O CondoConta conseguiu o que muitas startups sonharam em fazer no último ano. Navegou por um mercado instável com consistência, aumentou o número de clientes e, de quebra, captou R$ 100 milhões em duas rodadas de investimento com fundos de peso como EXT Capital, SYN Proptech, Endeavor Scale-Up, Terracotta Ventures, Redpoint eVentures e Igah Ventures.
Com o caixa reforçado, a fintech, que atua como um banco exclusivo para condomínios, tem metas ambiciosas para serem alcançadas ainda em 2024. Segundo o CEO, Rodrigo Della Rocca, a expectativa é dobrar a base de condomínios de cinco mil para 10 mil até dezembro e atingir o esperado break-even neste mesmo período. Tudo isso, consolidando a empresa como líder de seu setor entre os condomínios de todo o Brasil.
Em um papo de peito aberto com o Startups, Rodrigo falou sobre as estratégias do CondoConta para atrair investidores em um contexto de mercado desfavorável, a responsabilidade de empreender no setor financeiro e imobiliário e os planos da fintech para 2024. Veja, a seguir, os melhores momentos da conversa:
O CondoConta recebeu R$ 100 milhões em aportes em 2023, em meio a um período de grande retração no venture capital. Quais foram as estratégias para navegar neste período e atrair investidores?
Muita consistência. O CondoConta nasceu no bootstrap. Não tínhamos dinheiro em abundância inclusive para fazer as operações de crédito. Era um risco total dos fundadores. Logo no início, combinamos de construir uma empresa grande, com o propósito de transformar a vida em condomínio, e atuar como se já fossemos uma empresa multimilionária com super investidores. Então, éramos organizados desde o dia zero.
Quando começamos a captar, conversei com muitos investidores no Brasil e fora – desde a rodada seed falei com mais de 120 deles. Alguns poucos disseram e começaram a investir no CondoConta desde o início. Desde então, mantivemos um relacionamento consistente com vários investidores, reportando os resultados, crescimento e pedindo ajuda para solucionar alguns desafios. Sempre recebemos muitos conselhos mesmo dos investidores que nos disseram não lá no começo. Muita ajuda e networking.
Esse contato se manteve ao longo dos anos e, em 2022, quando o mercado começa a retrair, o CondoConta não parava de crescer. Acredito que o que nos fez ter sucesso e levantar um valor tão relevante de investimento foi continuar crescendo com o pé no chão, não a qualquer custo e, principalmente, o relacionamento consistente de troca, que é algo muito maior do que o dinheiro. Levantar R$ 100 milhões em um ano com o mercado ruim foi uma consequência disso tudo. Foi um negócio natural que aconteceu e não que a gente estava buscando fazer. Foi o fruto dessa plantação.
Como você lida com o peso da responsabilidade de comandar a empresa e não deixar clientes, investidores e colaboradores na mão?
Com muita meditação e oração. Sempre começo o dia orando para Deus e meditando. Pedindo ajuda, clareza e inteligência. Depois, parte de mim fazer o trabalho necessário. Abrir uma empresa no Brasil já é um baita desafio, independentemente do setor. Já é uma responsabilidade. No caso do CondoConta, estamos basicamente juntando dois dos mercados mais antigos do mundo em uma única empresa – o mercado financeiro e o imobiliário. Então, isso na nossa visão eleva ainda mais a responsabilidade.
Sempre tivemos a consciência de que, ao cuidar do dinheiro de um condomínio, estamos cuidando do dinheiro de várias famílias. Nosso cliente tem um alto nível de exigência. Se você pede pizza em um app e a comida atrasa, dificilmente decide deletar o aplicativo. Pode ficar bravo, reclamar, mas continua usando. Mas se você entra em um banco e há um problema no extrato ou alguma conta que não fecha, provavelmente vai perder a confiança e trocar de banco. Então não existe margem para erro.
Além da meditação e da oração, é importante estar próximo do cliente. Quase todo o roadmap de lançamento ou operação é feito com o cliente, trazendo ele para as nossas conversas sobre o produto, mostrando o que estamos pensando em fazer e trocando ideia com os síndicos, as administradoras e os moradores. Problemas existem, é natural em toda empresa, mas o diferencial é o quão rápido a gente resolve o problema. A forma que encontramos foi trazer o cliente para o nosso lado. Saber lidar com problemas e resolvê-los rapidamente, somado à consciência da alta responsabilidade, é o que nos ajuda a viver, respirar e levantar a cabeça para dar bons passos sem deixar que o ambiente, às vezes, caótico tome conta.
Quais são as prioridades do CondoConta para o próximo ano?
O mercado de condomínios é crescente no Brasil. Atualmente, são pouco mais de 500 mil condomínios espalhados pelo país, incluindo projetos residenciais, comerciais, horizontais, verticais, entre outros.
Definimos a meta agressiva de chegar na marca de 10 mil condomínios em 2024, que ainda é apenas uma gota no oceano. Começamos o ano com três mil condomínios pelo Brasil. Agora, estamos na faixa dos cinco mil, que já abrangem 500 mil moradores. O objetivo audacioso é chegar a 10 mil condomínios até dezembro, com cerca de 1 milhão de pessoas atendidas e 1 bilhão de transações e depósitos.
Essa é a nossa estratégia de liderança e conquista de mercado, além de ser a nossa estratégia de receita, com a projeção de alcançar o break-even também em dezembro.
Você sempre quis empreender ou o sonho da CondoConta surgiu depois?
Quando era criança e adolescente, a única coisa que estava no meu radar era ser jogador de futebol. Sempre gostei muito e estava inserido nisso desde pequeno. Queria me dedicar ao futebol, então treinava de segunda a sexta e tinha jogo nos fins de semana. Tinha que conciliar isso com o estudo e, geralmente, deixava o estudo em segundo plano para jogar bola.
Nasci e cresci vivendo em condomínio e, por estar sempre inserido neste ambiente, percebia as coisas boas e aquilo que não era tão legal. Com cerca de 16 anos, já pensando em vestibular, decidi deixar o futebol e prestar Direito. Durante a faculdade, estagiei em uma administradora de condomínios e notava que era um negócio que se desenvolvia a nível global e uma tendência independentemente do tamanho da cidade. Naquela época, descobri que uma das principais demandas do setor era relacionada a conflitos de cobrança e organização das finanças.
Comecei a participar de assembleias de condomínio e vi que eram sempre umas 20 ou 30 pessoas que se reuniam no salão de festas e começavam a brigar por algo que poderia ser resolvido de forma muito mais produtiva e harmoniosa. Enxerguei uma grande oportunidade de negócio. Ainda na administradora de condomínios, comecei a naturalmente migrar da área jurídica para a de vendas, vendendo novos contratos. Já formado, estava claro para mim os problemas daquele setor, como briga de vizinho, falta de transparência, desconfiança e gestão do dinheiro.
A conta dos condomínios eram muito diferentes de uma conta pessoa física ou pessoa jurídica. Na conta PF, a gente é o dono do dinheiro, faz o que quiser com ele e não presta conta para ninguém. Já na conta PJ, o dono da empresa escolhe o que fazer com o dinheiro. Já nos condomínios, o síndico é só um representante escolhido para cuidar do dinheiro que, no fim do dia, pertence a centenas de famílias. Então, a necessidade de prestação de contas e de transparência é muito maior do que a de uma conta e um dinheiro normal.
O embrião da CondoConta foi quando eu e o Marcelo Cruz (cofounder) começamos a fazer financiamento para condomínios e vimos um horizonte muito claro no qual o financiamento condominial era apenas a ponta do iceberg. Estava claro que precisávamos fazer um coração financeiro para condomínios e ser o primeiro banco para este setor.
Raio X – Rodrigo Della Rocca
Um fim de semana ideal tem… futebol e tênis
Um livro: “The Hard Thing About Hard Things”, de Ben Horowitz
Uma música ou artista preferido: 50 Cent
Para relaxar… Sauna
Uma mania: Estar sempre ligado e conectado
Sua melhor qualidade: Intensidade