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Com crise da Synapse, Mercury corre para dar explicações

Apesar de não usar mais o BaaS da fintech "falida", neobanco ianque quer evitar risco de um possível "bank run" a la SVB

Dumpster Fire
Dumpster Fire. Crédito: Canva

Duas expressões em inglês que eu gosto de usar: ripple effect e dumpster fire. A primera diz respeito aos efeitos causados por um um evento específico – é o que nós chamamos de “efeito dominó”. A outra expressão é a mais legal: como sua tradução literal sugere (fogo na lixeira), ela remete a uma lambança grande, que além de quente, ela fede e ninguém quer ficar perto. É isso o que está acontecendo na sequência da implosão da fintech americana de banking-as-a-service Synapse e um dos neobancos mais populares dos EUA, o Mercury, que está sofrendo efeitos colaterais – mesmo tendo encerrado as relações com sua antiga fornecedora.

Ontem (28) falamos aqui no Startups sobre como mais de 100 fintechs foram impactadas pela queda da Synapse, o que poderia afetar mais de 10 milhões de clientes. Inclusive, algumas startups ficaram com seus serviços inativos e outras até fecharam por conta do pedido de recuperação judicial da fintech – que aparentemente foi assinado da paradisíaca ilha de Santorini, na Grécia.

Print do registro de Chapter 11 da Synapsse, assinado pelo CEO Sankaet Pathak diretamente da modesta Santorini, na Grécia (Foto: reprodução/LinkedIn Jason Mikula)
Print do registro de Chapter 11 da Synapse, assinado pelo CEO Sankaet Pathak diretamente da modesta Santorini, na Grécia (Foto: reprodução/LinkedIn Jason Mikula)

Na sequência do acontecido com a Synapse, as redes sociais entraram em polvorosa com diversos usuários lembrando que a Mercury também era cliente, o que gerou dúvidas sobre a sustentabilidade do negócio e trouxe de volta aquele sentimento que muita gente teve em março do ano passado quando as fragilidade do balanço do Silicon Valley Bank (SVB) vieram à tona.

Com isso, a pulguinha do bank run, ou como nós brasileiros conhecemos bem, corrida bancária, se instalou na cabeça de muita gente. E a recomendação dada por gente graúda do mercado foi de tirar dinheiro da instituição. “É boato, mas bank run é bank run, e você não quer saber se está certo ou errado. Você não quer perder dinheiro”, afirmou uma fonte de mercado à reportagem do Startups.

Preste atenção ali na palavra boato. Assim que os rumores de que a Mercury tinha parceria com a Synapse, a empresa se posicionou para esclarecer o fato. “Estes receios surgiram de rumores devido a relatórios recentes sobre o Synapse, um prestador de serviços bancários nos EUA. Essa situação é pública e está em evolução há algum tempo, e a Mercury deixou de trabalhar com a Synapse há vários meses”, afirmou a Mercury em um e-mail para um cliente brasileiro.

No comunicado, a companhia esclareceu que seu principal parceiro bancário atualmente é o Evolve, e segundo o neobanco, não há informações que indiquem que o Evolve esteja em risco comercial real. Além disso, a empresa garantiu que os depósitos são segurados pelo Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), em até US$ 5 milhões. Um detalhe interessante: no comunicado, a empresa afirmou que várias destas garantias para proteger seus clientes foram um reflexo do baque sofrido no ano passado após o episódio do Silicon Valley Bank (SVB).

O número de startups atendidas pela Mercury é considerável: segundo dados do próprio neobanco, são mais de 100 mil empresas – ou seja, o medo de um novo SVB não é tão irreal. Contudo, para evitar um cenário semelhante, a companhia resolveu correr, e até o CEO Inmad Akhund saiu respondendo a pessoas no X (ex-Twitter), para apaziguar os ânimos.

Enfim, como eu já falei no começo, quando a lixeira está em chamas, ninguém quer ficar por perto e se queimar por tabela. Por exemplo, Nomad e Banco Inter, duas empresas que chegaram a ser clientes brasileiros da Synapse no passado, se pronunciaram para assegurar que há tempos não são mais clientes da fintech norte-americana.

A Nomad afirmou em nota enviada ao Startups que encerrou em janeiro deste ano o vínculo com a Synapse, e com isso os últimos acontecimentos não apresentaram nenhum tipo de risco para os clientes. Já o Banco Inter, apesar de ainda mencionar a Synapse como provedora do cartão de débito da Global Account, respondeu à reportagem do Startups nesta terça (28), afirmando que também não é mais cliente da fintech gringa, mas não deu mais informações sobre o assunto.