
Quem avisa amigo é. De acordo com alguns VCs, a bolha de investimentos em inteligência artificial é real, e o conselho é claro: é melhor atacar o mercado e fazer suas rodadas de captação antes do hype da IA desacelerar, e os valuations se ajustarem.
De acordo com investidores ouvidos pelo site britânico Sifted, a animação dos investidores em assinar cheques inflados para empresas de IA pode não durar mais muito tempo. Em 2025, os investimentos das startups europeias de IA bateram recordes, com mais de € 8,3 bilhões em aportes, quase o dobro do que foi levantado no ano passado.
Segundo dados de um levantamento global da CB Insights, os investimentos em IA em 2025 representaram 51% de todo a movimentação de venture capital. Até o terceiro trimestre do ano, foram cerca de US$ 310 bilhões aportados em companhias do setor.
Contudo, apesar das avaliações altíssimas e da disputa entre fundos pelas melhores startups, os investidores alertam que os bons tempos não vão durar para sempre. Alguns estão aconselhando suas investidas a aproveitar o momento favorável e se preparar para um esfriamento no apetite dos fundos.
“A bolha vai desinflar gradualmente à medida que os investidores superarem o hype e passarem a focar em resultados reais”, disse ao Sifted Patrice Mesnier, sócio-fundador da Oldenburg Capital Partners. “A especulação em IA vai diminuir primeiro, os segmentos mais supervalorizados vão desacelerar”.
Segundo os investidores, a IA vai passar em breve por uma correção semelhante à que se estabeleceu em meados de 2022, quando o boom de valuations do pós-pandemia virou o chamado “inverno das startups”, inclusive gerando ondas de demissões.
Na Europa, por exemplo, o volume de investimentos em 2021 foi de US$ 113 bilhões – em 2023 caiu para US$ 59 bilhões. No Brasil, não foi diferente: em 2021 os investimentos em startups bateram na casa dos US$ 10,5 bilhões, para em 2023 despencarem para cerca de US$ 2 bilhões.
Segundo os VCs, os investidores estão desesperados para entrar nos deals mais quentes e estão ignorando métricas fundamentais, como o ARR (receita recorrente anual). Além disso, os múltiplos de avaliação estão subindo à medida que os investidores disputam espaço nas rodadas mais badaladas.
“Uma correção de mercado deve acontecer no próximo ano”, prevê Pär-Jörgen Pärson, sócio da Northzone, fundo europeu que já investiu em nomes conhecidos como a Klarna. “Não dá pra prever o gatilho, mas em algum momento as pessoas vão se olhar e perguntar: ‘Como esses caras vão realmente ganhar dinheiro?’”
Segundo o sócio da Northzone, as startups que constroem ferramentas horizontais (como navegadores com agentes autônomos e plataformas de “vibe coding”) estão mais vulneráveis. “Esse tipo de negócio é extremamente frágil. Fabricantes de modelos de linguagem, como OpenAI e Anthropic, têm cofres enormes e podem entrar nesses segmentos a qualquer momento”, afirma.
Já os casos de uso mais especializados, como em jurídico e saúde, têm barreiras técnicas, o que deixa startups deste segmento um pouco mais protegidas. Entretanto, conforme Pär-Jörgen, o conselho segue o mesmo. “Se puder captar, capte antes, e um pouco mais”, aconselha.
Apesar dos alertas, Tobias Bengtsdahl, sócio da Antler, diz que o momento é diferente de 2021, pois se trata de uma mudança tecnológica real, e não apenas um excesso de liquidez como o que foi visto no pós-Covid. “Acho que ainda vamos surfar esse momento por um tempo, mas basta uma manchete negativa sobre a Nvidia ou a OpenAI para virar o jogo e, quando isso acontecer, toda startup de IA será analisada com muito mais rigor do que é hoje”, finaliza.
 
					 
			
		 
			
		 
			
		 
			
		 
			
		 
			
		 
			
		