Data centers | Foto: Canva
Data centers | Foto: Canva

Inovações tecnológicas como a inteligência artificial e os carros elétricos têm gerado uma nova demanda por energia. Somado à necessidade por descarbonização, esse cenário exige de empresas, governos e reguladores uma boa dose de criatividade e inovação para encontrar novas possibilidades de geração energética.

Esse desafio traz também novas oportunidades de negócios, que estão listadas no relatório 10 Energy Megatrends 2025, lançado nesta quinta-feira (23), lançado pelo Energy Summit e a MIT Technology Review Brasil, por meio do Energy Center. Essa é a segunda edição do relatório, que começou a ser produzido em 2024.

“O que está acontecendo hoje no setor de energia é muito parecido com o que aconteceu com a internet há alguns anos, em que todos sabem onde queremos chegar, mas muitas vezes não sabem como. A ideia é que as megatrends sirvam como um guia, ajudando a mostrar quais os possíveis caminhos”, afirma Hudson Mendonça, CEO do Energy Summit e Vice-Presidente de Energia e Sustentabilidade da MIT Technology Review Brasil.

As tendências no segmento energético começam com o setor elétrico, com a demanda gerada por data centers e infraestrutura para IA, além de verticais como segurança digital para IA, e Usinas Virtuais de Energia (VPPs) – solução ainda pouco usada no Brasil e sem regulamentação no país, mas que traria mais estabilidade ao sistema, agregando milhares de recursos distribuídos, como baterias residenciais e carros elétricos.

Durante a abertura do evento, Osmar Lima, secretário municipal de desenvolvimento econômico do Rio de Janeiro, destacou a importância de investir em infraestrutura digital para garantir o futuro das cidades.

“Tem um tripé que a gente vai perseguir, que é infraestrutura, pessoas e oportunidades. E isso tem que ser construído para resolver problemas reais. Precisa ter infraestrutura digital. Vai ser absolutamente determinante para a capacidade de uma cidade se adaptar. Quem não investir em infraestrutura não vai conseguir acompanhar o ritmo”, disse o secretário.

Osmar mencionou o projeto Rio AI City, para construção do maior hub de data centers da América Latina na capital fluminense. Com um investimento total previsto de US$ 65 bilhões, o plano é transformar o Rio de Janeiro em um dos dez maiores polos de IA do mundo até 2032, mobilizando grandes empresas, como Oracle e Nvidia.

“A prefeitura vem buscando outros projetos que possam povoar a cidade com data centers para objetivos e demandas diferentes. Do ponto de vista tecnológico, anunciamos nosso Cerco Digital (sistema de monitoramento urbano que utiliza câmeras inteligentes com IA), que é um projeto de processamento e armazenamento de dados, para serem disponibilizados para forças de segurança”, finalizou o secretário.

Abertura do lançamento do relatório 10 Energy Megatrends 2025 | Foto: Divulgação

Deep techs, biometano, baterias de sódio

No transporte, carros híbridos têm ganhado destaque, além de novas fontes de combustíveis, como biometano e biogás. Além disso, o mercado tem olhado para novas possibilidades de armazenamento alternativas ao lítio, como as baterias de sódio.

“As deeptechs são horizontais e praticamente permeiam todas as tendências. Mas esse é um desafio para o venture capital tradicional, que costuma buscar soluções mais escaláveis, como softwares. No entanto, existe uma base resiliente de fundos especializados e programas públicos”, aponta Luiz Mandarino, COO do Energy Center.

De forma transversal, as tendências são afetadas pela geopolítica, último ponto destacado pelo relatório. Esse fator influencia desde o desenvolvimento tecnológico, como a corrida pela IA, com a briga entre China e EUA, além de disputa por insumos, como metais e outras commodities, afirma Hudson Mendonça.

Confira as 10 megatendências em energia:

Data center e infraestrutura para IA

      O consumo de eletricidade dos data centers pode dobrar até 2030, com IA puxando parte desse aumento. Essa nova demanda vai forçar empresas e governos a repensar suas fontes energéticas, com foco em sustentabilidade e eficiência.

      Ciber-resiliência energética

      Ataques à infraestrutura crítica estão mais frequentes e sofisticados, aproveitando brechas em sistemas cada vez mais conectados e digitalizados. Nesse sentido, países têm buscado reforçar sua cibersegurança, especialmente no setor elétrico, que é um dos mais atacados do mundo. O prejuízo médio por ataque ultrapassa US$ 4 milhões por ano, segundo dados da IBM.

      Veículos elétricos híbridos (HEV)

      Veículos híbridos corresponderam por cerca de um terço das vendas na União Europeia na primeira metade de 2025. No Brasil, a projeção é que até 2035 veículos elétricos e híbridos correspondam a dois terços das vendas de carros novos no Brasil. Para startups, esse mercado abre possibilidades de desenvolvimentos de sistemas de gestão de energia, recarga elétrica e micromobilidade.

      Biometano/Biogás

      O biometano é o combustível com menor emissão de CO2, e o Brasil tem capacidade de se destacar nesse mercado, com uso de resíduos agrícolas.

      Deeptechs na transição energética

      Boa parte das reduções nas emissões de carbono até 2050 depende de tecnologias que ainda estão em período de testes. Problemas complexos exigem soluções complexas, como as desenvolvidas por deep techs. O relatório destaca os desafios para financiamento dessas empresas, que oferecem retornos de longo prazo e maior risco aos investidores.

      Usinas virtuais na energia (VPPs)

      Sigla em inglês para virtual power plants, as VPPs reúnem pequenos geradores de energia, como sistemas residenciais e carros elétricos, para fornecer energia excedente à rede, oferecendo capacidade adicional. Para startups, há oportunidade de desenvolvimento de sistemas de orquestração, adesão de clientes e despacho com IA.

      Baterias de sódio, estado sólido e alternativas ao lítio

      O armazenamento de energia é um elemento importante para dar estabilidade a sistemas, em especial de fontes renováveis, como solar e eólica. Nesse contexto, o mercado começa a buscar alternativas ao lítio que sejam mais acessíveis. As baterias de sódio são uma opção, reduzindo custos e a dependência de países como a China.

      Descarbonização do transporte marítimo

      A navegação internacional definiu meta de carbono zero até 2050, destravando encomendas de navios com combustível alternativo, como o metanol.

      Processamento submarino avançado de O&G

      Com o declínio natural de campos de petróleo, tecnologias de recuperação ganham prioridade para manter volumes com menor intensidade de carbono e custos de produção competitivos.

      Geopolítica da energia e cadeias críticas

      Os conflitos globais acenderam o alerta para a influência da geopolítica nas decisões estratégicas de investimentos para a transição energética e no desenvolvimento de novas tecnologias. Essas políticas determinam o risco e velocidade de adaptação das cadeias produtivas. Para startups, o relatório aponta para oportunidades em segmentos como compliance, gestão de risco, plataformas de due diligence etc.