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5 Minutos com: Manoela Mitchell, CEO, Pipo Saúde

A empreendedora fala sobre sua trajetória, motivações e desafios profissionais, além de diversidade e planos depois da Pipo

Manoela Mitchell, cofundadora e CEO da Pipo Saúde
Foto: Divulgação/Arte por Startups

Quando criança, Manoela Mitchell queria ser presidente do Brasil. E, de certa forma, ela não desviou tanto dos sonhos de infância. Hoje ela é presidente – não do país, mas de uma healthtech: a Pipo Saúde. A startup foi fundada em 2019 e opera como uma corretora de gestão de planos de saúde para empresas.

Embora gostasse de jogar bola e videogame, ela foi, em suas próprias palavras, uma criança bastante autêntica. Ator preferido? Miguel Falabella. Ambições? Ser uma mulher de negócios e viajar pelo mundo. Decidida a ir atrás dos seus sonhos, estudou economia na Universidade de São Paulo, morou na França por 1 ano e trabalhou em empresas como Barclays Capital, Temasek e Actis, na área de investimentos.

A Pipo é a sua primeira empreitada, criada após uma especialização em empreendedorismo pela Universidade de Stanford, na Califórnia, ao lado do amigo de universidade, Thiago Torres, e do ex-Nubank, Vinicius Correa. Com a missão de revolucionar o mercado de saúde no Brasil, a startup levantou R$ 100 milhões em 2021 em uma rodada liderada pela Thrive Capital, um dos maiores investidores em saúde dos EUA.

Em um papo de peito aberto com o Startups, Manoela falou sobre sua trajetória, motivações e desafios profissionais, além de diversidade e planos para depois da Pipo. Veja, a seguir, os melhores momentos da conversa.

O que a Manoela criança pensava ser quando crescer?

Quando eu tinha 4 anos fui para uma feira de profissões na escola e queria ser presidente do Brasil. Eu era uma criança bem autêntica. Sempre gostei de política, não descartaria no futuro trabalhar com algo relacionado a políticas públicas, eventualmente ter um cargo técnico em algum governo. Mas quando virei adolescente, tinha uma ambição muito grande de viajar o mundo e ser uma mulher de negócios.

Acabei optando pela carreira de Economia, percebendo onde meus colegas de faculdade tinham abertura. Para onde estavam viajando e conhecendo outras pessoas. Fui parar no mercado financeiro, trabalhei no setor por 8 anos. Sou muito grata pela experiência, aprendi muito, mas fui gostando cada vez mais gostando das pessoas com quem eu me reunia – os empreendedores – e cada vez menos aspirando ser um dos meus chefes do mercado financeiro. Em 2018, deixei a área para empreender e estou nessa jornada até hoje, com 3 anos de Pipo Saúde e 1 ano antes dela.

O que te motivou a criar a Pipo Saúde?

Tinha uma motivação muito grande de criar algo que pudesse mudar e tornar mais acessível a saúde no Brasil. Esse era um setor em que eu já trabalhava há um tempo. Os 8 anos que passei no mercado financeiro foram olhando para o setor de saúde.

Mas também tive uma ambição pessoal de construir uma cultura onde as pessoas se orgulhassem de trabalhar, um ambiente onde as pessoas pudessem crescer. Construir um ambiente que eu não tinha vivido tanto no Brasil, profissionalmente. A minha carreira prévia à Pipo me ensinou muito mais sobre o que não queria fazer em uma empresa do que sobre o que eu queria ter. A startup veio da vontade de fazer as coisas de uma forma diferente no que diz respeito à organização.

Quais foram os principais desafios enfrentados na sua trajetória?

Começar em um setor em que não tinha familiares, exemplos e referências no meu dia a dia que me explicassem o que era aquele ambiente. Meus pais são professores de literatura, fui criada em uma casa bem diferente do que de uma pessoa de negócios. Não fui daquelas crianças que já vendia sanduíche de atum aos 5 anos e sabia que seria empreendedora. Minha carreira, tanto no mercado financeiro quanto empreendendo, aconteceu aprendendo com os outros, sem ter um lugar tão privilegiado de já ter isso em casa, ou meu pai conhecer um monte de gente.

Além disso, foi difícil pular tantas etapas da carreira ao empreender relativamente nova. Quando você empreende com 50 anos, provavelmente já foi líder de várias pessoas e tem muita bagagem. Quando faz isso na casa dos 30, que foi o meu caso, acaba pulando muitas etapas do desenvolvimento e precisa acelerar o seu desenvolvimento enquanto líder. Não tem um livro ou uma pessoa que te ensine isso, é tentativa e erro. Um terceiro desafio foiser uma mulher – desde que me conheço por profissional estou inserida em ambientes masculinos – e como me conectar com esses espaços. 

Como você, na posição de liderança, tem trabalhado para promover mais diversidade no ecossistema de startups?

Talvez meu principal papel seja pensar o que posso fazer na Pipo Saúde, e o papel da representatividade do que eu e as pessoas da empresa são para a comunidade de startups. É incrível quando dou uma palestra e alguém diz que se inspira em mim. Hoje há pouquíssimas mulheres lésbicas que consigo me inspirar e dizer que quero ser como elas, porque não temos tantos exemplos no mercado.

Mas é importante lembrar que a diversidade tem muitos recortes. Eu sou uma mulher branca e lésbica, e tive uma condição privilegiada. Existem vários recortes que não conversam com a minha realidade, mas aos poucos vamos mudando o mundo. O desafio de lutar pela diversidade é ter paciência, porque é algo que demora para ser alcançado e, infelizmente, não dá para fazer do dia para a noite. 

Quando fico frustrada com o mundo atualmente, penso em como ele era há 10 anos, quando seria muito mais difícil eu ser uma mulher assumidamente lésbica e falar em jornais, revistas, eventos. [Ver essa transformação] me ajuda a ter um pouco mais de paz de espírito e saúde mental.

Como é a sua rotina, um dia típico da CEO da Pipo Saúde?

Acordo cedo, por volta das 6h, e sempre faço exercícios pela manhã. A Pipo é uma empresa remota, então trabalho de casa a partir das 8h30. Tenho todo o período da manhã tomado de reuniões, até o meio-dia. Paro para almoçar – uma pausa sagrada no meu dia de pelo menos 1h para me desconectar. Na parte da tarde, tenho algumas reuniões, mas também deixo um tempo de foco para pensar, produzir, refletir e escrever.

Trabalho no máximo até 20h e deixo a noite para um momento em família. Moro com a minha esposa, que também trabalha de casa na maioria das vezes. À noite jantamos, assistimos a um filme e leio um pouco. A partir do momento que paro de trabalhar, realmente me desconecto – a não ser que seja algo urgente. Sempre brinco que tento me manter uma pessoa interessante no mundo, porque a Manoela não se resume ao lado empreendedor.

Você pensa em empreender novamente no futuro? Em qual área?

Espero que a Pipo seja uma jornada de pelo menos 20 anos empreendendo. Mas sim, eu empreenderia novamente e faria algo em tecnologia. Não sei se na função de CEO, talvez algo diferente como conselheira. Meus pais têm um espaço muito grande no meu coração e em algum outro momento da minha vida adoraria trabalhar com educação ou um projeto ligado a políticas públicas.

Minha casa sempre teve bibliotecas gigantes e livros ocupando várias estantes. Com certeza meus pais têm um papel muito significativo na minha paixão por livros. Leio muito mais literatura do que livros de negócios, em uma proporção de 80% e 20%, respectivamente. Também ouço muito audiolivro, principalmente quando estou correndo.

Raio X – Manoela Mitchell

Um fim de semana ideal tem… Amigos e família

Um livro: “Queda de gigantes”, de Ken Follett (Trilogia “O Século”)

Algo com que não vivo sem: Minhas gatas, Beyoncé e Rihanna

Uma música favorita: “La Vie En Rose”

Um prato preferido: Feijoada

Uma mania: Sou extremamente sistemática e metódica, organizando as coisas o tempo todo.

Sua melhor qualidade: Me manter equilibrada, emocionalmente falando, independente da circunstância. Em momentos de muita felicidade e também de muitos problemas. Na montanha-russa que é empreender, sou bem constante.