
Prestes a anunciar o seu terceiro aporte, o Copel Ventures tem investido em uma empresa por ano desde a sua fundação, no final de 2023. O corporate venture capital (CVC) da Copel – a Companhia Paranaense de Energia – nasceu para dar continuidade aos programas de inovação aberta da empresa, mas não tem pressa. O importante é encontrar startups que estejam alinhadas aos objetivos estratégicos da Copel, que incluem, além de aumento de receita, eficiência e ganhos operacionais, um olhar para a transição energética e as mudanças pelas quais o setor elétrico tem passado.
Criado em parceria com a VOX Capital, gestora de venture capital especializada em teses de impacto, o Copel Ventures tem R$ 150 milhões de capital comprometido, incluindo os custos de gestão. Desse total, R$ 80 milhões são para investimento primário e R$ 30 milhões para follow-ons.
As iniciativas de inovação aberta da Copel surgiram em 2020, com o programa Copel Volt, criado para aproximar a empresa ao ecossistema de inovação, quando a companhia ainda estava sob controle estatal. A privatização é finalizada em agosto de 2023, quando o governo do Paraná deixa de ser o acionista majoritário, reduzindo sua participação para cerca de 17,9% do capital total da companhia.
“O fundo se materializa como instrumento dessa jornada mais ampla de inovação”, diz Thiago Ávila, superintendente de Estratégia, Inovação e Inteligência de Mercado da Copel.
A primeira investida do fundo, a Move, passou justamente pelo primeiro ciclo do Copel Volt, e hoje fornece o software de gestão dos eletropostos da empresa. O investimento foi feito em 30 de dezembro de 2023, no valor de R$ 3,5 milhões. A segunda investida foi a Nextron, uma plataforma de energia solar por assinatura, que levantou uma rodada de R$ 26 milhões em março de 2024, liderada pela VOX Capital e Copel Ventures.
Em 2024, o fundo revisitou sua estratégia para priorizar startups mais maduras e com maior potencial de impacto nos negócios da Copel. Com isso, os cheques, que variam de R$ 2 milhões a R$ 10 milhões, devem se concentrar mais na faixa superior.
Para garantir a aderência entre as soluções investidas e os desafios reais da empresa, o CVC conta com uma rede técnica formada por especialistas de diversas áreas da Copel, que avaliam cada startup antes do aporte. “O comprometimento com essa conexão está expresso na própria estrutura do fundo”, reforça Thiago.
Rafael Campos, sócio e diretor de VC da VOX Capital, diz que essa sinergia com a operação tem sido regra desde o início. “A terceira investida, que deve ser anunciada em breve, já nasceu conectada com um projeto piloto da Copel. Essa integração é parte do nosso processo desde que o fundo foi estruturado”, afirma.
A tese do Copel Ventures passa pela transição energética, mas também por tecnologias que ajudem a Copel a melhorar seus processos internos e se preparar para um mercado de energia mais descentralizado e competitivo.
“Temos olhado muito para inteligência artificial aplicada à gestão de redes, predição de falhas, automação e eficiência”, diz Rafael. Ele destaca ainda o interesse por soluções que democratizem o acesso à energia e preparem a companhia para lidar com um consumidor mais ativo e livre para escolher seu fornecedor.
Apesar de o pipeline do setor de transição energética não ser tão abundante quanto em segmentos como saúde ou fintechs, o fundo tem conseguido manter um fluxo constante de oportunidades. Em 2023 e 2024, mais de 1.100 startups foram mapeadas, das quais mais de 500 estavam alinhadas com a tese da Copel. Atualmente, 52 empresas permanecem na órbita do fundo.
“Olhamos para o Brasil e também para fora. Há oportunidades interessantes especialmente na América Latina e em países como Portugal e Espanha, que têm mercados de energia mais conectados com o mercado brasileiro, além de proximidade de língua e cultura”, afirma Rafael. Ele reconhece que a relação com startups internacionais tende a ser mais lenta, mas acredita que elas vão compor o portfólio ao longo do tempo.
Para Rafael, o momento de retração no mercado tradicional de venture capital tem jogado a favor dos CVCs.
“Com menos pressão por rodadas rápidas, temos tempo de construir relacionamento com as startups e entender melhor como elas se conectam com a corporação. Quando chega a hora do aporte, a startup já faz parte do ecossistema da empresa, e isso torna o investimento muito mais assertivo”, diz. “Como gestor de fundo, claro que gostaria de ver mais transações. Mas como gestor de CVC, gosto desse ritmo. Isso vai se traduzir em um fundo melhor, com portfólio mais coerente”.
Apesar das incertezas globais, a pauta da transição energética segue prioritária dentro da Copel. “Pode haver postergação de agendas em função de fatores externos, mas o tema não sai do radar das companhias. No nosso caso, o compromisso está mantido”, diz Thiago. Ele destaca que a Copel tem um compromisso assumido com a descarbonização do seu portfólio e que as dimensões ambiental e de eficiência precisam caminhar juntas.