Tássia Skolaude é, em suas próprias palavras, uma pessoa inquieta. Com quase 20 anos de experiência em comunicação corporativa e desenvolvimento de negócios, dedicando a última década à tecnologia e inovação, a executiva trabalhou em grandes empresas como Grupo RBS, Campus Party Global, Globant Create e Meta IT até que, no ano passado, decidiu tirar um período de folga para recuperar as energias.
Mas o que era para ser um projeto de sabático acabou se tornando apenas umas férias estendidas. Em abril de 2024, após quatro meses de pausa do mercado, ela assumiu a área de marketing do Mercado Bitcoin (MB), a maior plataforma de investimentos em ativos digitais da América Latina. “Almas inquietas, como a minha, têm dificuldade em ficar paradas”, escreveu Tássia no LinkedIn ao anunciar a nova posição.
Em paralelo a seus trabalhos no MB, ela criou o Beyond, movimento global de apoio à adaptação climática do Rio Grande do Sul criado junto de outros executivos para enfrentar a crise das chuvas e desenvolver políticas de reconstrução após o desastre. Tássia também é cofundadora do Women In Innovation Brazil, membro e co-fundadora do CRI Mulheres (Centro de Referência em Inovação – Capítulo Mulheres) junto à Fundação Dom Cabral e presidente do IE University Alumni Club no Brasil.
Em um papo de peito aberto com o Startups, Tássia falou sobre o momento atual do MB e suas prioridades como Chief Marketing Officer (CMO) para o fortalecimento da marca no Brasil e internacionalmente. Além disso, ela falou sobre a importância das lideranças se mobilizarem para transformar o ecossistema e os desafios de lidar com as demandas de tantos projetos simultâneos, pessoal e profissionalmente.
Veja, a seguir, os melhores momentos da conversa:
O que te motivou a fazer parte do Mercado Bitcoin?
Nesses quase 20 anos de carreira, saí da última empresa no ano passado e decidi fazer uma pausa. Mas sou uma pessoa bastante inquieta, então o sabático não durou muito tempo. Passei dois dos quatro meses fazendo trabalhos voluntários para o ecossistema de inovação. E foi ótimo, porque eu fui sem esperar nada, não queria descobrir nada. A ideia era só fazer uma pausa, mas acabei descobrindo uma série de coisas.
Descobri onde queria colocar os meus centavos e a minha contribuição no meu próximo desafio. Mesmo sem procurar ativamente, recebi convites para virar sócia de alguns negócios, mas não me enxergava neles. Eram negócios mais estabelecidos, que já estavam prontas e em que os meus centavos fariam pouca diferença, pois só daria para mexer um pouco o ponteiro.
Quando recebi o convite do MB, me deparei com uma empresa que eu achava que conhecia, mas que acabei conhecendo muito mais. Inicialmente, a ideia era eu prestar consultoria para um projeto do MB, mas acabei ficando. Entendi que queria participar de um negócio onde eu pudesse construir. Então, o que me fez topar a oportunidade foi a possibilidade de entrar em uma empresa que quer ser a nova infraestrutura de mercado, que quer ser uma plataforma líder e que veio para revolucionar o mercado financeiro.
A possibilidade de criar algo que ainda não está 100% pronto, que ainda tem espaço para construir, para crescer, para contar para o mercado, é onde me encaixo. Acho que sou uma boa construtora. Não sou uma pessoa para tocar algo que já está pronto. Gosto de tirar coisas do papel e participar de algo em que possa construir um negócio que vai fazer diferença no mercado.
Quais têm sido os seus maiores desafios à frente da área de marketing da empresa?
O maior desafio é contar para o mercado que o MB é uma empresa muito maior do que o mercado possivelmente está vendo. A primeira coisa que pensei quando assumi como CMO foi “Nossa, a gente tem uma empresa muito mais legal, interessante e poderosa do que eu imaginava. Contar essa história para o mercado e passar a confiança de que somos uma empresa pioneira, inovadora, ética e segura, além de super preocupada com o cliente e muito à frente do seu tempo é um belíssimo desafio.
Como CMO, é um trabalho de marketing muito bom porque não preciso criar ou inventar uma história para passar para o mercado. Só preciso encontrar o caminho para contar tudo o que já fazemos. Então, encontrei aqui uma empresa bem robusta com um time de especialistas que, sem dúvidas, é um dos melhores no mercado de cripto na América Latina, trabalhando pelo produto e pela empresa. Agora, temos que converter isso tudo em marca, posicionamento e história.
Como você define o momento atual do MB e quais as prioridades da para o próximo ano?
Vamos contar essa história para que a empresa seja vista no mercado com a grandeza que já tem. Além disso, tem uma questão bastante relacionada com o mercado. O MB nasce em 2013 como uma empresa muito nichada, com foco em cripto.
Hoje, o MB é muito mais do que cripto e muito mais do que bitcoin, ainda que esse seja um percentual muito relevante e estratégico de clientes e receita. Tem um outro lado do MB como uma plataforma de investimento em ativos digitais. Vamos trabalhar esse posicionamento, deixando claro que o MB é tão seguro e confiável quanto investir em um outro banco tradicional. Mostrar que o MB é um player que veio para ficar, com mais de 11 anos de história e quatro milhões de clientes.
Ir muito além do bitcoin e ser, de fato, uma infraestrutura que permite investimentos em ativos digitais. É isso que a gente tem trabalhado muito, inclusive mostrando outros caminhos de investimento e contando para as pessoas que seu dinheiro está seguro, que somos uma empresa pró-regulação, próxima dos principais regulador como CVM, Banco Central e associações para trazer a maior segurança para quem investe conosco.
Você criou projetos de impacto como o Women in Innovation e o Beyond. Qual é a importância das lideranças assumirem compromissos sociais e de apoio ao ecossistema?
Como uma pessoa inquieta, por que não ter outros projetos se já não tenho tempo nem de respirar? Acho que muitos desses projetos são uma questão de acesso. Ou seja, tenho o acesso e a capacidade de influência, de me mobilizar com outros líderes e com o mercado. E acho que está no meu papel como líder fazer essas coisas.
Sou uma grande entusiasta da participação de mulheres no mercado de trabalho, especialmente em tecnologia e em posições de liderança. A primeira coisa que fiz pelas mulheres no mercado foi quando liderei um evento de inovação e user experience e bati o pé para que 50% da programação do palco fosse feminina. Percebi que eu, como CEO do evento, tinha a possibilidade de fazer um direcionamento para que mais mulheres se enxergassem no palco. E isso não é só uma possibilidade; É quase o meu dever ajudar a mexer nesse ponteiro.
Infelizmente, não tenho o poder de mudar tudo e criar uma lei para que todas as empresas tenham 50% de mulheres em todos os seus eventos. Mas se eu consigo influenciar positivamente, estou fazendo a minha parte como líder. É ir além do papel de líder na empresa em que atuo e usar, com responsabilidade, as possibilidades que o poder do meu cargo me dá.
Criei o Beyond quando fiquei presa em São Paulo durante as enchentes no Rio Grande do Sul. Era aniversário da minha mãe e eu não conseguia voltar. Pensei em ir de carro com o meu marido e chegar da forma que fosse possível ou aproveitar o acesso a contatos que eu tenho para fazer algo. Liguei para todo mundo do mercado que eu podia, porque tinha acesso a uma pessoa que conhecia outra que podia ajudar a enviar produtos de limpeza para o RS.
Isso é uma conquista de carreira e de relacionamento, mas também da posição de liderança. A gente constrói o mercado e a gente consegue ampliar as possibilidades de participação sendo um exemplo para outras pessoas e usando o nosso “poder”, ou seja, as possibilidades que os nossos cargos de liderança nos dão. E acho que cada centavo conta e cada pequeno movimento ajuda para mexer o ponteiro.
Como você faz para segurar tantos pratinhos e dar conta de todas as demandas?
Não seguro. Teve um dia que eu desabei enquanto tentava ajudar nas tragédias no Rio Grande do Sul. A gente tinha que mandar uma carga para a região e estávamos contando uma malha aérea de pilotos voluntários indo de jatinho, mas eles não conseguiam pousar em Pelotas (RS). É claro que tem uns momentos em que desabo.
Não tem como segurar todos os pratinhos, não preciso mentir. O dia tem 24 horas e chega um momento em que ele acaba. Várias vezes penso “será que se eu virar a noite hoje, consigo colocar tudo em dia?” – e a resposta é não, porque sempre surgem coisas novas e a gente tem que descansar.
Acho que equilibrar os pratinhos é uma grande ilusão. Temos que priorizar e cuidar da cabeça. Sou uma pessoa super preocupada com saúde mental, cuido da minha há mais de uma década e considero fundamental. Beber água, se alimentar corretamente, fazer exercício e pegar um sol. A gente precisa cuidar da gente para poder cuidar dos outros. Eu consigo cuidar das pessoas e dos projetos se estiver minimamente equilibrada, e isso tem a ver com saúde mental, saúde física, alimentação e por aí vai.
Quem é Tassia Skolaude fora do trabalho?
Não sei quem inventou que tem que separar vida pessoal e profissional. É vida e ponto. Não tem como ser duas pessoas. Você pode ter alguns filtros, segmentar o público ou a audiência. Para alguns, você conta uma coisa e para outros, fala outras coisas. Mas eu sou muito isso aqui. Acredito pouco na divisão.
Inclusive, os projetos que acabei montando, como o Women in Innovation e o Beyond, foram possíveis porque reuni pessoas dos meus afetos, e muitas delas conheci no trabalho. Quando consigo movimentar várias pessoas para que façam um evento para mulheres em inovação, faço isso usando os meus relacionamentos pessoais. Mas são relacionamentos pessoais que 60% a 80% eu formei em ambiente de trabalho.
Gosto muito de criar conexões valiosas e poderosas, faço isso genuinamente, mas com intenção. Me preocupo muito com os relacionamentos na vida, no trabalho e para fins mais ou menos pessoais. Mas sempre fui uma pessoa que mistura muito. Se tem alguém com quem me dou super bem no trabalho, não tenho nenhuma dúvida de convidar para jantar na minha casa ou de sairmos juntas. Acho muito mais gostoso ter a leveza de estar próximo de pessoas que você gosta, que tenham uma questão de pertencimento que vai muito além do que você está fazendo pelo CNPJ.
Quase todos os meus amigos, inclusive alguns que foram meus padrinhos de casamento, são pessoas que conheci em ambientes profissionais. Gosto de ser do jeito que sou, sem muita divisão. Fora do horário de trabalho, adoro viajar, tomar um vinho e sou muito fã de gato – a minha sempre aparece nas reuniões.
Raio X – Tássia Skolaude
Um fim de semana ideal tem… praia e um longo café da manhã
Um livro: Devorei os livros da Elena Ferrante e da Carla Madeira, e agora estou lendo “AI or Die: A guide for leaders”, de Jack Hidary
Uma música: Adoro “Human”, de The Killers, e amo samba
Uma mania: Não sobrevivo sem cafeína
Sua melhor qualidade: Fazer as coisas com leveza e bom humor