Entrevista

5 Minutos com: Phillip Trauer, Wayra Brasil e Vivo Ventures

Executivo detalhou seus primeiros meses como managing director, falando sobre as estratégias de alocação de capital e expectativas de investimento

Phillip Trauer, managing director de Wayra Brasil e Vivo Ventures
Phillip Trauer, managing director de Wayra Brasil e Vivo Ventures | Foto: Daniel Santos; Arte por Startups.com.br

Filho de pai brasileiro e mãe americana-alemã, Phillip Trauer cresceu em Teresópolis, no Rio de Janeiro e mudou-se para os Estados Unidos aos 14 anos com o sonho de seguir carreira profissional no golfe, uma paixão que carrega desde a infância. Durante cerca de cinco anos, dedicou-se ao aperfeiçoamento de suas habilidades no esporte e chegou a competir em um nível alto de golfe amador. No entanto, aos 19 anos, decidiu retornar ao Brasil, onde se formou em Economia pela Faculdade IBMEC do Rio de Janeiro e iniciou sua jornada no mercado financeiro.

Após passar por empresas como Sonder, Citi e Ideiasnet, Phillip uniu-se à Valor Capital Group, uma das maiores gestoras de investimentos da América Latina. Na empresa, liderou diversos investimentos globais, desde o desenvolvimento de teses e sourcing até a execução junto às startups investidas.

Com ampla experiência em tecnologia e investimentos em startups, Phillip assumiu um novo desafio em meados de 2024, integrando as estratégias de inovação aberta da Vivo. Como managing director de Wayra Brasil e Vivo Ventures, iniciativas de investimento focadas em startups early stage e growth, respectivamente, ele tem a missão de acelerar a aproximação entre a Vivo e startups, gerando oportunidades conjuntas, impulsionando a estratégia de inovação e novos negócios da empresa, além de promover a entrada da marca em novos segmentos de mercado.

Em um papo de peito aberto com o Startups, Phillip detalhou seus primeiros seis meses à frente da Wayra Brasil e do Vivo Ventures, falando sobre as estratégias de alocação de capital, expectativas de investimento e oferecendo suas perspectivas sobre o mercado de Corporate Venture Capital (CVC), tanto no Brasil quanto no exterior.

Veja, a seguir, os melhores momentos da conversa:

Qual foi a sua principal motivação para ingressar na Wayra e no Vivo Ventures e abraçar esse novo desafio?

Treinei bastante meu olhar como venture capitalist durante minha experiência em gestoras independentes. Aprendi a focar no alfa, ou seja, na capacidade da startup de multiplicar seu valor em pelo menos 10 vezes. Esse é um viés muito financeiro, que prioriza menos as sinergias e a geração de valor, concentrando-se mais na execução. Por conta disso, minha relação com as empresas era um pouco mais distante, sem estar tão envolvido no dia a dia delas.

Como corporate venture capitalist (CVC), o olhar é mais prático, quase como o de uma fábrica, focado em fazer as coisas acontecerem. Nossa proposta é construir, junto com o empreendedor, novas soluções. Um exemplo disso é o trabalho que realizamos na Vivo com a Klubi Vivo, nossa empresa de consórcios. Criamos do zero um produto de compra planejada de celulares. Esse resultado é mérito tanto do empreendedor quanto do nosso time, que oferece todo o suporte necessário.

Hoje, consigo ver o impacto de perto, em primeira mão. Diferente de antes, quando eu tinha uma abordagem mais distante, agora participo diretamente na construção das soluções. Essa mudança de paradigma complementa o conhecimento que já tinha.

Como você define o momento atual da Wayra Brasil e do Vivo Ventures?

É, sem dúvida, um momento positivo. Mantemos uma postura consistente de alocação de capital, com estratégias estáveis, variando apenas nos estágios das companhias em que investimos. Desde sua chegada ao Brasil, em 2012, a Wayra atua como um fundo early stage e já investiu em 87 startups brasileiras. Hoje, temos um portfólio ativo com 25 startups, sendo que 40% delas possuem contratos em vigor com a Vivo. Nossa operação inclui entre três e quatro deals anuais, com cheques de até R$ 2 milhões, e devemos seguir nessa trajetória.

Uma métrica fundamental para nós é a geração de negócios entre as startups da Wayra Brasil e a “nave-mãe”, a Vivo. Esse número reflete o impacto que criamos tanto para a corporação quanto para o portfólio, e tem crescido consistentemente ao longo dos anos.

Já o Vivo Ventures, lançado em 2022, tem uma tese voltada para cheques maiores, de até R$ 30 milhões, focando em startups a partir da série A. Até agora, investimos R$ 144,2 milhões, o que representa 45% do capital total do fundo, que soma R$ 320 milhões. Entre as sete startups já apoiadas estão Klavi, Klubi, Digibee, Conexa, CRM Bônus, Agrolend e Lend, e ainda temos recursos disponíveis para novos aportes.

Nossa tese é bastante abrangente, priorizando empresas que acelerem o ecossistema da Vivo, seja no B2C ou no B2B, com soluções horizontais e verticais. O momento, claro, é marcado pela inteligência artificial, e já estamos implementando diversas soluções internamente para aumentar a produtividade e reduzir custos. Além disso, buscamos startups de IA com aplicações para as diferentes indústrias nas quais a Vivo está presente.

Quais são as suas perspectivas para o mercado de CVC no Brasil e no exterior?

Em uma perspectiva global, percebo um crescimento constante na participação corporativa em venture capital. Há décadas, empresas vêm estruturando práticas de CVC, criando unidades dedicadas a investimentos e inovação. Isso demonstra o quanto é estratégico para as corporações estarem próximas ao ecossistema de startups, inclusive assumindo o risco de disrupção dos próprios negócios. Esse movimento já se consolidou globalmente, tanto em frequência quanto em escala.

No Brasil, entretanto, o ecossistema ainda é incipiente quando comparado a economias mais desenvolvidas. Muitas empresas estão começando a montar seus braços de investimento e acredito que esse ciclo continuará se expandindo. Com a tecnologia permeando todas as indústrias, é natural que novos CVCs surjam em setores variados.

Outro ponto positivo é a mudança na percepção dos empreendedores em relação às parcerias com corporações. Nos últimos anos, houve uma aceitação muito maior por parte das startups, que agora reconhecem o valor que essas parcerias trazem. Seja pelo acesso a recursos, entrada no mercado ou alinhamento estratégico, as startups estão enxergando os benefícios de priorizar essas colaborações, o que fortalece ainda mais o ecossistema.

Quem é Phillip Trauer fora do trabalho?

Mudei-me para os Estados Unidos aos 14 anos, com o sonho de seguir carreira profissional no golfe, uma paixão que carrego desde a infância. Cheguei a competir em um nível alto de amador até que, aos 19 anos, decidi voltar ao Brasil. O golfe ainda tem um papel significativo na minha vida, embora hoje seja um hobby.

Além do esporte, sou apaixonado pelo mundo das artes. Em São Paulo, vou desde grandes shows em estádios a apresentações intimistas de jazz ou concertos de música clássica na Sala São Paulo. Também adoro teatro e cinema – inclusive, me considero um cinéfilo.

Sou fã de leitura, especialmente sobre temas ligados à inovação, que é algo que me fascina. Ultimamente, tenho explorado muito conteúdos sobre inteligência artificial, blockchain e criptomoedas.

Também adoro podcasts, sou quase viciado, diria. Para se ter uma ideia, em 2024, escutei mais de 11 mil horas de podcasts, segundo minha retrospectiva do Spotify. Consumo conteúdos sobre história, mercado internacional e temas variados relacionados ao Brasil.

Raio X – Phillip Trauer 

Um fim de semana ideal tem… sol

Um livro: “A psicologia financeira: lições atemporais sobre fortuna, ganância e felicidade”, de Morgan Housel

Uma música: “Desolation Row”, de Bob Dylan

Uma mania: Organização

Sua melhor qualidade: Organização