Boas ideias podem surgir de lugares e situações mais inesperadas. Após mais de uma década no universo corporativo, Luiza Nolasco teve a ideia de empreender enquanto assistia ao filme “Sex and the City”, inspirada em criar um negócio de aluguel de bolsas. Em 2013, ela colocou o conceito em prática e cofundou um site especializado na comercialização e aluguel de acessórios second-hand, batizado de BagMe.
“A empresa ia super bem, mas eu comecei a ter visões diferentes da minha sócia. Tentei comprar a parte dela, mas não entendia como, então tentei pesquisar. Um dos meus primeiros ensinamentos à frente de uma startup: fiz o valuation errado da minha própria empresa”, conta Luiza. Ao invés de comprar o que restava da empresa, ela decidiu vender a sua parte e encarar um novo desafio como gerente de desenvolvimento de negócios na WGSN.
Sem deixar a veia empreendedora de lado, Luiza cofundou a Gringa, de revenda de acessórios de luxo que promovem a economia circular, em paralelo à sua atuação na WGSN. A startup foi criada enquanto ela estava na contagem regressiva para a chegada de sua primeira filha, e abriu as portas para que Luiza ampliasse sua participação no ecossistema de inovação como investidora-anjo de outros negócios.
Foi justamente assim que ela se aproximou da NG.Cash, fintech que tem como alvo o público da geração Z, com a intenção de investir na rodada seed da startup. No entanto, quando sentou-se para conversar com o CEO, Mario Augusto Sá, a captação já havia sido fechada. “Ele queria trazer pessoas mais seniores para o negócio e achei a proposta interessante”, conta Luiza. Desde meados de 2022, ela atua como head de parcerias e comunicação do neobanco, equilibrando as demandas da companhia com as atividades do Conselho da Gringa e das outras startups em que já investiu, como Semexe, ClientBase e Better Drinks.
Em um papo de peito aberto com o Startups, Luiza refletiu sobre os impactos do contexto macroeconômico na sua postura como investidora, os principais desafios na NG.Cash e o que avançou na fintech desde a rodada seed. Veja, a seguir, os melhores momentos da conversa.
De que forma você, como investidora-anjo, está se adaptando às conjunturas macroeconômicas atuais do mercado?
Depois que cofundei a Gringa comecei a conversar com muitas startups, e achei que ia guinar como investidora. Mas o mercado mudou e tive que reavaliar. Antes, quando as startups abriam a porta eu enxergava sempre como oportunidade. É claro que fazia a análise do negócio, mas com um olhar muito mais otimista e positivo do que hoje. Estou mais chata para investir. Gosto de investir em empresas que tenham a ver comigo, que me identifique com o founder e o propósito do negócio. Além disso, busco bastante empresas alinhadas ao ESG, ou que tenham uma mulher como fundadora.
Faz muita diferença para as empresas ter anjos que realmente vão ajudar. Muitas vezes, as pessoas ficam muito fechadas em uma bolha, procurando apenas quem tem o dinheiro, mas é muito importante buscar quem tem o know-how de determinado negócio, mercado ou segmento. Se você tem uma empresa de seguros, pense em trazer alguém de seguros, porque isso fará muita diferença. Sinto que ainda falta essa conexão, e o mercado ainda vai avançar muito.
Ainda assim, ser investidora permitiu que eu tivesse acesso a pessoas e informações que nunca achei que teria. Invisto em empresas como Welcome Brands e Better Drinks – antes não entendia nada sobre o mercado de bebidas; hoje sei muita coisa. Recentemente tive a oportunidade de me conectar com o Sororitê, uma rede de investidoras-anjos que investem em startups lideradas por mulheres, com a Anjos do Brasil, e outros atores do ecossistema.
É trabalho para caramba. Tem board à noite, leitura de material no fim de semana e várias reuniões quando a startup não está performando bem. Adoro ajudar, mesmo que não invista sempre é possível auxiliar de alguma forma e conectar o empreendedor com outras pessoas.
Quais são os seus principais desafios na NG.Cash?
Comunicar da melhor forma com o mercado os assuntos da empresa – e temos vários. É uma startup de dois anos, com muitos produtos e parcerias por vir. A vantagem é que fizemos uma rodada seed muito relevante no ano passado, viramos pauta em vários veículos de comunicação e temos portas bem abertas, o que é maravilhoso.
Em termos de parceria, o maior desafio é as marcas entenderem como se comunicar com a geração Z, e perceberem que nós podemos agregar valor nesse sentido. Ao buscar uma parceria, as marcas ainda pensam muito na conversão da campanha e da publicidade. Mas há outros objetivos que precisam ser levados em conta: se conectar com o público, ele se conectar com a empresa e criar uma boa relação entre ambos, para depois pensar em conversão.
É um desafio fazer as marcas realmente entenderem a geração Z. Normalmente, elas querem fazer uma campanha para atingir esse público uma única vez e pronto; não sabem que é uma construção. A geração Z gosta de conexão, de construir e manter uma relação com a marca, e é uma das gerações mais fiéis às marcas que consome. Mas é um processo de longo prazo, tem que ganhar a confiança do público e buscar os melhores formatos para conversar com ele.
Considero a NG.Cash uma grande referência em geração Z, e tentamos explicar para os parceiros como se aproximar dela. Somos uma empresa nova e estamos criando relacionamento a longo prazo com as marcas para fazer a ponte entre elas e a geração Z. Estamos investindo em uma vertical de agência focada em conversar com a geração Z com conteúdos feitos para esse público por meio de influenciadores e das mídias sociais.
A última rodada da NG.Cash chamou a atenção do ecossistema pelo tamanho do cheque – um seed de US$ 10 milhões – e pelos investidores de peso como Andreessen Horowitz e monashees. O que avançou na empresa desde o aporte, em agosto de 2022?
Muita coisa, tudo o que precisávamos fazer. Mudamos o sistema de pagamentos, o banking as a service, a parte de onboard e o backend. Além disso, implementamos a solução da idwall para a verificação de dados e documentos. Foi uma arrumação de casa sensacional.
Trocamos os três principais fornecedores e a bandeira do cartão de Elo para Mastercard. Conseguimos a licença de Instituição de pagamento (IP) do Banco Central, nos aliamos ao BTG Pactual [todo o dinheiro circulante na conta da NG.Cash é custodiado pelo BTG Pactual] e fechamos uma parceria com a Pismo. Foi o ano de fazer tudo o que nos comprometemos. Agora, a NG.Cash está pronta para lançar vários produtos no app.
Raio X – Luiza Nolasco
Um fim de semana ideal tem: Praia, caipirinha, família e amigos
Um livro: “Dedique-se de coração”, Howard Schultz
Uma música favorita: “Trem bala”, de Ana Vilela
Um prato preferido: Brigadeiro de colher
Uma mania: Planejar viagens
Sua melhor qualidade: Ser curiosa; adoro aprender e estou sempre tentando entender mais de algum assunto