Do mundo das fintechs para o de saúde e seguros. Essa é só uma parte da jornada profissional do empreendedor Thiago Bonfim, que há 3 anos comanda a Caren, startup carioca que nasceu como healthtech e hoje atua também como insurtech. Após se aventurar no mercado de serviços financeiros entre 2014 e 2017, Thiago decidiu migrar para o setor de saúde em uma situação curiosa.
Isso foi no início de 2018. Mais precisamente quando levou uma mordida de seu gato e passou por consulta médica. “O atendimento foi prático, a médica só me fez 3 perguntas para o diagnóstico e sugestão do tratamento, algo que podia ter sido feito por um chat ou videochamada. Como na época esse tipo de interação não era tão comum, vi uma oportunidade de criar algo neste sentido”, conta.
Em uma pequena sala no escritório de um amigo se juntou a 4 pessoas que trabalhavam com ele em outra empresa e fundou a Caren (o nome vem de care network, rede de cuidados em inglês). A empresa teve um empurrãozinho de R$ 200 mil de Thiago, e sua proposta inicial era criar uma tecnologia de telemedicina. Mas, como ele próprio diz, que a vida de startup num dia é céu e no outro inferno, não deu 2 meses de empresa para o Conselho Federal de Medicina intervir, dizendo que eles não podiam fazer o que estavam fazendo – a telemedicina ainda não era liberada no Brasil.
A solução encontrada foi trabalhar os protocolos do pré e pós-atendimento, permitindo aos profissionais de saúde acompanhar toda a jornada do paciente. “Pivotamos a empresa e trouxemos inteligência artificial para automatizar protocolos referentes a esses processos”, diz Thiago. O primeiro protocolo desenvolvido pela Caren foi o de triagem online, que pré-classificava a urgência de atendimento, bem como exames que deveriam ser feitos no paciente.
Pandemia: desafios e oportunidades
No fim de 2019, a startup recebeu um investimento-anjo de R$ 300 mil de Valdir Dallorto, ex-executivo da Vale, que comprou 10% da Caren. Mal sabia Thiago que o aporte ajudaria a saúde da empresa no ano seguinte, com a inesperada pandemia de Covid-19. No mesmo ano, a healthtech conseguiu entrar para o programa de criação do BNDES Garagem, que ajuda startups que estão em fase de criação do produto. Agora em 2021, entraram para o programa de aceleração da iniciativa.
Se para muitas empresas, a pandemia foi uma onda violenta de quebras e prejuízos, para a Caren, foi uma baita oportunidade. Em maio de 2020, fechou uma parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) para desenvolver um sistema de triagem online implementado na emergência do Hospital de Clínicas. O sistema separa pacientes suspeitos de pacientes saudáveis e gera uma fila por ordem de prioridade, de forma automática.
Não demorou muito para a companhia carioca lançar sua primeira ação voltada ao B2C: uma plataforma de autoavaliação gratuita de Covid – que interage direto com o usuário final. Em menos de 1 mês, foram quase 3 milhões de acessos.
No meio da pandemia também receberam mais um investimento, da Templo Ventures, uma “rodada ponte” para a entrada de sócios estratégicos. Captaram quase R$ 500 mil, um dinheiro que está investido, não foi usado ainda. Se na época do investimento-anjo a empresa tinha valuation de R$ 3 milhões, neste momento já havia saltado para R$ 13 milhões.
Mercado de seguros
No segmento de seguros, a Caren combina inteligência artificial com dados de subscrição, para fornecer modelos preditivos e sugestões automáticas de aceite, declínio ou agravo na avaliação de propostas. Foi na metade de 2020 que a startup foi surpreendida pelo interesse de uma companhia do segmento em sua tecnologia. A IRB Brasil RE, só a maior resseguradora do país.
“O que fizemos foi pegar um protocolo de recomendação de diagnóstico, usado na área de saúde, e adaptá-lo para recomendação de aceite e recusa de apólices de seguro de vida”, explica Thiago. Após 1 mês, o sistema da startup era capaz de acertar 88% das recomendações. E assim vingou o primeiro cliente atuando como insurtech. A Icatu Seguros foi a segunda tacada.
Com 2 clientes em seguros e 4 em saúde (FAPES, plano de saúde do BNDES; MedSênior; Secretaria de Saúde do município de Resende, no Rio de Janeiro e Unicamp), a startup segue com boas projeções. A estimativa é de faturar R$ 1 milhão este ano. Para 2022, conseguirão lançar a telemedicina (bloqueada no início) para planos de saúde parceiros. Também está na agenda estreitar o relacionamento com potenciais clientes fora do país – já estão em conversas com Portugal e Angola.