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Juliana Tubino é, em suas próprias palavras, extremamente curiosa. E isso acaba sendo, ao mesmo tempo, uma de suas maiores qualidades e principais desafios. Formada em Administração de Empresas pela FGV, iniciou sua carreira como estagiária na subsidiária brasileira da Microsoft e percorreu trajetória de mais de 20 anos nas operações da big tech na América Latina e na matriz em Washington, nos Estados Unidos.

Em 2017, já com ampla experiência de liderança, vendas, marketing e canais, Juliana decidiu ampliar os horizontes, sem deixar de lado o mercado de tecnologia. Foi quando saiu da gigante global para ingressar no ecossistema de startups, mais especificamente na RD Station. Por lá, atuou como Chief Revenue Officer (CRO) e VP de parceiros, escalando a operação por quase cinco anos, até a companhia ser vendida para a TOTVS, em 2021.

Executiva, autora, investidora e conselheira em empresas de tecnologia, também acumulou experiência em empresas como Omie, nstech e Mendelics, além de ser mentora na Endeavor, ONU Mulheres e MentorEla, e coliderar o grupo Think Tank sof{IA}, dedicado ao estudo do impacto da inteligência artificial nos negócios. 

Em um papo de peito aberto com o Startups, Juliana fala sobre a decisão de deixar a Microsoft e migrar para o universo das startups, e sua atuação como investidora e conselheira em diversas empresas do ecossistema. Além disso, reflete sobre os desafios da rotina intensa e os próximos passos da sua vida profissional. Veja, a seguir, os melhores momentos da conversa:

Como foi fazer a transição de uma big tech como a Microsoft para o mundo das startups? O que você sentiu naquele momento?

Foi uma mudança importante. Eu já estava há muito tempo na Microsoft e tinha feito várias jornadas. Foram sete anos no Brasil, cinco no escritório regional da América Latina, outros cinco anos na corporação nos Estados Unidos. Quando voltei para o Brasil, já tinha cumprido várias jornadas e estava em um momento de carreira totalmente diferente de quando eu saí. Chegou uma hora que aquilo já não estava mais fazendo sentido pra mim, pois já tinha cumprido muitos ciclos e feito as pazes com uma transição.

A dúvida mais essencial que enfrentei foi “O que eu quero fazer?”. Já sabia o que não fazia mais sentido para mim, e estava em um momento de “e agora?”. Tinha a convicção de continuar no mundo da tecnologia, o qual eu amo, transito bem e que tem tudo a ver com a minha personalidade. Mas tinha a sensação de que seguir em outra grande empresa de tecnologia não seria uma mudança radical. Então, comecei a mentorar startups e participar de eventos de um mercado dinâmico, onde as coisas estavam acontecendo super rápido. E percebi que me sentia em casa. 

Todos os caminhos me levaram para a RD Station. Quando mentorava uma startup, a RD era uma referência, pois já tinha construído uma certa autoridade naquele ecossistema. Quando falava com investidores, eles citavam a RD como uma empresa especial. E, por coincidência, quando ainda estava na Microsoft dei uma mentoria para o Eric Santos, cofundador e, na época, CEO da RD Station. Então, quando fiz a transição, para mim, foi muito natural. Cumpri um ciclo, abri outro. Foi legal do começo, meio e fim.

Ampliar horizontes, repertório, construir um outro network. Não que tenha sido fácil, porque foi realmente tudo novo. Fiquei 20 anos no sistema operacional Windows e quando cheguei na RD, no primeiro dia, era um Mac com Slack, Google Docs. Lembro que eu olhei aquilo tudo e falei “putz, começou, né? Agora é real”.

Conselheira, investidora, autora, executiva, mãe… Como você faz para equilibrar esses pratinhos, todos esses papéis na sua rotina intensa?

A resposta mais honesta é que tenho me questionado o que é equilíbrio, porque estou sempre cansada. Tomo a decisão diária de onde vou focar a minha energia. Tenho que fazer um esforço organizado de quais serão os meus projetos. E tenho um desafio adicional que é o fato de ser muito curiosa, sempre tem muita coisa que quero aprender.

Quero fazer aulas de finanças e gestão para me aprofundar mais nisso. Eu invisto via venture capital, ou seja, um grupo já organizado, e apoio os empreendedores que são investidos por esses fundos. E isso é muito diferente de eu mesma ter que fazer a análise, o due diligence. De certa forma, é uma zona de conforto. E quero aprender mais sobre investimentos e gestão. Também quero aprender sobre inteligência artificial, que é um tema infinito. Aprender mais sobre dados, terminar algumas certificações sobre máquina de receita, me aprofundar na parte de conselho. É uma quantidade infinita, e chego ao ponto de ter que organizar o assunto que vou estudar em cada semestre para não dispersar tanto a minha energia.

Só que, logicamente, o papel de mãe (tenho dois filhos pré-adolescentes), de esposa e os outros N papéis, acho que a gente só consegue equilibrar quando faz as pazes com o que não vai conseguir fazer, com os pratos que vai deixar cair. Com o que você vai fazer bem e o que você não vai conseguir dar o seu melhor. Sou muito seletiva, inclusive com minha atuação nos Conselhos, com os meus projetos, porque sou muito exigente. Se assumo mais do que eu posso entregar no meu nível de exigência, acabo drenando energia.

O resumo disso tudo é fazer um esforço consciente de onde você vai colocar a sua energia, porque o dia continua tendo 24 horas. Mas eu não sou a melhor referência, porque tendo a ampliar, ampliar, ampliar… e aí fico cansada, volto e me reequilibro. É meio que um ciclo infinito para mim, já tem um padrão, e reconheço isso. Não posso nunca deixar de fazer o básico: comer bem, me exercitar e meditar, porque quando uma dessas coisinhas caem, já começo a girar para um lugar que não é legal.

Mas acho que é isso, de forma bem genuína. Gostei do que a Madonna falou uma vez: “muita disciplina e sempre exausta”, por isso que ela dava conta. Eu quero sair desse “sempre exausta”, mas talvez como mulher ainda faltem algumas gerações para conseguir sair disso, porque a gente se auto impõe algumas atividades e alguns papéis que poderíamos abrir mão. Acho que é um aprendizado para todo mundo.

Hoje, como conselheira e investidora, quais empresas fazem seus olhos brilharem? Que tipo de negócios te atraem?

Gostei muito de transitar no mundo das scale-ups. Uma empresa que já tenha passado pelo product-market-fit e está em um estágio parecido com o que era a RD Station quando eu entrei. Ou seja, cresceu muito e rapidamente, vai deixando algumas coisas para trás e tem que olhar para a companhia de uma forma mais holística, além de estabelecer mecanismos para escalar com eficiência, lucro e bastante produtividade.

Hoje, consigo agregar valor para essas empresas e, normalmente, são as com que acabo engajando. Na RD adquiri experiência em uma startup que não era desestruturada, mas que precisava construir máquinas para continuar escalando. E isso se soma à minha experiência na Microsoft – que é uma empresa super escalada, estabelecida e que continua crescendo muito – que me permitiu ter um olhar mais matricial.

Uma coisa que aprendi nesse mundo ampliado de tecnologia é a importância de um ajudar o outro em diferentes estágios e momentos. Então, dou muita mentoria. Quantas vezes eu precisei conversar com pessoas especialistas de uma área para ajudar o time a resolver um problema específico? Esse é um valor muito bacana que aprendi e tento continuar propagando.

No caso das empreendedoras, é muito importante ter referências. E quem, de certa forma, foi mais precursora e sentou em uma cadeira mais masculina, acabou conseguindo abrir algumas portas e janelas.  Ser uma referência para as mulheres tem um peso de responsabilidade, e é importante ter consciência disso. Mas acho que as mulheres que hoje têm mais referência nesses mundos, conseguem avançar mais rapidamente. Continuam tendo seus desafios, mas conseguem, talvez, ter referência para lidar com eles. Eu tenho um viés natural de apoiar pessoas que estão mais próximas da minha primeira pessoa, porém também busco pessoas diferentes de mim para continuar aprendendo e apoiando a inclusão.

Qual é o próximo passo na vida de Juliana Tubino? O que você ainda espera alcançar ou seguir alcançando?

Gosto de fazer coisas diferentes que me tirem da zona de conforto. Estou em um momento de aprender, não estou inventando uma moda absolutamente diferente. Passei por uma experiência de multinacional, fui para o mundo das startups, agora estou entrando mais no mundo de investimento, gestão e boards. Quero me aperfeiçoar nisso, que já é um mundo amplo o suficiente, para depois inventar outra moda.

Mas foi super legal nesse meio tempo escrever um livro, que é um mercado novo para mim, gerou muito descobrimento. Eu e a Nara escrevemos sozinhas, sem ghostwriter, porque quisemos criar uma metodologia. E gerou muito give-back, porque a gente genuinamente acreditava que esse é um modelo importante para as pessoas conhecerem melhor, algo que ainda não é tão difundido e conhecido.

Raio X – Juliana Tubino

Um fim de semana ideal tem… momentos de programação intensa e de descanso intenso – e talvez isso seja equilíbrio. Preciso de uma natureza, preciso meditar… os dois extremos

Um livro: “Ecossistema de Parceiros”, de Juliana Tubino e Nara Vaz Guimarães. Ou “The Coming Wave”, de Mustafa Suleyman

Algo com que não vivo sem: Chocolate e família

Música: “Carmina Burana”, composta por Carl Orff, e “Evidências”, de Chitãozinho & Xororó

Um prato preferido: Comida natureba

Uma mania: Organizar as coisas

Sua melhor qualidade: Me orgulho dos meus valores pessoais, que acabam refletindo no meu lado profissional. Ter chegado onde cheguei sem passar por cima de ninguém e sempre tentando devolver o valor que eu recebi. Além disso, tenho uma escuta ativa e capacidade de me adaptar a diferentes contextos

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