivas startups de alto crescimento?

Por um lado é bom, porque tenho ao meu lado uma pessoa que entende pelo que estou passando. Por outro, é difícil, porque somos dois empreendedores que gostariam de dedicar mais tempo à educação de nossas filhas. Essa é a parte mais chata, e a gente acaba sentindo um certo remorso.

O empreendedor não tem horário, não tem férias. Tem muitas coisas que gostaríamos, mas deixamos de fazer com as nossas filhas. Em geral, é simplesmente mais cansativo porque empreender é bem estressante.

Raio X – Gonzalo Parejo

Um livro: “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel García Márquez

Uma música ou artista favorito: Pearl Jam

Algo com que não vivo sem: Comida

Um prato preferido: Gazpacho

Uma mania: Roer a unha

Sua melhor qualidade: Resiliência

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