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Ahead Ventures: "Sem conexão, encantamento não dura"

Gestora deve anunciar um novo fundo multi corporate até o fim deste ano, conta Eduardo Sperling, managing director da Ahead Ventures

Eduardo Sperling, managing director da Ahead Ventures. Foto: Divulgação
Eduardo Sperling, managing director da Ahead Ventures. Foto: Divulgação

No venture capital, o vínculo entre investidores e fundadores é fundamental para alinhar expectativas e gerar benefícios para ambos os lados. Mas, no corporate venture capital (CVC), a sinergia entre a corporação e os empreendedores se torna ainda mais importante. É nessa criação de valor que atua a gestora Ahead Ventures, especializada em CVCs, que já ajudou clientes como Renner, Embraer e Vivo a estruturarem seus veículos de investimento em startups.

Em entrevista exclusiva ao Startups, Eduardo Sperling, managing director da Ahead Ventures, conta que a gestora deve anunciar um novo fundo multi corporate até o fim deste ano. No momento, a firma está apoiando a Renner no investimento do seu CVC, o RX Ventures.

Para este fundo, Eduardo diz que a busca é por tecnologias que viabilizem o “varejo do futuro”, desde a experiência do cliente na loja física até a rastreabilidade de parâmetros de sustentabilidade de toda a cadeia de fornecedores.

Segundo o executivo, o mercado de corporate venture capital no Brasil possui particularidades em relação ao venture capital. “A maior parte dos fundos de CVC no Brasil são recentes, e os programas e práticas de CVC nas corporações ainda passam por período ajustes até ganhar maturidade”, explica.

Com isso, Eduardo explica que é preciso muitas vezes trabalhar com propostas de valor que vão além dos ganhos financeiros dos investimentos.

“Acredito que há a expectativa de que os fundos de CVC criados nos últimos anos precisam mostrar resultados tangíveis para suas corporações. Na Ahead, focamos em demonstrar um retorno estratégico óbvio para as corporações desde o início do investimento. Claro que não há nada estratégico em perder dinheiro – para parafrasear uma expressão famosa neste mercado. Porém, sem essa conexão desde o início, o encantamento com o mundo (e valuations) de startups não dura e o programa de CVC corre risco de ser encerrado antes de ter chance de mostrar os resultados financeiros”, aponta.

Internacionalização

Fruto de uma joint venture entre a gestora de CVC Portcapital, a consultoria Elogroup e o Banco Fator, a Ahead Ventures possui hoje cerca de R$ 310 milhões sob gestão e dois Fundos de Investimento em Participações (FIP), além de outros projetos em andamento.  

A gestora tem operações também fora do país, inclusive no Vale do Silício, e tem planos de aprofundar sua internacionalização, ajudando as corporações a acessarem tecnologias e startups do mundo todo.

“Apesar do meu ceticismo inicial, tivemos muito sucesso em acessar e investir em startups fora do Brasil e conectá-las com as corporações. Realizamos esses investimentos em conjunto com outras corporações e investidores de renome, o que agrega valor ao nosso processo de análise. Ao engajar a corporação e seus executivos com essas startups, conseguimos acessar empresas com valores relativamente menores”, explica.

Eduardo destaca que o mercado de CVC acompanhou a correção que ocorreu no capital de risco em geral. No entanto, as corporações têm voltado a investir.

Segundo a Associação de Investimento em Capital Privado na América Latina (LAVCA), o corporate venture capital foi responsável por cerca de um quarto dos deals do venture capital na América Latina no primeiro semestre de 2024. Entre os 16 fundos de CVC mais ativos no período, 10 são brasileiros.

“Nos VCs independentes, a maior retração ocorreu nos investimentos late-stage, enquanto os fundos de CVC brasileiros concentram a maior parte de seus investimentos em early-stage, que tiveram uma recuperação mais rápida”, afirma o managing director da Ahead Ventures.