
O hype dos valuations nas empresas de inteligência artificial segue em alta, mas cada vez mais começam a aparecer vozes dissidentes apontando uma bolha no mercado, e um choque de realidade pode chegar muito em breve. Agora, quem reforça esse coro é o CEO da DeVere Group, uma das principais consultorias globais de investimento.
Segundo o CEO da DeVere, Nigel Green, as recentes quedas de bolsas como a Nikkei sugerem que uma correção nas avaliações de empresas de IA e tecnologia está se formando. Esta semana, os mercados asiáticos registraram suas maiores baixas em meses, os futuros europeus apontaram queda, e moedas sensíveis ao risco perderam valor.
Conforme avalia Nigel, a reversão acentuada nos mercados é um indício que investidores começaramm a questionar se as avaliações recordes em IA e tecnologia realmente vão gerar lucros no futuro.
“As avaliações de IA e tecnologia vêm crescendo mais rápido do que os lucros há algum tempo”, diz o executivo. “A inovação é real, mas a lucratividade ainda precisa se provar. Agora, os mercados estão pedindo evidências, não mais expectativas”.
Segundo ele, essa nova onda de liquidações na bolsa – outro exemplo foi a abrupta queda de 14% nas ações do SoftBank, um dos principais financiadores da OpenAI – reflete um reconhecimento crescente de que o forte rali, liderado por um pequeno grupo de gigantes de tecnologia, se tornou cada vez mais frágil.
“Quando um grupo tão pequeno de empresas carrega tanto peso no mercado, qualquer perda de confiança nelas pode gerar reações desproporcionais. O que estamos vendo não é pânico, mas sim uma redescoberta de preços após meses de excesso de otimismo”, pontua Nigel.
Nigel Green diz que a correção, embora desconfortável, é uma fase necessária para um crescimento sustentável. “Uma correção dessa magnitude devolve disciplina aos mercados”, explica. “Ela força os investidores a distinguir entre as empresas que geram produtividade real e as que vivem apenas de potencial”.
Fortes sinais
A declaração de Nigel Green vem no rastro de outros movimentos vistos nos últimos dias, que estão levantando a luz de alerta sobre o hype nos investimentos em IA. Na semana passada, o site Sifted divulgou um artigo apontando que diversos VCs europeus estão recomendando às startups que façam novas rodadas o mais rápido possível, antes que a bolha de valorização “murche” e uma correção de mercado aconteça.
Outra notícia interessante foi divulgada nesta segunda (04). Michael Burry, o investidor que ficou conhecido por identificar a bolha no mercado imobiliário dos EUA em 2008 e fazer uma fortuna apostando contra este mercado na bolsa, se posicionou com o equivalente a US$ 1 milhão em opções de venda (put options) de venda da Nvidia.
“Às vezes, vemos bolhas. Às vezes, há algo que se pode fazer a respeito. Às vezes, o único movimento vencedor é não jogar”, disse Michael em seu perfil do X, sugerindo que a valorização recorde da Nvidia, que bateu os US$ 5 trilhões em outubro, está exagerada.
Por enquanto, o fato é que o mercado de IA (especialmente lá fora) está mais do que aquecido. Segundo dados de um levantamento global da CB Insights, os investimentos em IA em 2025 representaram 51% de todo a movimentação de venture capital. Até o terceiro trimestre do ano, foram cerca de US$ 310 bilhões aportados em companhias do setor. Agora resta saber até quando isso seguirá.