Negócios

5 lições de empreendedorismo por founders e investidores

Startups reuniu cinco vozes experientes do ecossistema para compartilhar as lições que aprenderam ao longo dos anos

Leitura: 8 Minutos
Empreendedorismo | Foto: Canva
Empreendedorismo | Foto: Canva

Empreender pode ser uma jornada solitária, mas os desafios e aprendizados vividos pelos fundadores costumam ter muito em comum. Por isso, compartilhar experiências não apenas abre caminhos para soluções, como também permite aprender com os erros e acertos de quem já percorreu, ou ainda percorre, essa mesma trajetória.

Com isso em mente, o Startups reuniu cinco vozes experientes do ecossistema – entre fundadores e investidores – para compartilhar as lições que aprenderam ao longo dos anos e que podem servir de guia para quem também trilha o caminho do empreendedorismo.

Honestidade intelectual é a base da liderança

    Bianca Martinelli, sócia da Alexia Ventures

    Para mim, a honestidade intelectual é um dos ativos mais valiosos de um founder. Ela não significa apenas ser transparente com investidores ou com o time – significa, acima de tudo, ser transparente consigo mesmo. É olhar para os dados, para os sinais do mercado, para o feedback dos clientes e ter coragem de admitir quando algo não está funcionando, mesmo que isso contrarie narrativas ou hipóteses em que você acreditava profundamente.

    Na Alexia Ventures, já investimos em empreendedores que chegaram em uma reunião e nos disseram: “nossa tese de crescimento estava errada – aqui está o que aprendemos, e aqui está o plano para corrigir”. Essa postura não enfraquece a relação, ao contrário: fortalece. Mostra que o founder é capaz de aprender mais rápido, corrigir a rota e construir credibilidade com todos ao redor.

    Na minha experiência, os empreendedores que se agarram a ilusões ou evitam encarar a realidade acabam desperdiçando tempo e capital preciosos. Já os que cultivam essa honestidade intelectual criam um ciclo virtuoso: aprendem mais rápido, atraem melhores talentos e constroem relações de confiança duradouras com investidores e clientes. No fim do dia, é isso que sustenta empresas resilientes.

    Bianca Martinelli, sócia da Alexia Ventures
    Bianca Martinelli, sócia da Alexia Ventures. Foto: Divulgação

    O cliente vem em primeiro lugar

    Antônio Nakad, co-founder e CMO da NG.CASH

    Uma das maiores lições que aprendi como empreendedor é que o cliente precisa estar sempre no centro de tudo. Em uma empresa B2C, ele não se importa com o tamanho da rodada de investimento, com o captable ou com métricas internas que muitas vezes tiram o sono dos fundadores. O cliente só quer um produto que funcione, que facilite sua vida e que entregue valor real. Isso te obriga a manter o pé no chão e lembrar que, no fim do dia, a única validação que importa vem das pessoas que confiam em você.

    O cliente também é, inevitavelmente, o crítico mais exigente. Ele não deixa você se acomodar e força a equipe a se manter humilde, a escutar feedbacks, a corrigir erros rapidamente e a sempre pensar na próxima melhoria. Esse nível de cobrança faz com que a empresa se mantenha em movimento constante, inovando, acompanhando tendências e, muitas vezes, antecipando necessidades.

    Para mim, esse é o maior aprendizado: construir uma cultura que valorize a escuta ativa do cliente. Investidores podem abrir portas e rodadas podem viabilizar expansão, mas quem sustenta e guia o crescimento é o cliente. Quanto mais se percebe isso, mais evidente fica que a verdadeira vantagem competitiva está na disciplina de aprimorar um produto incrível todos os dias.

    Antônio Nakad, co-founder e CMO da NG.CASH (Crédito: Divulgação)

    Erros importam tanto quanto acertos

    Lucas Vargas, CEO e cofundador da Nomad

    Liderar com inovação em ambientes de alta regulação exige um equilíbrio delicado. Trata-se de criar o novo, mas com total responsabilidade, de aprender com os erros sem jamais normalizá-los, e de promover a transformação sem implodir o que foi construído. Em nosso setor, errar custa caro, podendo comprometer a credibilidade e o futuro da empresa. No entanto, o erro também é uma fonte valiosa de aprendizado. Para cada produto que funciona, testamos muitos outros que falharam. A chave, portanto, não é evitar o erro, mas sim errar da forma certa para que possamos, no final, acertar com mais segurança.

    É curioso como nós, empreendedores, tendemos a ser otimistas demais no curto prazo e, ao mesmo tempo, conservadores no longo. Projetamos uma tração imediata, mas frequentemente subestimamos nossa capacidade de reinvenção contínua ao longo dos anos. Por isso, enxergo o planejamento não como um exercício de acerto, mas de coerência e foco. O objetivo final não é prever o futuro, mas nos preparar para construí-lo. Falamos muito sobre infraestrutura, tecnologia e segurança, elementos essenciais para que qualquer negócio se sustente. Mas, no fim do dia, a pergunta mais importante continua sendo: “Qual é o problema real do cliente que estamos resolvendo?”. É nesse ponto que reside o verdadeiro valor.

    Discutimos frequentemente metas, produto e crescimento, mas raramente sobre o preço emocional, o “trade-off invisível” que o time paga para construir um negócio em crescimento acelerado. Decidir é, por natureza, abrir mão. E cada jornada de sucesso tem um custo que não aparece nos relatórios financeiros. Em nosso ambiente, decidir rápido não é uma opção, é uma necessidade. Isso, no entanto, não significa ser imprudente. Significa buscar um nível de clareza suficiente para agir, mesmo quando nem todas as respostas estão disponíveis. Afinal, empresas que escalam de forma consistente também erram, mas elas erram rápido, consertam o curso e, então, aceleram.

    Lucas Vargas, CEO da Nomad (Crédito: Divulgação Nomad/Carlos Anabile)

    Escutar para construir confiança

    Rodrigo Tognini, CEO e cofundador da Conta Simples

    A grande lição que aplicamos diariamente na Conta Simples é a importância de ser obcecado pelo problema do cliente, e não apenas pela nossa solução. Essa mentalidade vem da nossa própria origem: nascemos da dor de sermos empreendedores engolidos pela burocracia, e essa experiência se tornou nossa regra de ouro.

    A escuta diária não é só sobre desenvolver o melhor produto, mas sim sobre construir confiança. É essa confiança que nos permite ir além de uma ferramenta para sermos um verdadeiro parceiro estratégico na jornada dos nossos clientes. E, no final, é isso que constrói uma trajetória sólida e de longo prazo.

    Rodrigo Tognini, CEO e cofundador da Conta Simples
    Rodrigo Tognini, CEO e cofundador da Conta Simples (Foto: Divulgação)

    O parceiro certo para cada etapa

    Wana Schulze, Head de Investimentos da Wayra Brasil e Vivo Ventures

    Uma das grandes lições do empreendedorismo é que escolher um investidor vai além de captar recursos: trata-se de entender que tipo de parceria a startup mais precisa em cada fase. Fundos de venture capital tradicionais geralmente trazem expertise em escalar negócios, disciplina financeira e experiência acumulada no acompanhamento de várias startups de diferentes setores. Já os corporate venture capitals (CVCs) podem oferecer vantagens complementares, como acesso a canais de distribuição, conhecimento profundo de mercado e até apoio em desenvolvimento de produto, funcionando como um parceiro estratégico que acelera a execução.

    Por isso, é essencial que o empreendedor saiba identificar qual estilo de investidor se conecta melhor ao momento da sua empresa. No fim, a lição é clara: não se trata apenas de levantar capital, mas de escolher o parceiro certo para cada etapa da jornada.

    Wana Schulze, Head de Investimentos da Wayra Brasil e Vivo Ventures (Crédito: Divulgação)