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Enquanto muitas crianças pensavam em se tornarem médicos, professores, artistas ou jogadores de futebol, Vitor Torres queria ser aventureiro. E, de certa forma, ele realizou os sonhos de menino ao se tornar empreendedor. “Sempre quis ir para o desconhecido, montar coisas novas e inventar algo para fazer. Então, para mim, empreender é uma grande aventura”, afirma, em entrevista ao Startups.

Após as primeiras experiências com a Mind On – Educação Corporativa e a aceleradora Supernova, ele criou a Contabilizei, startup que oferece uma plataforma online para micro e pequenas empresas terem mais praticidade, transparência e economia ao lidar com a contabilidade. Fundada em 2013, a companhia conta com mais de 50 mil clientes, distribuídos em mais de 50 cidades pelo Brasil, e atraiu diversos investidores de peso, incluindo Kaszek, Goldman Sachs, Point72 Ventures e SoftBank, que há cerca de dois anos liderou a rodada série C da Contabilizei, no valor de R$ 320 milhões.

Em um papo de peito aberto com o Startups, Vitor falou sobre alguns dos principais desafios de sua jornada empreendedora e as estratégias da empresa para crescer mesmo durante o turbulento inverno das startups que afetou o mercado nos últimos anos. Além disso, compartilhou o momento atual e a visão de futuro da Contabilizei, e as oportunidades de expansão da startup no mercado brasileiro.

Veja, a seguir, os melhores momentos da conversa:

Quais foram as motivações para empreender e criar a Contabilizei?

Minha história com o empreendedorismo começou ainda criança. Meus pais têm formação tradicional – ele é engenheiro e ela, dentista – e lembro que sempre perguntavam o que eu queria ser quando crescesse. Minha resposta sempre era “quero ser aventureiro”, e eles não conseguiam entender como viver de aventura. Sempre quis ir para o desconhecido, montar coisas novas e inventar algo para fazer. Para mim, empreender é uma grande aventura. 

Por isso, foi algo natural. O meu caminho foi reforçando ao longo do tempo. Ao passar por empresas de consultoria de gestão, vi que não era o que queria fazer. Sempre fui uma pessoa um pouco inconformada com a forma como as coisas são feitas. Gosto muito de buscar eficiência e enxergar oportunidades. Foi assim que pensei e planejei a Contabilizei.

Em 2012, eu tinha uma empresa de educação corporativa, que já era um empreendimento, e tive que contratar serviços de contabilidade. Foi quando senti a dor do contador e vi que era uma área muito ineficiente. Decidi unir a minha busca por eficiência com minha vontade de fazer algo novo e iniciar uma grande aventura com a Contabilizei – que já dura 11 anos.

Quais foram os maiores perrengues e desafios da sua jornada como CEO?

Empreender no Brasil já é desafiador por si só. É um país muito cíclico, com vários altos e baixos, uma montanha-russa que requer persistência, comprometimento e paixão. Foi isso que me levou a enfrentar todos os desafios. 

A Contabilizei entrega um serviço de contabilidade e tivemos o desafio de levar inovação para um mercado extremamente regulado. As autarquias e órgãos de classe que regulam a contabilidade no país não estavam prontos para a disrupção tecnológica. Muitas coisas que criamos não estavam claramente previstas pelas autoridades, embora existisse a base legal para que pudéssemos existir e operar.

Um dos grandes desafios foi ajudar a autarquia a percorrer esse caminho, mostrando que estávamos cumprindo com a base e que havia um caminho de mudança e evolução, fruto da tecnologia. Nesse contexto, houve muitas discussões e vários questionamentos sobre a forma como o nosso serviço deveria ser realizado, e conseguimos enfrentar tudo isso.

Além disso, tem toda a questão de empreender, como necessidade de caixa, crescimento e busca por investidores. Quando fundei a Contabilizei, em 2013, o mercado de venture capital ainda era escasso no Brasil, e tive dificuldades de encontrar um parceiro que pudesse investir na empresa. Felizmente, conseguimos o aporte da Kaszek, que investiu no Nubank na mesma época, que investiu em nós.

Depois, a companhia começou a escalar, crescendo 11 vezes ano contra ano e precisávamos de mais investimento para seguir expandindo com infraestrutura, tecnologia e pessoas. No entanto, não encontramos fundos brasileiros que pudessem colocar o cheque que precisávamos. Então, foi necessário acessar o mercado internacional. O desafio foi explicar para o investidor estrangeiro o que a gente faz com a Contabilizei, cujo produto é voltado especificamente para o mercado brasileiro.

Os VCs sempre fazem o benchmarking, procuram algum case semelhante para comparar o que a startup faz e o potencial daquilo, mas eles não tinham isso no caso da Contabilizei. Foi muito difícil mostrar para o venture capital de fora que a nossa tese daria certo. Mas conseguimos, uma série B liderada pelo Point72 Ventures, de Nova York.

Como tem sido empreender em um cenário de reajustes e retração de investimentos?

Para nós, sempre foi importante construir uma grande empresa e, para isso, é necessário pensar nos valores do negócio e trabalhar em cima deles, direcionando o produto e a forma como atende o cliente. Quando sua base é construir um produto que de fato resolve uma necessidade, capturar valor e operar com unit economics sustentáveis, não vai sofrer tanto quanto os outros.

A Contabilizei atravessou esse momento muito bem. Seguimos crescendo e não fizemos demissão em massa. Claro, fizemos alguns ajustes em termos de plano de agressividade de crescimento e expansão, mas crescemos a níveis bem acima do que outras startups investidas pelos nossos fundos. O que nos possibilitou vencer o momento complexo foi trabalhar muito bem o básico, ou seja, o fundamento do negócio – que é resolver um problema com um produto que faz sentido e ter uma companhia com propósito claro e cultura forte. Isso ajuda a navegar qualquer área e mar turbulento.

A última rodada da Contabilizei foi anunciada em março de 2022. Já estão estruturando a próxima captação? 

A companhia está em um momento de excelente equilíbrio financeiro e ainda tem caixa sobrando da última rodada. Estamos investindo do próprio caixa, e ainda temos oportunidades de crescimento, produto e tecnologia sem a necessidade de acessar o mercado neste momento. Nossa estratégia é trabalhar dentro de casa, buscando eficiência e fazendo com que o crescimento seja sustentado pela geração de caixa.

Estamos focados em seguir agregando produtos que façam sentido na jornada do micro e pequeno empresário. A gente ajuda ele abrindo negócio, cuidando da contabilidade, abrindo uma conta corrente, ofertando plano de saúde e oferecendo escritório virtual para aqueles que não têm endereço. A gente quer ampliar a jornada do cliente com produtos integrados em um ambiente único, a nossa plataforma.

A gente tem uma boa cobertura do serviço no Brasil, presente em mais de 50 cidades basicamente onde está presente grande parte do PIB brasileiro. Mas sabemos que para continuar impactando e ajudando muito mais o pequeno empreendedor, temos que agregar mais cidades. Mas fazer isso implica em novos investimentos e um novo entendimento daquela região, pois cada cidade tem as suas regras e o seu modo de operar. O foco é Brasil e vai continuar sendo Brasil por um bom tempo. Atualmente, temos menos de 1% do mercado. Já começamos a resolver o problema, mas temos muito mais oportunidade de resolver e de apoiar o pequeno empresário brasileiro.

Quem é Vitor Torres fora do trabalho?

Sou uma pessoa simples, que gosta de aproveitar as coisas simples da vida e que é muito família. Tenho uma esposa, duas filhas, quatro gatos e um cachorro. Também adoro ter o meu momento para ler um livro ou andar de moto. Gosto de natureza, de acampar, acender uma fogueira, às vezes, subir uma montanha e de viajar de vez em quando.

Prefiro as coisas básicas, gosto do fundamento, do feijão com arroz, do simples mas bem feito. Isso, para mim, tem um resultado exponencial ao longo do tempo muito forte. E também busco ajudar as pessoas a serem bem-sucedidas.

Só consigo ser um bom CEO porque tenho tenho uma base em cada uma das iniciativas que eu toco. Na empresa, tenho um time forte, o que me dá tranquilidade em saber que o cliente está sendo bem cuidado, com bons produtos e serviços. Na família, busco cuidar do relacionamento com a minha esposa e as minhas filhas, o que me propicia muito mais momentos de lazer e de paz do que momentos controversos.

Mas só consigo ser um bom CEO e ter uma boa relação com a minha família, se também cuido de mim mesmo. Gosto de correr, meditar, buscar o meu tempo para processar anseios, preocupações e agradecer por tudo que tenho. Isso me dá energia e tranquilidade para que possa tocar o dia a dia, que com certeza tem inúmeros desafios, como é inerente à vida.

Raio X – Vitor Torres

Um fim de semana ideal tem… Família, moto e churrasco

Um livro: “Vencedoras por Opção”, de Jim Collins

Uma música ou artista preferido: Bruce Springsteen

Uma mania: Buscar eficiência em tudo o que faço

Para relaxar? Natureza

Sua melhor qualidade: Perseverança

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