5 Minutos com

5 Minutos com: Rafael Stark, founder e CEO, Stark Bank

Executivo fala sobre as motivações para empreender, o momento atual do Stark Bank e a importância da fintech em sua vida

Rafael Stark
Foto: Divulgação/Arte por Startups.com.br

Rafael Stark é workaholic assumido, e tem a teimosia e a resiliência como algumas de suas melhores qualidades. Ainda jovem, mudou-se de Goiânia para o estado de São Paulo para estudar engenharia no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) – não porque queria exercer a profissão, mas porque alguém comentou que era difícil e ele queria provar que conseguia.

Corta para 2023, Rafael tem o orgulho de falar que dedica a sua vida ao Stark Bank, banco digital voltado ao atendimento a grandes empresas. Não à toa, adotou o sobrenome “artístico” após batizar o banco. O nome vem do termo alemão “Stark”, que significa “forte” e remete à solidez de algo.

Fundada há 5 anos na capital paulista, a fintech atraiu investidores globais como o Bezos Expeditions, fundo pessoal do fundador da Amazon, Jeff Bezos. A startup conta com mais de 300 clientes da nova economia como Buser, Loft, Quinto Andar, Kovi, Bitso, Cora e grandes entreprises como Grupo Ultra e Colgate.

Em um papo de peito aberto com o Startups, Rafael falou sobre as motivações para empreender, momento atual do Stark Bank e a importância da fintech em sua vida. Veja, a seguir, os melhores momentos da conversa.

Você é engenheiro de formação. O que te motivou a mudar de área de atuação profissional e qual foi a sua motivação pessoal para empreender?

Sou um cara muito teimoso e resiliente. Alguém falou que era muito difícil entrar no ITA e que eu não conseguiria, então me dediquei para isso. Queria entrar no Instituto, não fazer engenharia, e fiquei 4 anos até conseguir. Durante a faculdade, sempre quis trabalhar no mercado financeiro, abrir uma gestora de recursos e trabalhar com investimento.

No entanto, percebi que minha vida havia ficado vazia: trabalhava 16 horas por dia em um banco gringo, depois chegava em casa e me deparava com um quarto branco vazio e um colchão. Em 2012, minha cabeça mudou e decidi trabalhar no mercado de tecnologia e startups. Arranjei um MacBook e aprendi a programar. Depois, consegui uma bolsa para estudar nos Estados Unidos, fui para o Vale do Silício, me apaixonei pelo ecossistema e decidi empreender.

Demorou até acertar a mão e chegar na Stark, foram quase 10 anos nessa jornada. Tenho algumas características importantes para empreender. Primeiro, sou muito aberto ao risco, algo que a maioria das pessoas não é. Também é necessário ser resiliente, porque as coisas demoram e são difíceis. E ter a consistência de que a cada semana, mês e ano deve melhorar continuamente tentando chegar no seu objetivo.

Fintechs são um dos setores mais afetados pelo cenário macroeconômico. Como tem sido esse momento para vocês e quais as estratégias para sobreviver à crise?

Parafraseando uma citação do Ayrton Senna que gosto muito, “Ultrapassar 15 carros debaixo do sol é muito difícil, mas quando está chovendo, é mais fácil para bons pilotos”. A gente começou a Stark com capital próprio e no início teve muita dificuldade de captar recursos, então já nascemos com muitas dificuldades financeiras.

Conseguimos fazer milagres e processar bilhões de reais por mês tendo levantado pouco capital, tudo graças aos talentos, capacidade de entrega do time e foco em melhorar o produto. Estamos acostumados com adversidades. Por exemplo, a pandemia foi algo bom para o negócio, porque já éramos uma empresa digital, e muitas companhias estavam entendendo que precisavam se digitalizar mais. Isso nos ajudou a continuar a crescer. 

Diferentemente de muitas startups, a Stark dá lucro todo mês e não consome caixa. Até mesmo no inverno das startups, em que um monte de empresa vai quebrar ou ser comprada, estamos bastante confortáveis porque levantamos muito dinheiro ano passado e não gastamos um centavo. Terminamos 2022 com lucro líquido de milhões de dólares e quase US$ 60 milhões líquido em caixa. Inclusive, recebemos propostas para dobrar ou quadruplicar o nosso valuation enquanto muitos estão fazendo downround para se manterem vivos.

Por que não aceitaram a proposta?

Não precisamos do dinheiro agora. Não estou fazendo uma startup para depois vendê-la e tirar uma liquidez disso, o Stark é meu plano de vida. Eu amo a empresa, tenho tesão por acordar segunda-feira e ficar até à noite por lá. Por que iria diluir a minha parte para pegar um dinheiro que não preciso e que vai ficar guardado no banco?

Quando precisar, vamos levantar o capital. E quando isso acontecer será até melhor, porque vamos diluir menos do que se tivesse captado no ano passado e em um valuation mais alto por ter executado mais coisas. Entendo que muitas startups não têm essa opção porque queimam caixa e precisam do dinheiro para sobreviver, mas não é o nosso caso.

Quanto o seu lado empreendedor toma da sua vida e como você faz para conciliar as responsabilidades?

Confesso que o balanço está desequilibrado. Sou um cara extremamente workaholic, acordo e durmo pensando no trabalho. Minha vida pessoal está deixada um pouco de lado. Tive uma namorada que acho que não aguentou porque a minha rotina é muito pesada. Para se ter uma ideia, estou quase comprando uma cama e colocando aqui na Stark. Não me importo, eu gosto. Tenho muito tesão pelo que estamos fazendo. 

Óbvio que seria melhor se eu começasse a fazer exercício físico ou outras atividades. De vez em quando tenho ido a alguns happy hours e jantares para fazer um networking, mas ainda é desbalanceado. Sou novo, tenho 34 anos, e estou bem de saúde, mas sei que é uma longa jornada e tenho que me cuidar porque capotar não ajuda as coisas. Mas, por ora, está desbalanceado.

Como estar à frente deste negócio te transformou como pessoa?

Às vezes fico espantado. Sou um cara simples, perdi o meu pai cedo, minha mãe é dona de casa, sai de Goiânia. Nunca imaginei uma realidade em que estaria conhecendo as pessoas que estou por conta da Stark. Ou que um cara do interior de Goiás seria sócio do Jeff Bezos, um dos empresários mais ricos do planeta que fundou uma empresa de bilhões de dólares como a Amazon. É fantástico, não tenho como descrever.

Meu sentimento é de gratidão. Coisas ruins acontecem com todo mundo e com bastante frequência, mas o importante é como você lida com isso. Quando me mudei para São Paulo após o ITA, tinha 5 meses para pagar aluguel e comida. Se não conseguisse me sustentar, teria que voltar a morar com a minha mãe. Mas estou aqui desde então.

Quais são as tendências e expectativas para o mercado financeiro e open banking?

Tem muita coisa rolando. Sem dúvida a rapidez com que o Pix cresceu foi uma surpresa. É um meio de pagamento que ainda tem muito a evoluir, principalmente para e-commerces e aplicações de compras recorrentes, Pix Offline e Pix Automático. São desafios bacanas. 

Em relação ao Open Banking, temos que ver como as pessoas vão se comportar quando se tem acesso às informações, e o que isso vai gerar, mas há muitas oportunidades. No Brasil tem espaço para quem quiser empreender, porque o mercado carece muito de produtos e soluções. Estamos bem atrás de países mais desenvolvidos e tem muita oportunidade não só no mercado financeiro mas em todas as áreas no geral.

Raio X – Rafael Stark

Um fim de semana ideal tem: Esqui

Um livro: O último que li foi “A Startup Enxuta” (ou “Lean Startup”), de Eric Ries

Uma música favorita: “Highway to Hell”, AC/DC

Um prato preferido: Polvo grelhado

Uma mania: Mexer a perna

Sua melhor qualidade: Resiliência