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Por que o próximo unicórnio do Brasil pode nascer no WhatsApp?

Modelo tradicional de interface, com ícones e menus complexos, perdeu espaço para a simplicidade e agilidade das conversas

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WhatsApp
Aplicativo do WhatsApp (Foto: Canva)

*Por André Severas, CEO da Selvia

O ano de 2024 parecia ser o auge da era dos apps: tinha app pra tudo – banco, remédio, consulta, ensino de idiomas, até trocar foto de pôr do sol. O celular virou um jardim de ícones, cada um clamando por atenção. E o que aconteceu? O usuário cansou. Em vez de baixar mais um app, quis conversar. No WhatsApp.

O modelo tradicional de interface, com ícones e menus complexos, perdeu espaço para a
simplicidade e agilidade das conversas. Esse movimento já era visível, especialmente no
Brasil, onde mais de 93% da população usa o WhatsApp diariamente. Para milhões de
brasileiros, a ideia de baixar mais um app pareceu obsoleta. Eles preferem resolver suas
necessidades com uma simples mensagem.

Há uma década, a internet se reinventava com sites dinâmicos, e logo os apps chegaram
para revolucionar o mercado. Mas agora, estamos entrando na era das interfaces
conversacionais, a maneira mais natural de interagir, afinal, sempre resolvemos problemas
trocando ideias em diálogos.

Até pouco tempo atrás, lançar uma solução digital exigia aprovação da Apple Store ou da
Play Store, com prazos longos, taxas pesadas e pouca flexibilidade. Agora, empresas podem
construir experiências completas, sejam elas de atendimento, compra, educação, saúde ou
finanças – direto na conversa. O WhatsApp, antes era apenas uma ferramenta de
mensagem, começa a ocupar o espaço de um verdadeiro sistema operacional da vida
cotidiana.

Em países como a China, o WeChat já mostrou que é possível reunir redes sociais,
pagamentos, agendamentos e até consultas médicas em um único canal. No Brasil, o
WhatsApp está começando a seguir esse caminho, se tornando mais do que apenas uma
ferramenta de mensagens. Ele está se transformando em uma plataforma digital robusta,
com APIs para desenvolvedores, integração com modelos de linguagem e soluções
personalizadas que atendem a diversos setores, desde saúde até finanças.

Na América Latina, startups como Dola (assistente de calendário), Brendi (entregas),
ChatClass (educação) e Felix Pago (remessas internacionais) estão entre as primeiras a
explorar esse novo paradigma. No Brasil, soluções em saúde, educação e finanças já
começam a nascer 100% dentro do WhatsApp. E não é coincidência: é onde está a atenção
do usuário.

Empreender no WhatsApp é um desafio que vai muito além de códigos simples e fluxos
automáticos: é preciso LLMs de altíssimo calibre – treinadas para entender contexto, lidar
com linguagem natural e respeitar as nuances de cada usuário.

Além disso, empreendedores reclamam que as APIs do WhatsApp ainda engatinham, com
problemas, às vezes até bugs e falta de suporte proativo da plataforma da Meta. Sim, essas
mesmas dores foram superadas pela Play Store (Google) e App Store (Apple) em seus
primórdios. Resta ao WhatsApp decidir se quer apenas participar ou liderar essa revolução.
Uma coisa é certa, a plataforma está bem posicionada.

Ainda é cedo para dizer quem vai ser o próximo unicórnio. Mas enquanto apps
especializados empilham ícones, o Brasil prova que a melhor interface é um bate-papo. Se o
WeChat já se transformou no superapp da China, o WhatsApp no Brasil tem hoje os
ingredientes (penetração, API robusta e LLMs) para criar o seu primeiro unicórnio. Agora
parece mais uma questão de “quando”, do que “se”.