Acessibilidade

Hand Talk expande e internacionaliza para promover acessibilidade digital

Startup está ampliando o portfólio de soluções com o desenvolvimento de produtos e expansão global dos serviços

Hand Talk
Fundadores da Hand Talk: Ronaldo Tenório, Thadeu Luz e Carlos Wanderlan (Foto: Divulgação)

Focada em promover acessibilidade digital por meio da tecnologia, a startup Hand Talk se prepara para dar o próximo passo de sua estratégia. A companhia está ampliando seu portfólio de soluções com o desenvolvimento de produtos e expansão global dos serviços, para levar mais conhecimento e acesso para pessoas e empresas em todo o mundo.

Há mais de 10 anos no mercado, a startup criou um aplicativo mobile que usa inteligência artificial para fazer a tradução em Libras (Língua Brasileira de Sinais) e ASL (Língua de Sinais Americana). Na prática, a plataforma funciona como um dicionário de bolso, com tradutores virtuais que ajudam pessoas a aprender e praticar Línguas de Sinais de forma gratuita, ou com recursos adicionais na versão Pro. Com mais de oito milhões de downloads e 1,3 bilhão de palavras traduzidas, a solução foi reconhecida como o melhor aplicativo social do Mundo pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Apesar do sucesso, o app representa apenas 5% da receita da startup. O principal produto é o Hand Talk Plugin, ferramenta B2B que serve como um tradutor automático de Libras e ASL para ser incorporado no site das organizações e descomplicar a jornada de acessibilidade digital. Além da tradução, a solução conta com recursos assistivos para pessoas surdas, com dislexia, deficiência visual, transtornos neurocognitivos e dificuldades com leituras de textos em geral. O valor do serviço é feito com base no tráfego do site das empresas. Atualmente, mais de mil companhias utilizam a tecnologia da Hand Talk, incluindo gigantes como Samsung, Pwc, Chevrolet, Pfizer, PepsiCo e LG.

Mas a ideia não é parar por aí. Segundo Ronaldo Tenório, CEO e cofundador da Hand Talk, a startup está fortemente engajada em ampliar as Línguas de Sinais disponíveis nas plataformas. “A Língua de Sinais é diferente em cada país. Estamos caminhando para a expansão global, replicando lá fora o que já conseguimos fazer no Brasil”, diz o executivo, acrescentando que hoje entre 20% e 30% dos usuários da Hand Talk já utilizam a Língua de Sinais Americana.

A prioridade além do Brasil é justamente os Estados Unidos, tanto para o app quanto para o plugin corporativo. “Por enquanto, focamos na expansão da Língua de Sinais. O aplicativo gera bastante impacto por ser gratuito, e nos dá a exposição necessária para conseguir comercializar o plugin”, explica o CEO. Nas próximas semanas, a Hand Talk lançará uma versão corporativa do app com o intuito de educar cada vez mais as empresas em relação à acessibilidade, com uma ferramenta de aprendizagem para os colaboradores praticarem Línguas de Sinais. Além disso, a startup já está trabalhando em novas soluções, a serem lançadas provavelmente no início de 2025 como uma terceira linha de negócio.

Ronaldo Tenório, CEO e cofundador da Hand Talk
Ronaldo Tenório, CEO e cofundador da Hand Talk (Foto: Divulgação)

Expansão e crescimento

“Demos um grande salto ao perceber que a acessibilidade precisa ser algo amplo. Embora a gente seja especialista em Língua de Sinais, hoje temos vários recursos assistivos como contraste de cores, espaçamento entre as letras, destaque de links, aumento das fontes, leitura dos sites e outras funcionalidades para melhorar a sua experiência digital das pessoas com o uso do nosso plugin”, destaca Ronaldo. “Estamos ampliando também o raio de da ferramenta, com soluções não só para pessoas surdas, mas com outras deficiências”, completa.

O negócio recebeu alguns cheques de investidores anjo ao longo da jornada. Um deles, de João Kepler, fundador da Bossa Invest. “Ele seguiu conosco até o ano passado, quando após a tese 10 anos de investimento, fizemos o exit da Bossa e recompramos as ações”, conta Ronaldo. Sem abrir números específicos, ele revela que o retorno para os investidores foi mais de 10 vezes maior do que o valor investido inicialmente. A startup também recebeu um investimento de R$ 2,5 milhões da Kviv Ventures, da família Klein, e um prêmio de aproximadamente R$ 3 milhões do Google.org, por meio do programa Google AI Challenge. 

“A princípio, não estamos buscando uma outra captação, pois a Hand Talk já é uma empresa lucrativa e consegue caminhar com as próprias pernas”, avalia Ronaldo. Toda a estratégia de expansão da companhia é impulsionada pelo aumento da equipe. Hoje, são cerca de 110 pessoas, número que pode chegar a 150 até o fim do ano, com contratações majoritariamente na área de engenharia e linguística.

Em 2024, a projeção é crescer 25% em faturamento, em comparação com o último ano, e ampliar o número de palavras traduzidas em pelo menos 30%. “Estamos focados em produzir novas tecnologias para dar o grande salto no ano que vem, com vários lançamentos, incluindo a incorporação de outras Línguas de Sinais no portfólio”, antecipa o CEO. 

Acessibilidade como estratégia

Menos de 1% dos sites são acessíveis e a falta de conhecimento sobre o tema ainda é gargalo para 54% das empresas no Brasil. Os dados são do “Panorama da Acessibilidade Digital”, desenvolvido pela Hand Talk e pelo Movimento Web para Todos. A pesquisa revela que acessibilidade digital vem, aos poucos, ganhando a relevância necessária no cotidiano das pessoas e no dia a dia das empresas, mas ainda há muito o que evoluir.

“Incentivo as organizações a olharem para a acessibilidade como oportunidade, ao invés de olhar como filantropia. Uma organização mais acessível, diversa e inclusiva é melhor para todos – não só para quem consome o conteúdo acessível. É uma forma de se conectar com mais pessoas, e a acessibilidade vai além da pessoa com deficiência. Por exemplo, legendar um vídeo não ajuda só pessoas surdas, mas também qualquer pessoa que esteja assistindo a um vídeo com o áudio baixo. Quando você pensa em ser mais acessível, é mais simples, mais prático, mais direto e objetivo. E isso leva mais clareza e menos para todo mundo. Por isso, a acessibilidade tem que estar na pauta estratégica das organizações”, finaliza Ronaldo.