A Conta Azul é uma das veteranas do ecossistema de startups brasileiro. Fundada em 2012, quando mal se falava em startups e venture capital no país, a fintech oferece um ERP (Sistema de Gestão Financeira) em nuvem para cerca de 100 mil clientes em todo o Brasil, com o intuito de ajudá-los a automatizar rotinas financeiras e organizar informações para terem mais controle, tempo e previsibilidade para a tomada de decisões.
O negócio foi fundado por João Zaratine, José Sardagna e Vinicius Roveda, executivo que atua há mais de 20 anos no mercado de tecnologia e internet e tornou-se referência em negócios e empreendedorismo no Brasil. Formado em Ciências da Computação, com MBA em Gestão Empresarial e especializações em Harvard e na Insead, Vinicius idealizou a Conta Azul com objetivo de transformar a realidade de empreendedores por meio da tecnologia e, desde então, comanda a fintech que aos poucos se tornou um dos cases SaaS mais bem sucedido do Brasil.
Em um papo de peito aberto com o Startups, Vinicius falou sobre os desafios para a criação da Conta Azul no Brasil, os maiores aprendizados ao longo dessa jornada e suas perspectivas para o próximo ano. Veja, a seguir, os melhores momentos da conversa
A Conta Azul foi fundada em uma época em que o mercado startups no Brasil ainda era bastante incipiente. Como foi empreender neste momento e viver essa experiência?
Tive a ideia em 2007/2008 e decidi empreender logo depois que terminei o MBA. Tentei fazer a ideia da Conta Azul funcionar duas vezes, mas não deu certo. Os conceitos de venture capital e startups eram pouco falados no Brasil naquela época.
A gente queria atender um mercado muito grande oferecendo um produto que simplificasse toda a complexidade do setor e falasse a língua de empresas menores. Não havia uma solução de ERP para micro, pequenas e médias empresas, que apoiasse uma questão fundamental para o sucesso dos negócios: a rotina financeira. O desafio era simplificar toda essa complexidade com um produto de fácil adoção, baixo nível de investimento e baixo custo de treinamento, mas que, ao mesmo tempo, fosse completo o suficiente para atender às necessidades das empresas menores.
O resultado disso era uma empresa cujo modelo de negócio daria resultado mais no longo prazo. Só que montar um modelo de software as a service, com receita recorrente e construindo o produto com todas essas características eram coisas pouco faladas no Brasil, não havia outras referências com quem pudéssemos conversar. Para criar esse modelo, precisávamos de um investimento inicial um pouco menor. Não encontramos aqui no Brasil, e a 500 Startups nos deu a oportunidade de passar pelo processo de aceleração nos Estados Unidos. Fomos para os EUA pelo gap que existia no Brasil. A Conta Azul surgiu de fato entre 2011 e 2012, quando fomos acelerados pela 500 Startups, no Vale do Silício. Foi aí que o projeto tomou forma e conseguimos lançar o produto no mercado.
Quais foram os maiores aprendizados dessa experiência que você carrega até hoje?
Empreender é um jogo de longo prazo. Tudo o que eu planejei nos primeiros anos não aconteceu. tudo que imaginei que estava preparado, com conhecimento, reserva financeira, sabia exatamente como era o produto e o mercado funcionava, todas as planilhas que eu fiz. Percebi que eu não entendia o suficiente, precisava aprender mais com os clientes. O dinheiro que eu tinha guardado acabou muito rápido, voltei a morar com os meus pais e a gangorra emocional foi um grande desafio.
O maior aprendizado é estar muito bem preparado do ponto de vista de entender realmente o mercado, os clientes, a velocidade para construir um bom produto, testar as coisas e aprender rapidamente. É um grande desafio do início da jornada, e ter pessoas ao seu lado te apoiando faz toda a diferença.
Como você descreve o momento atual da Conta Azul e o que podemos esperar para 2024?
Depois de 12 anos, a gente vive um momento muito bom, em que a Conta Azul saiu daquela startup de três fundadores e poucos clientes, hoje é uma das principais empresas de tecnologia do país. No segmento de ERP em nuvem que atende micro, pequenas e médias empresas, somos a principal empresa que conseguiu construir um modelo de negócio e tem um nível de qualidade de serviço bem alinhado com o mercado. A gente vem fazendo um bom trabalho nesse aspecto e temos clientes em todos os Estados do país.
Estamos muito felizes de estarmos neste nível. Apesar de termos quase 100 mil clientes, ainda estamos no dia 1 considerando o tamanho do mercado. É muito grande e precisa de muita ajuda. Tem um grande trabalho pela frente e estamos motivados com todo o potencial que temos para chegar cada vez mais longe e apoiar ainda mais empresas.
A gente percebe o Brasil evoluindo em todos os aspectos, com o grande desafio de cultura de gestão financeira. O mundo vive um momento de escassez de liquidez, com empresas precisando cada vez mais eficiência e a competitividade aumenta muito. É crucial para qualquer empresa ter uma boa disciplina financeira. A gente viu uma grande evolução nesse sentido, os empreendedores estão mais conscientes de que, independentemente do tamanho e da maturidade do negócio, ter as finanças organizadas desde o início ajuda muito.
2024 será uma continuidade disso. Os contadores e empreendedores entendem que ter ao seu lado um ERP mais estratégico que facilite e automatize a gestão financeira é um elemento de sucesso. A gente fica feliz de ver a Conta Azul como grande protagonista de educação para o mercado, com produto que atende cada vez mais necessidades, segmentos e perfis de empresas. Tem muito trabalho pela frente, mas tudo que a gente vê acontecendo hoje é um sonho realizado.
Quais os principais diferenciais competitivos da Conta Azul atualmente, em um mercado cada vez mais competitivo e com novas soluções de ERP?
De certa forma, quando a gente olha para o segmento em que atuamos, vemos cada vez menos concorrência. A Conta Azul passou por uma grande jornada de 12 anos em que entendemos profundamente as dores das empresas que não tinham soluções que atendessem suas necessidades. É um jogo de muito longo prazo, exige que você construa um produto que fale essa língua, tenha um nível de serviço muito escalável e facilite o serviço de contabilidade.
Quando olhamos todos esses componentes juntos, não vemos outras empresas conseguindo demonstrar os resultados que estamos apresentando. Inclusive, vimos algumas empresas atuando nesse mercado declarando saída do Brasil, como aconteceu com a Intuit (QuickBooks) no ano passado, por conta de toda essa complexidade. A Conta Azul mantém o foco de atender esse mercado e a disciplina de continuar evoluindo todos os anos. A gente olha pouco pela concorrência, não por desprezá-la, mas porque o mercado é gigantesco e ainda tem muito problema para ser resolvido. A empresa demonstra um crescimento sustentável, com serviço de qualidade, algo que sempre buscamos.
Raio X – Vinicius Roveda
Um fim de semana ideal tem: Família
Um livro: A biografia do Barão de Mauá
Uma música: “Rock and Roll”, de Led Zeppelin
Uma mania: Vejo as coisas no detalhe
Sua melhor qualidade: Equilíbrio