*Por Pedro Waengertner, CEO da ACE Ventures
Durante muito tempo, a ideia de plano de carreira foi quase sagrada. Estágio, analista júnior, pleno, sênior. Um caminho previsível, passo a passo, como uma escada bem estruturada: bastava colocar esforço e aguardar sua vez. Mas o mercado mudou. E a inteligência artificial (IA) não apenas balançou essa escada: ela está prestes a quebrá-la.
Dominar a IA foi, por pouco tempo, um diferencial. Hoje, é pré-requisito e, em breve, será tão básico quanto saber usar e-mail. Nos anos 2000, ter familiaridade com a internet ainda era um diferencial em muitos cargos, tanto que muita gente colocava no currículo: “conhecimento em navegação web”. Hoje, isso soa impensável. Com a IA, estamos exatamente nesse ponto de virada. Não é exagero: estamos diante de uma tecnologia que está redesenhando a forma como se gera valor dentro das empresas. Não importa sua formação ou tempo de casa, se você sabe usar IA para entregar resultado concreto, você vale mais. E isso muda tudo.
O plano de carreira tradicional parte do pressuposto de que o tempo e a experiência são os principais vetores de crescimento. Mas, com a IA, a lógica muda: o que importa é sua capacidade de adaptação, entrega e criação de impacto imediato. O foco sai da hierarquia e vai direto para o valor gerado.
Produtividade na era da IA: startups x grandes empresas
Os números comprovam. Startups e empresas tech que nasceram usando IA como alavanca geram entre US$ 1 milhão e US$ 6 milhões por colaborador. Enquanto isso, gigantes consolidados do mercado operam em patamares de US$ 300 mil a US$ 700 mil por pessoa. A disparidade é brutal. A Amazon, por exemplo, já anunciou sua meta de chegar a US$5 milhões de receita por colaborador, algo que parecia impensável poucos anos atrás.
Isso também nos faz repensar o que consideramos “sênior”. Não é mais quem tem mais anos de casa ou conhece todos os fluxos internos. É quem entrega mais. Quem resolve mais. Quem pensa mais rápido, e executa melhor.
Muitas vezes, isso virá de gente nova, com menos tempo no mercado, mas com domínio de ferramentas que os mais antigos ainda nem testaram. Empresas como OpenAI, Perplexity e Hippocratic AI já estão redefinindo a régua de produtividade, operando com estruturas enxutas e resultados exponenciais. A própria ACE Ventures mostra como a IA pode atuar como uma co-founder virtual em startups, acelerando resultados de forma nunca vista antes.
Cargos em extinção e novas oportunidades com IA
Funções de entrada já estão sendo automatizadas por ferramentas simples. Tarefas repetitivas, operacionais ou que dependem de estrutura pré-programada não precisam mais de uma pessoa para acontecer. Isso elimina a base da escada corporativa.
Agora, como crescer profissionalmente se o “degrau júnior” nem existe mais? Parando de pensar em degraus. Hoje, vemos jovens que criam suas próprias startups antes mesmo de conseguirem o primeiro emprego formal. Eles não querem esperar a vez: querem criar, testar, fazer acontecer.
Como crescer na carreira usando IA e autoria própria
O novo plano de carreira na era da IA não é uma escada, é um campo aberto. Quem quiser crescer precisa mostrar ao que veio. Projetos próprios, newsletters, produtos digitais, serviços no-code. Iniciativas que colocam o profissional como autor, não só como executor.
E isso muda inclusive o processo de contratação. O diploma, por exemplo, tem cada vez menos peso. Empresas querem ver como você pensa, o que você é capaz de criar, e como suas ideias se transformam em impacto. Isso vale para qualquer área. Como destacou recentemente o portal Startups, a IA pode até funcionar como uma espécie de conselheira personalizada de carreira, ajudando profissionais a mapear próximos passos e acelerar sua evolução.
Um mercado mais velho, mais exigente e mais competitivo
Um dado importante do cenário: a população economicamente ativa está encolhendo. Estamos envelhecendo e temos menos jovens entrando no mercado. A conta não fecha. Para manter ou aumentar produtividade, empresas precisarão fazer mais com menos. E a IA será o motor desse ganho.
O Japão já atingiu seu pico populacional e começou a encolher. A Coreia do Sul segue o mesmo caminho. O Brasil está perto de chegar lá. É um fenômeno global que pressiona todos os setores.
Só que esse motor precisa de condutores. E quem dominar a IA (de verdade, com profundidade e aplicabilidade) terá lugar garantido nesse mercado. Quem esperar ser promovido porque “chegou sua hora” pode não ter nem mais cargo para ocupar.
Plano de carreira não é mais escada: qual o caminho com IA?
A ideia não é pregar o fim da ambição ou da construção de carreira. Mas sim reconhecer que o caminho deixou de ser linear. Agora, ele é exponencial e personalizado.
Para quem souber jogar o novo jogo, a IA será um trampolim, não uma ameaça. Mas, para isso, é preciso abandonar os modelos antigos. Não existe mais “esperar a promoção”. Existe fazer, mostrar, crescer.
Portanto, a pergunta que vale a pena se fazer não é “em qual degrau estou?”, mas sim: qual valor eu consigo criar hoje que ninguém mais está criando?