5 Minutos com

5 Minutos com: Henrique Garrido, CEO, Nomo

Ao Startups, o executivo falou sobre sua experiência, perrengues e desafios para alavancar o mercado de telecom no Brasil

Henrique Garrido, CEO da Nomo
Foto: Divulgação/Arte por Startups.com.br

Henrique Garrido começou a empreender aos 17 anos, quando lançou um e-commerce de itens sustentáveis. Depois, passou uma temporada em empresas como Stone, Endeavor e NeoAssist – onde colheu boa parte dos aprendizados que usa para tocar sua startup atualmente – e entrou no setor de telecomunicações para brigar com grandes operadoras como TIM, Vivo e Claro.

Fundada há pouco mais de 1 ano, a Nomo é uma operadora 100% digital que chegou para desburocratizar o setor de telecom, buscando se destacar no mercado pela forma que se relaciona com o consumidor. Com a ideia de oferecer um serviço melhor e mais barato, a startup estreou no mercado com um investimento de R$ 14 milhões, liderado pela gestora Iporanga Ventures e acompanhado pela Norte Ventures, além de investidores-anjo e executivos das startups Grow, Stone, Nubank e QuintoAndar.

Em um papo de peito aberto com o Startups, Henrique refletiu sobre sua experiência no ecossistema de inovação, perrengues como fundador e desafios para alavancar o mercado de telecomunicações no Brasil. Veja, a seguir, os melhores momentos da conversa.

De que forma as experiências na Stone e Endeavor te ajudam a tocar a Nomo hoje?

Considero a Endeavor o Day 1 na minha carreira, cerca de 11 anos atrás. O empreendedorismo nem estava muito no cenário, surfei o berço de quanto o país começava a discutir sobre isso, e dei sorte de encontrar a Endeavor. O que mais me ajudou foi acompanhar as conversas de empreendedores com grandes mentores, falar com pessoas que já tinham construído negócios e vivido desafios semelhantes, e aprender soft skills. Grande parte dos nossos investidores da Nomo vieram daquela época, nutrindo o relacionamento ao longo da última década.

A Stone foi onde vi o boom da tecnologia, estava lá na época do IPO e vivenciei o growth stage. Muitos fundos, muito dinheiro. Sair de um negócio que não existe para viver um IPO daquele tamanho. Aprendi muito sobre o caos no meio desse crescimento: como olhar para pessoas, recrutamento, venda, produto, mercado de capitais e equilibrar isso se a cada a companhia crescia tanto. Me deu coragem para olhar para um setor como telecom, já que a Stone endereçou o mercado financeiro que era tão concentrado, antigo e difícil quanto o nosso.

Meu gosto por empreender envolve alguns fatores. Primeiro, a possibilidade e responsabilidade de fazer as coisas que você acredita serem certas, além de mudar o mundo que está vivendo – e é um ótimo mecanismo para ter autonomia para ser protagonista disso. Desde que comecei a trabalhar, aprendi muito mais conversando com as pessoas do que estudando. Ao longo da minha carreira me inspirei em pessoas que tinham autonomia e coragem para fazer coisas grandes, até que percebi que a única opção de carreira e a única coisa que fazia eu me sentir parte de algo maior era o empreendedorismo. É uma missão tão grande que não conseguia olhar para o lado, e só senti isso empreendendo.

Qual foi um grande perrengue que você passou como CEO da Nomo?

Tem vários. A ideia de empreender é algo que muitos tem, mas quando entra na rota de venture capital e começa a negociar com fundos, pensar o valuation, estava fazendo isso pela primeira vez. Já tinha até participado e vivenciado essa jornada em outras empresas, mas era a primeira vez capitaneando.

Lembro que quando recebi o primeiro termsheet, com a Iporanga e a Norte, deu a sensação de desespero. Antes estávamos só negociando, mas naquele momento ficou real. O que falamos tínhamos que cumprir. Falamos que íamos montar time, brigar com as principais operadoras, montar um grande negócio. A hora que cai a grana, tem que fazer o que falou. Receber o primeiro termsheet foi a virada de chave e precisava de uma governança mais estruturada, que dependia de nós mesmos. 

Além disso, quando conhecemos nosso principal benchmarking, que é a Circles.Life, de Singapura, conseguimos chegar até eles e aprender muito. No final, percebemos que estávamos falando praticamente a mesma coisa, conversando com um potencial concorrente e vendendo a nossa tese. Foi um momento de virada de chave para perceber que tínhamos um negócio real e havia uma empresa no mercado fazendo isso, e eu sem saber se vestia o chapéu de bom ou mau policial.

Henrique Garrido, CEO da Nomo
Henrique Garrido, CEO da Nomo (Foto: Divulgação)

A Nomo levantou R$ 14 milhões em novembro 2021. Estão buscando capital adicional?

Conseguimos ter uma eficiência de grana desde o início, sem gastar tanto e gerando receita rapidamente. Trouxemos pessoas de tecnologia, mas vimos que em determinado momento da virada de mercado, precisávamos trazer gente de telecom. Fizemos uma pequena extensão no final do ano passado, com foco nesse setor, buscando parceiros que nos ajudassem a entender melhor o mercado e a indústria em que estamos atuando. 

Temos uma empresa crescendo, com caixa e balanceada em gastos x ganhos. Então temos runway para rodar e fazer o que precisamos. Desde o início, tínhamos uma cobrança para o fundamento do negócio. Ter investidor é muito bom, mas é muito melhor quando eles entram por oportunidade e não por necessidade. Temos ainda 60% da grana em caixa, pessoas muito bem estruturadas do nosso lado, incluindo fundos, anjos e family offices, e estamos super seguros.

Por outro lado, como investidor-anjo percebo que os retornos dos anos anteriores não vão dar tão certo quanto se imaginava e a taxa de mortalidade vai ser muito maior. Entrei em alguns negócios que hoje olhando teria tido um cuidado muito maior para analisar o valuation, os founders e como iriam se comportar nos momentos difíceis. Então estou segurando dois pratos – a Nomo, que está indo bem, e os investimentos que fiz como pessoa física que estão balançando.

Quais os principais desafios no setor de telecom para a Nomo crescer como startup?

É a indústria mais mal servida do Brasil, e são apenas 3 grandes empresas na liderança. É um desafio quase cultural, de educação, de ressignificar telecomunicações para que elas sejam menos comparadas com contas de água e de luz e se aproximem do subscription como Netflix e Spotify. É um desafio grande para ressignificar essa relação, o que envolve também uma educação da própria indústria, mostrando que atender bem, focar no cliente e inovar dá resultado. 

Do outro lado, há um problema de execução com pouca exposição de fundos de growth e tecnologia no setor. Além de educar a indústria, precisamos educar os investidores para que a próxima grande onda no ecossistema de inovação seja telecom. O investimento no segmento é muito pequeno, a maneira como os fundos olham é muito difícil e precisa mudar. Por fim, a tecnologia é muito antiga, com muito legado e regras de negócio desalinhadas. 

Como tem sido conciliar as responsabilidades profissionais com os momentos de lazer e o fato de você ter filhos pequenos?

Tenho um filho de três anos e meio e outro de seis meses. Sou atleta amador, faço triatlo, já fiz corrida de longa distância e participo de maratonas. Acredito muito no work life balance, preciso ter momentos com a família, a minha esposa e com o esporte para estar completo e lidar com a rotina de empreender, que é super intensa e te joga para cima e para baixo na mesma velocidade. Se não tiver algo que me regula na rotina, não funciona. Dedico muito tempo para família e esporte. Treino pelo menos 2 horas por dia e faço questão de levar meu filho na escola.

Já tive uma vida desregrada, mas nos últimos anos é extremamente regrada, acordo e durmo no mesmo horário. Minha rotina é muito estruturada e sou muito disciplinado com horário. Mas no micro, tenho dificuldade grande com organização, se deixar consigo sair muito rápido do script. E se perco um dia, demoro vários outros para recuperar.

Raio X – Henrique Garrido

Um fim de semana ideal tem: Família e esporte

Um livro: “Amp It Up”, do CEO da Snowflake, Frank Slootman; e “O almanaque de Naval Ravikant”, de  Eric Jorgenson 

Uma música favorita: Gosto muito de Gilberto Gil e Caetano Veloso

Um prato preferido: Churrasco

Uma mania: Gosto de acordar super cedo, antes das 5h

Sua melhor qualidade: Mobilizar pessoas