Media for equity | Imagem: Canva
Media for equity | Imagem: Canva

*Por Rafael Teixeira, Lethycia Florencio e Renata Chamlian Anspach, da área Societário e M&A do Barreto Veiga Advogados (BVA)

As empresas no Brasil, especialmente startups, frequentemente se veem diante do dilema de crescer sem comprometer o caixa. Nesse contexto, estratégias que unem visibilidade de marca e otimização de recursos ganham destaque, e o modelo de Media for Equity (“M4E”) surge como uma alternativa inteligente.

A lógica é simples, mas poderosa: ao invés de investir capital diretamente em mídia, este modelo permite à empresa ceder uma fração de seu capital em troca de ampla exposição publicitária. Este formato lembra o que ocorreu com a Nike na década de 1980, quando a empresa enfrentava dificuldades financeiras e firmou, com Michael Jordan, um contrato inédito para a época. O lançamento do tênis Air Jordan, combinado com uma campanha provocativa, catapultou a marca para o topo do mercado esportivo, demonstrando como uma estratégia bem orquestrada de marketing aliada à imagem de uma figura de grande apelo pode se transformar em estrutura de crescimento duradouro.

No Brasil, os exemplos práticos reforçam a funcionalidade do modelo. A Daki captou aproximadamente R$ 25 milhões por meio de Media for Equity com a 4Equity Media Ventures, cedendo cerca de 0,6 % do capital e assegurando campanhas em televisão, outdoor, podcasts e redes sociais dos veículos associados ao fundo, tudo previsto para um período de dois anos.

O QuintoAndar também celebrou um acordo semelhante, com ênfase em mídia regional para impulsionar presença em cidades do interior por meio de rádio, publicidade em ambientes externos (DOOH) e influenciadores locais — uma estratégia que unifica eficiência de investimento e escala geográfica.

Essa abordagem estratégica oferece benefícios claros e concretos. Ao permitir que a empresa preserve seu capital, ela pode destinar recursos ao aprimoramento do produto ou expansão operacional. Além disso, ao condicionar a participação societária ao cumprimento de metas contratuais, se estabelece um alinhamento explícito entre as partes envolvidas, conforme previsto nos mecanismos de performance típicos desse modelo.

Outro grande exemplo recente e concreto de como parceiros estratégicos de mídia podem fomentar relações societárias é a participação do surfista Gabriel Medina no projeto Beyond The Club, um clube de luxo com piscina de ondas em São Paulo. Idealizado por BTG Pactual Asset Management, KSM Realty e Realty Properties, o empreendimento associa esportes, entretenimento e hospitalidade de alto padrão.

Medina se tornou acionista da KSM Realty e, ao lado do também surfista Filipe Toledo, atuam como embaixadores e apoiadores do projeto. Ambos utilizam o valor de suas marcas pessoais para impulsionar a atratividade comercial do Beyond, reforçando a convergência entre marketing, mídia e participação societária. Assim, embora não seja um exemplo canônico de M4E, reflete uma lógica similar: Medina ingressa como sócio e figura estratégica de marketing. Esse modelo híbrido de investimento por imagem e participação traz à tona a variação do M4E que envolve celebridades como coinvestidores estratégicos.

Sob uma ótica jurídica, é essencial dedicar atenção à estrutura do investimento realizado por meio do modelo Media for Equity. Ainda que a diluição societária pareça pequena, ela pode impactar diretamente a dinâmica de controle e tomada de decisões na empresa. Por isso, é fundamental que o valuation seja bem fundamentado e que o contrato preveja mecanismos como vesting, restrições à transferência de participação societária e regras claras de governança. Além dos aspectos societários, a cessão de participação pode gerar implicações fiscais relevantes, exigindo um planejamento tributário estruturado.

Em síntese, o Media for Equity emerge como uma solução eficiente para empresas brasileiras que buscam crescer rapidamente, preservando capital de giro e otimizando recursos. Ao trocar participação societária por exposição publicitária, o modelo possibilita um investimento estratégico — desde que estruturado com rigor jurídico. Assim, o M4E se consolida como uma alternativa promissora para negócios com recursos limitados, mas alto potencial de mercado, contribuindo para um ecossistema empreendedor mais dinâmico e inclusivo.