A Oria Ventures está preparando um novo fundo, com foco em secundárias – as queridinhas do momento no venture capital. Esse tipo de operação, que consiste em comprar participações de outros investidores, tem chamado a atenção até mesmo de bancos tradicionais, como o Goldman Sachs, que recentemente adquiriu a Industry Ventures, gestora norte-americana especializada nesse modelo.
Mas a Oria não é novata nesse tipo de investimento. A gestora lançou seu primeiro fundo com estratégia secundária em 2018, quando comprou participações de seis startups que faziam parte do portfólio do corporate venture capital (CVC) da Intel. Na época, a companhia queria fazer desinvestimentos dos ativos na América Latina e a Oria reuniu investidores internacionais em um fundo de R$ 75 milhões para adquirir a parte da Intel nessas empresas.
Agora, em vez de comprar participações de um único vendedor, a Oria planeja ampliar suas possibilidades. A gestora vai manter a estratégia de fundos mais concentrados, com seis a 10 empresas, e foco em companhias em estágio growth e resilientes a ciclos econômicos.
“Não seguimos a lógica do spray and pray de alguns fundos de venture capital. Nossa missão não é encontrar o próximo unicórnio, e sim gerar retornos consistentes, entre 3x e 5x, de forma consolidada no portfólio”, explica Luciana Trindade, partner e head de Relações com Investidores da Oria. “Mesmo durante a pandemia, as empresas nas quais investimos conseguiram manter rentabilidade e crescimento. Isso mostra a resiliência do modelo que buscamos.”
O novo fundo, que deve levantar entre R$ 300 milhões e R$ 400 milhões, terá cheques que variam de R$ 15 milhões a R$ 50 milhões por empresa. A expectativa é fechar a captação até o fim de 2025 ou início de 2026, já com o portfólio praticamente definido. “Nossa ideia é fazer uma transação casada: captar o fundo e, ao mesmo tempo, já entrar com as companhias mapeadas”, diz Luciana.
Fundada em 2009 por Jorge Steffens e Paulo Caputo, ex-executivos da Datasul – uma das pioneiras brasileiras em software de gestão (ERP), adquirida pela Microsiga, que deu origem à TOTVS –, a Oria nasceu com o propósito de ajudar empresas B2B e SaaS em fase de crescimento acelerado a se preparar para uma saída via IPO ou aquisição estratégica.
Com participações minoritárias – entre 20% e 40% – e assentos nos conselhos das investidas, a Oria atua de forma ativa na reorganização de estruturas de vendas, marketing e governança. Um dos diferenciais, segundo a executiva, é que a Oria “tem DNA de operador”, com gestores que possuem experiência como empreendedores, em vez de vir do mercado financeiro.
“Nosso propósito é ajudar de verdade o empreendedor, não apenas aportar capital. A gente coloca a disciplina do private equity dentro das empresas de growth”, aponta Luciana.
A nova onda das secundárias
O interesse crescente por fundos secundários vem do novo ciclo do venture capital, marcado pela falta de liquidez e pela reprecificação de ativos.
A gestora prioriza empresas B2B com receita recorrente acima de R$ 30 milhões anuais e entre 500 e 1 mil clientes. Em linhas gerais, são companhias que já superaram o “vale da morte” e precisam se reestruturar para crescer de forma exponencial.
“Vemos muitas oportunidades nesse mercado, principalmente pela falta de liquidez. Nossa ideia é capturar companhias que estão no portfólio de VCs e CVCs, que sejam empresas rentáveis, mas que ainda precisam de maturidade para chegar a uma saída. Quando a gente entra, realinha expectativas com os fundadores e os outros investidores”, afirma Luciana.
A tese de investimento é diversificada, combinando verticais como logtech, martech, construtech, legaltech e indústria 4.0, com horizontais, como CRM e supply chain.
Com 18 companhias investidas desde sua fundação e 10 saídas completas, a Oria aposta no seu conhecimento e experiência com secundárias para se destacar neste momento. A gestora começou a explorar esse tipo de transação muito antes de o tema ganhar destaque no mercado e se especializou no secundário direto – quando compra participações de empresas, e não cotas de outros fundos, como fazem outras casas.
Esse pioneirismo garantiu à Oria um track record representativo, com retornos consistentes e a confiança de investidores locais e estrangeiros. “Já provamos que é possível entregar bons resultados nesse modelo, mesmo em ciclos de menor liquidez”, comenta Luciana Trindade, partner da gestora.
Além disso, a Oria tem se mostrado criativa ao estruturar soluções que ampliam a flexibilidade do capital investido. Em 2021, adotou uma estratégia de continuation fund, estrutura em que o gestor recompra os próprios ativos para dar mais tempo às saídas e oferecer liquidez imediata a quem deseja encerrar a posição.
“Sempre fomos super ativistas em buscar soluções. Ter criatividade ajuda muito neste mercado”, diz.