Entrevista

5 Minutos com: Marcelo Ciampolini, sócio da Antler

Fundo early stage prevê novos investimentos e a captação de seu fundo de US$ 40 milhões, além de apoiar as atuais 30 investidas a crescer

Marcelo Ciampolini, sócio da Antler
Marcelo Ciampolini, sócio da Antler | Foto: Divulgação/Arte por Startups

Marcelo Ciampolini é um dos principais nomes à frente da Antler no Brasil, fundo global de venture capital early stage que desembarcou no país no início de 2022. Engenheiro de formação, ele iniciou sua trajetória no mercado financeiro, com passagens por grandes instituições como Santander e BNP Paribas, mas foi no empreendedorismo que encontrou sua real vocação.

“Percebi que o que realmente gostava de fazer era colocar a mão na massa, pegar ideias e transformá-las em realidade”, afirma Marcelo, em entrevista ao Startups. Como empreendedor, ele fundou e liderou a Lendico no Brasil — fintech de crédito que hoje se chama Provu — e permaneceu à frente da companhia até a conclusão do exit para o Lone Star Fund.

Depois de uma temporada na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, Marcelo retornou ao Brasil e, em 2022, tornou-se sócio da Antler. Desde então, dedica-se a apoiar empreendedores em estágios iniciais, ajudando-os a tirar as ideias do papel e criar suas próprias startups ou acelerar projetos com baixa tração. A Antler oferece um programa de residência de 10 semanas, em São Paulo, no qual os participantes convivem diariamente em um ambiente de inovação e têm a oportunidade de encontrar potenciais cofundadores, desenvolver ideias de negócios, construir suas startups e, potencialmente, receber um investimento inicial.

Em um papo de peito aberto com o Startups, Marcelo falou sobre sua jornada empreendedora e como foi fazer a transição de founder para investidor ao juntar-se à Antler. Ele também revelou os planos da Antler para 2025, que incluem novos investimentos e a captação de um fundo de US$ 40 milhões. Veja, a seguir, os melhores momentos da conversa:

Antes da Antler, você trilhou a própria jornada no empreendedorismo. Como você descreve essa experiência?

Trabalhando em banco, passei por experiências que me fizeram amadurecer, como lidar com chefe e ficar horas extras no escritório. Naquele período, desenvolvi algumas iniciativas, como o trading eletrônico para clientes fazerem operações de moedas, além de introduzir o dólar-real na plataforma. Mas, na verdade, nunca tinha empreendido de fato, nunca tinha aberto uma empresa ou contratado um time.

À medida que meu ciclo no banco se aproximava do fim, o empreendedorismo começou a surgir como uma alternativa de próximo passo. Em 2013, iniciei minha jornada na Lendico, uma fintech de crédito que unia minha experiência no mercado financeiro ao mundo da tecnologia. Naquela época, isso estava em alta, com os empréstimos entre pessoas crescendo nos Estados Unidos e na Europa. Foi muito bacana poder começar a história da Lendico no Brasil do zero.

A startup recebeu investimentos da Rocket Internet, o que foi fundamental. A Rocket tinha um modelo de venture builder, diferente do venture capital tradicional. Eles sabiam como abrir uma empresa, montar um time de tecnologia, desenvolver o go-to-market e uma série de outras coisas que eu, naquele momento, ainda não dominava. Essa troca foi muito rica e, com isso, consegui trazer o parceiro financeiro que precisávamos.

Crescemos bastante e, em 2018, recebemos uma oferta de compra. Era um momento em que já pensávamos em pivotar o modelo de remuneração. Decidi vender a startup e saí depois de um ano. Foi um ciclo completo de empreendedorismo. Me encontrei e percebi que o que realmente gostava era colocar a mão na massa, pegar ideias e transformá-las em realidade.

Como foi passar da cadeira de founder para a de investidor?

Vendi a Lendico em 2018 e permaneci mais um ano como CEO. Quando saí, aproveitei para tirar um período sabático com minha família, trabalhei em uma fintech mais consolidada e fiz o Stanford Executive Program, nos Estados Unidos. Quando voltei ao Brasil, me sentia pronto para começar outro negócio, dessa vez focado em crédito B2B para e-commerces.

Foi nesse momento que conheci a Antler. No início, achei que o interesse deles era no negócio que eu estava planejando iniciar, mas, para minha surpresa, eles queriam trazer a Antler para o Brasil e me convidaram para liderar essa jornada.

O modelo da Antler chamou minha atenção. Eles entram nas startups como investidores minoritários, permitindo que as empresas sigam o caminho tradicional de venture capital. O que mais me atraiu foi perceber que o modelo já estava validado em outros países e representava uma evolução do que eu conhecia sobre programas de apoio a startups.

Além disso, a Antler atua exatamente na etapa em que acredito poder agregar mais valor. Depois de Stanford, entendi que meu maior diferencial não é apenas ter ideias, mas executá-las. Na Antler, atuamos como uma espécie de “founder sombra”: não estamos no cap table como fundadores, mas ajudamos a estruturar e pensar os negócios junto com as startups. É, de certa forma, uma nova maneira de empreender.

Esse formato me interessou muito porque é como se estivesse empreendendo com todas as pequenas startups investidas e contribuindo diretamente para a construção de algo novo. Se fosse um trabalho voltado para empresas em estágios mais avançados, provavelmente não teria aceitado, já que isso me afastaria daquilo que realmente gosto de fazer e onde sei que posso contribuir de forma significativa.

A tese Antler está no early stage do early stage. Ao invés de olhar para as empresas, vocês focam nos empreendedores, mesmo que eles ainda nem tenham tirado a ideia do papel. Na sua opinião, qual é a importância dessa abordagem?

Muitos fundos já consolidaram a ideia de que as pessoas são o elemento mais importante em um negócio. Na Antler, partimos do princípio de que o talento empreendedor está espalhado por todo o mundo, mas que nem todos os lugares possuem um ecossistema que impulsione esse talento a prosperar.

No Vale do Silício, por exemplo, existe uma abundância de capital e de fundos. Lá, se você tem uma boa ideia e consegue montar um time, é muito provável que consiga uma reunião e, eventualmente, um investidor. No Brasil, essa não é a realidade. Temos pessoas extremamente talentosas, mas, por conta das desigualdades locais, muitas delas não têm acesso às ferramentas e aos recursos que poderiam alavancar seu negócio — seja o domínio perfeito do inglês, as redes de contatos da Faria Lima, um diploma de uma universidade renomada ou um MBA internacional.

É aqui que vejo na Antler uma grande oportunidade. Nosso papel é identificar esses talentos brutos, trazê-los para a residência e oferecer um aprendizado estruturado sobre como o mercado funciona. Identificar problemas reais que precisam ser resolvidos e pensar em soluções viáveis. Depois, ensinamos como estruturar uma estratégia de marketing, em que ordem executar as ações e como organizar o negócio. Esse framework é transversal e se aplica à maioria das startups.

Ao compartilhar esses conhecimentos, os bons empreendedores enfrentarão os desafios do caminho e conseguirão superá-los. Acreditamos mais no poder das pessoas do que propriamente da ideia. As ideias — ou teses — funcionam como uma plataforma para avaliarmos os fundadores. Se encontramos um time que parece bom, mas tem uma tese que não para em pé, isso já nos revela algo valioso sobre como eles trabalham e se adaptam. 

Quais são as expectativas e prioridades da Antler para 2025?

Estamos começando a colher os frutos do trabalho iniciado em 2022. Aquele foi um período de preparação, quando estruturamos o time e adaptamos o formato das residências da Antler para a realidade brasileira. Realizamos a primeira residência naquele ano e, em 2023, começamos a fazer os primeiros investimentos. Hoje, temos 30 startups investidas e já vemos essas empresas deslanchando, captando recursos com outros fundos, crescendo e gerando receita recorrente.

Ano que vem, acredito que faremos duas residências, o que nos permitirá continuar investindo. Estamos em processo de captação de um fundo de US$ 40 milhões, e espero que essa captação seja concluída no próximo ano. Já conseguimos atrair investidores institucionais importantes e passamos em uma chamada pública do BNDES, o que foi um divisor de águas para nós.

Assim, 2025 será um ano crucial para a Antler no Brasil. Vamos concluir a estruturação do fundo e focar nos investimentos, além de apoiar o portfólio existente a crescer, atingindo suas métricas e alcançando os próximos marcos necessários para deslanchar. Acredito que será um ano muito bom para a Antler no Brasil.

Após 2021, a euforia passou. Muitas empresas ainda estão lidando com as consequências de decisões tomadas em um mercado com excesso de liquidez e valuations inflacionados. Houve uma retração global, mas agora a tendência é que a engrenagem volte a funcionar de maneira mais saudável, o que deve retomar o apetite ao risco. Isso será positivo para o ecossistema e, principalmente, para as empresas.

A inteligência artificial chegou para ficar, mas o boom em torno dela é, em grande parte, uma bolha. Existe um hype, e muitas iniciativas vão falhar. No entanto, isso está movimentando muito o mercado. Uma startup que não adotar IA, seja internamente ou para o consumidor final, será ultrapassada por outra que a utilize. Mas colocar IA no pitch só porque é uma palavra da moda não é o suficiente. O importante é usar essa tecnologia de forma eficaz, destravando valor, gerando economia em escala e criando soluções que antes não eram possíveis.

Raio X – Marcelo Ciampolini

Um fim de semana ideal tem… família e descanso

Um livro: “1984”, de George Orwell

Uma música: “Another One Bites The Dust”, do Queen

Prato de comida: Arroz de pato

Algo com que não vive sem: Competência

Uma mania: Jogar uma partida de sudoku todas as manhãs

Melhor qualidade: Tento sempre me lembrar e deixar claro que estou em um constante processo de aprendizado. Tenho muito a aprender, estou disposto a ouvir e estou aberto a ter trocas com pessoas  que são melhores do que eu para isso