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Michel Porcino trabalha há um bom tempo para tornar as cidades brasileiras protagonistas no ecossistema global de inovação. Só nos últimos 15 anos, foram mais de 110 projetos e iniciativas de suporte a startups, de fomento à sustentabilidade e de acesso à capital, com mais de 100 mil pessoas impactadas.

Fundador da São Paulo Tech Week e ex-CEO da plataforma Kria, o executivo atuou como investidor-anjo, gestor de aceleração e fundador de startups, ajudando a estruturar programas que auxiliassem os founders da ideia à internacionalização, Depois de um período como gerente de inovação do Sebrae-SP e head do Sebrae for Startups, hoje ele lidera o OFuturo, hub de inovação, negócios e futuro sustentável.

Essa relação de longa data com empreendedorismo, inovação, ESG e mercado de capitais o levou a idealizar o Festival Cidade do Futuro, que acontece de 14 a 16 de março no centro histórico de São Paulo. O evento visa discutir as principais tendências de inovação e sustentabilidade corporativa, além promover rodadas de negócios, demoday para investidores, sessões de mentoria, workshops práticos, casas de conexão e painéis interativos para debater o papel das grandes cidades para impulsionar o desenvolvimento sustentável do país.

Em um papo de peito aberto com o Startups, Michel falou sobre a importância de conectar a inovação com sustentabilidade e o mundo dos negócios, as expectativas para o Festival Cidade do Futuro 2024, e os próximos passos de sua vida profissional. Veja, a seguir, os melhores momentos da conversa:

O Festival Cidade do Futuro busca aliar sustentabilidade, negócios e inovação. Como você enxerga esse tripé no ecossistema, em termos de oportunidades e desafios?

O Brasil tem olhado para como pode ser uma potência verde no mundo pela sua natureza, seus biomas e recursos naturais. Já somos um grande produtor de energia limpa e renovável, além de um pólo do agro tradicional. Mas também podemos ser uma potência para scale-ups verdes. 

Quando a gente fala de tecnologia, estamos falando de ciência. Não só deep techs e startups de software. Temos também Future Carbon, ESG Now e várias startups que surgiram nos últimos anos e trazem grandes oportunidades. Os fundos estão cada vez mais alocando parte de seus recursos em startups que endereçam questões climáticas. Então, tem dinheiro na mesa, mas falta projeto. A questão é como a gente ajuda a acelerar essa curva. Vimos isso acontecer com fintechs e outros setores que eram incipientes e hoje são super maduros. Por enquanto, cleantechs e climate techs são um setor, mas daqui alguns anos o ecossistema vai olhar para as diversas vertentes específicas dentro desse mercado, como economia circular.

Outro cenário que alavanca as oportunidades é o fato das empresas, além de terem criado suas áreas de compliance e ESG, terem marcos regulatórios que as obrigam a ter determinados cuidados, seja na gestão de resíduos, descarbonização, entre outros aspectos. E precisamos ter startups que façam isso com escala. O grande desafio para atingir as metas de emissões de carbono e temperatura do planeta é a inovação. No caso do Brasil, somente com tecnologia vamos conseguir proteger as florestas, e apenas com inovação conseguiremos pensar em novos modelos de negócio, inclusive para fomentar cidades verdes, apoiar comunidades e desenvolver soluções que impulsionem a jornada dos negócios para a economia Net Zero.

Lá fora, estão muito claras as oportunidades, e me incomoda muito ver os eventos sobre o futuro do Brasil acontecerem fora do nosso país – como em Harvard ou Nova York. Eu preciso ir para fora para discutir o que vou fazer aqui?! Ainda não temos grandes hubs nacionais de inovação verde por aqui, e é importante que isso mude. Estão surgindo novas iniciativas de hubs para sustentabilidade, isso precisa ser estimulado. Até tem fundos, até tem grana, mas precisamos formar a primeira geração de startups nesse setor. E, depois, impulsioná-las com base nas oportunidades de mercado.

Inicialmente, o Festival tinha um forte olhar para a cidade de São Paulo. Para construir um futuro para o Brasil não é necessário olhar também para outras regiões?

Foi exatamente essa pergunta que nos fizemos, e reposicionamos o evento. No início, tinha um grande foco na cidade de São Paulo, agora olhamos para as cidades no plural. Pensando nisso, vamos lançar um programa de fellowship da Cidade do Futuro para pessoas de todo o Brasil que tenham projetos para transformar as cidades, alocando fundos para financiar essas ideias e ajudar as cidades a serem mais sustentáveis.

A ideia é realmente levar para outras regiões, e temos pessoas de fora – como Amazônia, Recife e outras partes do Brasil – vindo para cá. A ideia é que depois a gente vá para eventos-irmãos como Hack Town (MG) e REC’n’Play (PE), provocando discussões para cidades mais humanas, verdes e resilientes.

Para isso, estamos focados em duas abordagens. Como as coisas acontecem nas cidades, a gente precisa empoderar as pessoas para que elas enxerguem o que podem fazer em seus bairros, suas ruas e onde moram – porque é lá que estão os problemas. A outra questão é pensar sobre qual é o papel das cidades. Falamos de mudanças climáticas, mas uma pessoa de São Paulo pode se questionar sobre como ela pode ajudar estando tão longe da floresta amazônica. Então temos que refletir também sobre questões que endereçam as próprias cidades: poluição dos rios, permeabilidade, futuro da indústria, criação de parques e como construir municípios mais verdes.

Como estão as expectativas para o evento este ano?

Tivemos várias mudanças em relação à edição anterior. Desta vez, estamos abraçando mais a sustentabilidade e a inovação, com a proposta de ser um grande fórum para juntar esses dois mundos, porque não adianta inovar para algo que não gera transformação. 

O evento foi remodelado para dois dias, dobrando a quantidade de conteúdos, e com muito foco na experiência dos participantes para geração de negócios, networking e participação em workshops práticos. A grande novidade é que a ideia é que o evento continue o ano todo. Recentemente, fizemos o primeiro Climate Jam, um hackathon para soluções de sustentabilidade, e devemos fazer outras edições ao longo do ano. Também temos iniciativas de capacitação e formação, incluindo uma iniciativa para formar mulheres negras no mercado de tecnologia, feita em parceria com o Fundo Agbara, além de uma academia de SDR com jovens da periferia e uma outra com foco em letramento em inteligência artificial.

Então, o evento acontece esta semana, mas o festival segue ao longo do ano com uma série de ações. Queremos ser uma plataforma para gerar mudança positiva e fomentar a inovação para as cidades.

Quais são os próximos passos na sua carreira e para o OFuturo?

Estou muito animado com o que a gente está construindo agora, ajudando várias empresas grandes como o TikTok. Além disso, estamos levando a discussão de inovação e sustentabilidade para outras cidades, e estou feliz em fazer com que essas conversas importantes cheguem a cada vez mais lugares para criar, de fato, uma plataforma de mudança, alocando investimentos para isso.

Nesse contexto, vamos lançar um projeto com foco em finanças sustentáveis, conectando sustentabilidade à inovação e ao mercado de capitais. Vamos lançar um centro de finanças sustentáveis que gera e cria fundos, que serão direcionados para soluções que vão melhorar o planeta. Além disso, lançaremos a Climate Angels. Essas são duas iniciativas que completam a parte de acesso ao capital – o que é super importante para potencializar os investimentos e permitir que as inovações saiam do papel. Temos várias coisas legais para o futuro, para seguir com a agenda de inovação verde.

Raio X – Michel Porcino

Um fim de semana ideal tem… Família e filhos no parque

Um livro: “O Pequeno Príncipe”, de Antoine de Saint-Exupéry

Uma artista preferido: Chico Buarque

Um prato de comida: Salada e um filé grelhado

Uma mania: Inventar coisasSua melhor qualidade: Realizar sonhos

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