Criança no tablet
Criança no tablet (Imagem: Shutterstock/PeopleImages)

Brinquedos viraram coisa “do passado”. Hoje, através de tablets e celulares, o mundo digital se tornou parte do cotidiano das crianças — elas se divertem com jogos online, passam horas em aplicativos e se encantam com vídeos coloridos e cheios de estímulos. Em meio a essa nova realidade, é comum que pais e cuidadores tenham dúvidas sobre como proteger os pequenos ou adolescentes, sem necessariamente banir o acesso ao ambiente digital.

Para a psicóloga clínica Cristina Castelo, o uso excessivo de telas pode trazer impactos profundos no desenvolvimento psicológico e emocional das crianças. Isso porque o cérebro infantil ainda está em formação, e a exposição constante a estímulos rápidos, coloridos e eletrizantes libera altos níveis de dopamina (o hormônio do prazer), o que pode gerar vício e dificultar a capacidade da criança de se interessar por atividades mais simples e cotidianas.

A profissional explica que, especialmente nos primeiros anos de vida, o contato com o mundo real é essencial, uma vez que é através da brincadeira, da curiosidade e do movimento corporal que a criança aprende a se relacionar com o outro e com o ambiente ao seu redor. Quando esse processo é substituído por experiências passivas diante de uma tela, há prejuízo na criatividade, na sociabilidade e até na motivação para buscar novos desafios. A longo prazo, isso pode levar a quadros de irritabilidade, ansiedade e até depressão infantil.

Para além desses problemas psicológicos e de desenvolvimento, ainda há consequências graves quando a criança se expõe na internet — especialmente quando não há supervisão por parte dos pais. O que começa na internet, não fica só na internet, e pode trazer perigos na vida real.

Para exemplificar isso, Nelson Jordão Barbosa Junior, gerente de Pré-Vendas da Kaspersky, alerta que, hoje em dia, é comum que crianças compartilhem fotos com uniformes escolares ou vídeos mostrando a rotina. “Pessoas mal-intencionadas podem descobrir onde a criança mora, estuda ou quais são seus horários”, aponta.

Cristina complementa que, sem fiscalização, as crianças estão expostas a pedófilos, abusadores sexuais e golpistas na internet. “Quando uma criança fica ali, sozinha, presa nessas plataformas, ela pode acabar interagindo com pessoas que ela não sabe quem são. Porque um pedófilo pode se passar por uma criança de 4 anos, de 6 anos”, exemplifica.

Ainda de acordo com Nelson, criminosos também podem se aproveitar do possível desejo das crianças de trabalhar com internet (estimulado pelo crescimento de influenciadores digitais) e colaborar com marcas para oferecer links perigosos ou pedir dinheiro por algo que não existe, tentando roubar dados (prática conhecida pelo termo em inglês phishing”). Há ainda o aliciamento online (grooming), quando adultos se passam por amigos ou fãs — especialmente quando o pequeno é influencer digital — para se aproximar das crianças e obter conteúdos ou informações privadas.

Outro risco é o roubo de identidade digital, quando criminosos usam fotos e dados da criança para criar perfis falsos e enganar outras pessoas (até mesmo crianças) ou aplicar golpes.

Proteger sem proibir

Depois de entender os riscos do ambiente digital, surge a grande dúvida: como garantir a segurança das crianças sem restringir completamente o uso da internet? A boa notícia é que isso é possível — e, segundo o gerente de Pré-Vendas da Kaspersky, o caminho mais indicado.

“Proteger não significa afastar, mas acompanhar: manter diálogo aberto, participar da vida digital dos filhos e educar pelo exemplo são essenciais. Entender o que as crianças fazem online, quais plataformas usam e que tipo de conteúdo consomem ajuda a identificar riscos antes que se tornem problemas. Também é importante estabelecer combinados de uso, como tempo de tela, regras de privacidade e limites sobre o que pode ser compartilhado”, recomenda Nelson.

Além da educação digital, ferramentas de controle parental ajudar nesse processo, permitindo que os pais monitorem atividades, bloqueiem conteúdos impróprios e gerenciem o tempo online. Alguns exemplos são o Family Link, da Google, Qustodio e o Kaspersky Safe Kids.

A psicóloga Cristina, por outro lado, incentiva que haja mais estímulos fora das telas no dia a dia das crianças. Ela explica que, muitas vezes, o celular acaba se tornando um “atalho” dos pais para resolver momentos de tédio ou inquietação da criança, mas que isso priva os pequenos de vivências importantes, como aprender a lidar com a frustração e o tempo de espera. Cristina sugere que os responsáveis deixem o celular menos acessível e ofereçam outras opções de entretenimento, como brinquedos, papéis, lápis de cor e jogos simples.

Mas, quando há uso das telas, a profissional aponta que usar aplicativos de controle parental pode, sim, ser uma coisa saudável. “Criança pequena, de até 10 anos, não pode ficar solta. Pai e mãe têm que restringir dentro do próprio celular plataformas que são perigosas para as crianças. É aplicando um desses aplicativos, como o Qustodio, por exemplo, que você, enquanto pai ou mãe, vai saber exatamente onde o seu filho está, por onde que ele transita, vai controlar o que ele está vendo, vai interditar se perceber que não é algo adequado”.

Redes sociais e o olhar atento às crianças

Com acesso fácil a dispositivos móveis e internet, as crianças também estão presentes nas redes sociais. E, claro, estar nesse ambiente de consumo de conteúdo e socialização também exige atenção e acompanhamento dos pais. Entender como rede funciona e quais são suas políticas de segurança pode ser o primeiro passo para criar um ambiente seguro na internet para os pequenos.

No caso do YouTube, por exemplo, o YouTube Kids se apresenta como uma alternativa mais segura e controlada em relação ao aplicativo de vídeos tradicional. Procurado pelo Startups, o YouTube mencionou que o app infantil possui uma ampla biblioteca de conteúdos educativos e de entretenimento.

Lançado no Brasil em 2016, a ferramenta combina moderação automatizada com revisão humana e permite que os pais ajustem a experiência de acordo com a idade e interesses da criança. Ferramentas como seleção de vídeos por faixa etária, bloqueio de canais, limites de tempo de uso e desativação de comentários e anúncios personalizados ajudam a criar um ambiente mais seguro.

Já sobre o TikTok, é importante ressaltar que, apesar de ser extremamente popular entre crianças e adolescentes, a plataforma estabelece uma idade mínima de 13 anos para cadastro. Em nota ao Startups, a plataforma de vídeos curtos disse que, quando suspeita ou recebe uma denúncia de que um usuário possui menos de 13 anos, a conta desse usuário é banida.

Para os adolescentes entre 13 a 18 anos, o TikTok oferece configurações específicas que protegem a segurança e o bem-estar, como limite de tempo de tela e restrição de recursos. As mensagens diretas, por exemplo, ficam disponíveis apenas para maiores de 16 anos, e todas as contas de menores ficam sem possibilidade de monetização.

No caso da Meta, dona do Instagram, Facebook e Messenger, é importante ressaltar que a empresa também estabelece a idade mínima de 13 anos para cadastro. Apesar disso, a companhia tem desenvolvido uma série de ferramentas voltadas à segurança digital de adolescentes, com controles de privacidade mais rígidos e opções de supervisão para pais e responsáveis.

Desde 2021, o Instagram passou a definir contas de menores de 16 anos como privadas por padrão, além de restringir a interação entre adolescentes e adultos potencialmente suspeitos. A Meta também implementou filtros para reduzir a exposição a conteúdos sensíveis e lançou a Central da Família, que permite acompanhar o tempo de uso, definir limites de acesso e receber notificações sobre denúncias feitas pelos filhos.