ACE Summit

Startups e corporações: por que se aproximar e unir forças

Executivos analisam as vantagens de participar de iniciativas de inovação aberta no ecossistema

Parceria
Foto: Canva

Fomentar o mercado de startups não é mais interesse apenas dos empreendedores e investidores. Nos últimos anos, grandes corporações também começaram a se aproximar do ecossistema e promover iniciativas de inovação aberta, seja por meio de programas de aceleração, parcerias estratégicas, aquisições ou investimento.

Para a Randoncorp, grupo que atua há mais de 70 anos nos setores de semirreboques, vagões ferroviários, autopeças e serviços, a aliança com startups tem sido fundamental. Por meio do fundo Randon Ventures, a companhia investe e acelera negócios com produto pronto e equipe dedicada, para resolver problemas reais do mercado que tenham sinergia com os negócios das Empresas Randon, procurando principalmente fintechs, insurtechs, autotechs, startups da indústria 4.0 e logtechs.

“A Randon se reinventou nos últimos 10 anos e hoje atua como um ecossistema de tecnologia para o setor de transporte, incluindo frentes de cocriação de startups e serviços digitais”, explicou Daniel M. Ely, vice-presidente executivo e COO de serviços financeiros digitais da Randoncorp, durante sua participação no ACE Summit. Promovido pela holding de venture capital ACE nesta sexta-feira (12), o evento busca reunir empreendedores, investidores e profissionais de inovação corporativa em um ambiente único para potencializar negócios.

Durante o painel mediado por Pedro Waengertner, cofundador e CEO da ACE, Daniel contou que, no início, o ecossistema de inovação era algo muito distante da Randon, e a companhia começou a se aproximar com o apoio da ACE. “Empresas grandes têm facilidade para entender tendências, e vimos que mais do que nos conectar, podíamos abrir portas, cocriar soluções e investir nas startups. A força que corporações e startups têm de transformar o país é muito grande, mas isso muitas vezes fica bloqueado por uma falta de mentalidade do ecossistema para construir juntos”, analisa.

Entre as investidas pelo Randon Ventures, está a Motorista PX, que conecta a frota de empresas a motoristas profissionais. Em 2021, a startup recebeu um aporte de R$ 2 milhões das redes ACE Startups, BR Angels, GR8 Ventures e Randon Ventures para aprimorar sua tecnologia, investir na qualificação dos motoristas e incluir veículos de carga menores para atender a grandes transportadoras.

“A PX chega no meio da jornada de amadurecimento da Randon, quando começamos a entender que podíamos acelerar – e muito – as startups, colocando à disposição toda a nossa estrutura de logística e transporte para impulsionar os negócios. Antes, enxergávamos uma startup apenas como fornecedor. Hoje, a Randon tem um posicionamento muito mais maduro, de sermos parceiros e abrir portas, e temos inclusive o surgimento de startups dentro da própria corporação”, explica Daniel.

André Oliveira, CEO e fundador da Motorista XP, descreve a relação com a Randon como extremamente estratégica. “Quando surgiu a oportunidade de trabalhar com eles, já estávamos super interessados, porque ter a validação de uma grande empresa como a Randon nos permitia ter mais destaque no mercado, além de os negócios terem um fit bem forte”, pontua.

Essa validação é, por sinal, uma das principais vantagens do relacionamento entre startups e grandes empresas. Quando uma empresa reconhecida no mercado legitima o produto das startups, principalmente daquelas que estão no início de suas jornadas, o acordo pode servir como selo de validação para os empreendedores e dar uma turbinada ainda maior nos negócios, além das corporações compartilharem expertises, oferecerem mentorias, apoiarem na governança e conectarem a startup com novos clientes.

Segundo André, a Motorista PX cresceu 55 vezes em 2022, mesmo no temido inverno das startups. Somando com os primeiros meses de 2023, o crescimento já passa dos 65x. A startup alcançou o break-even no ano passado e, atualmente, está no processo de captação de uma nova rodada de investimentos, embora o executivo afirme que os negócios estão “confortáveis”.

ACE Summit: André Oliveira (Motorista PX), Daniel M. Ely (Empresas Randon) e Pedro Waengertner (ACE)
André Oliveira (Motorista PX), Daniel M. Ely (Empresas Randon) e Pedro Waengertner (ACE) no painel do ACE Summit (Foto: Startups)

Criando pontes

Quem também tem investido forte no relacionamento com startups é o BTG Pactual. O banco fortalece suas ações de inovação aberta por meio do boostLAB, programa de potencialização de startups que tem a missão de ajudar e investir em negócios de grande potencial para crescer de forma acelerada. A iniciativa oferece acompanhamento personalizado para gerar conexões, abertura de portas e valorização das empresas  selecionadas.

“É importante saber como atrair boas startups e bons negócios. Os empreendedores estão ficando mais maduros e construindo negócios sólidos. Hoje, independente se a empresa está no break-even ou não, as startups resolvem problemas reais”, observa Pedro Compani, head do boostLAB. O executivo ressalta que, apesar da conjuntura econômica atual, ainda há ótimas oportunidades, principalmente no early-stage. “Antes fazíamos investimentos esporádicos, mas demos um passo além para investir e fazer a coisa acontecer”, afirma.

ACE Summit: Bruno Stefani, Lívia Hallak (Oxygea) e Pedro Compani (BTG Pactual)
Bruno Stefani, Lívia Hallak (Oxygea) e Pedro Compani (BTG Pactual) no painel do ACE Summit (Foto: Startups)

A Braskem anunciou, em outubro de 2022, o lançamento do Oxygea, um hub de startups criado para fomentar o desenvolvimento de ideias e negócios inovadores. A iniciativa destinará um total de US$ 150 milhões para parceria com startups, atuando em duas frentes: venture builder, com foco em estruturação e incubação de novos negócios (US$ 50 milhões), e corporate venture capital (CVC), para investir em startups mais maduras (US$ 100 milhões).

“O match perfeito acontece no timing perfeito”, considera Livia Hallak, portfolio manager na Oxygia Ventures. Isso leva em conta o preparo da corporação para receber empresas menores, e o momento da própria startup, que também precisa estar adaptada para interagir com as grandes empresas.

Como principais aprendizados até o momento, ela explica que qualquer iniciativa ou projeto precisa começar pela definição da estratégia. “Tem que estar claro e muito bem definido onde você quer chegar. Depois, é importante entender quais são os gargalos, os problemas internos, o contexto e o cenário em que está inserido, além de identificar o que precisa em termos de modelos operacionais e quais serão os processos”, finaliza.