Levar saúde a regiões de vazio assistencial, facilitando o acesso às consultas médicas com especialistas por meio da tecnologia. Este é o propósito da Medicou.Net, startup goiana que tem ajudado cidades do interior do Brasil a prestar atendimento médico de forma híbrida, ampliando assim o acesso à saúde para quem precisa.
A ideia de criar a startup que se autodenomina uma healthgovtech partiu do casal de médicos Marcus Lobo (generalista) e Giselle Pulice (pediatra), ao perceber que, com o avanço da pandemia, as barreiras geográficas tornaram o atendimento médico cada vez mais escasso. Para piorar, apesar do significativo número de médicos ativos no Brasil, ainda há enorme desigualdade na distribuição, fixação e acesso a esses profissionais.
Segundo os dados do levantamento Demografia Médica 2023, lançado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), a maioria dos médicos permanece concentrada nas regiões Sul e Sudeste, nas capitais e nos grandes municípios, principalmente devido às melhores condições de trabalho. Enquanto no Sudeste trabalham 53% dos médicos no país, no Norte, o percentual é de apenas 4%.
Atenta ao cenário desafiador, a Medicou.Net começou sua operação em 2021 com um investimento de R$ 100 mil dos sócios e no modelo B2C, prestando atendimento médico online para pessoas de todo o país. No entanto, logo Marcus percebeu a necessidade do exame médico físico nas consultas e pivotou para o B2B, se unindo às clínicas locais como licenciadas. O movimento deu certo e a startup começou a escalar, chegando em 5 Estados: Além de Goiás, Alagoas, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Tocantins.
Pivotar, até acertar
Só que, mesmo com um bom número de atendimentos, Marcus se deu conta que, ainda assim, alcançava apenas uma pequena parcela da população que podia pagar pelo atendimento. Afinal, uma consulta médica de R$ 250 em uma clínica particular é muito cara para aqueles que ganham um salário mínimo.
E foi no ano passado, quando foi acelerada pelo Programa BNDES Garagem – Negócios de Impacto, realizado em parceria com a Artemisia, Wayra e Liga Ventures, que a startup teve um novo insight e decidiu pivotar pela segunda vez. A companhia inclusive foi vice-campeã no Demoday BNDES Garagem 2022, no estágio tração. Foram mais de mil empresas inscritas e 7 finalistas.
“A partir da mentoria do BNDES Garagem, compreendemos o potencial de impacto social que temos e definimos nosso product market fit. Foi um período importante para conseguirmos alinhar ao nosso discurso quais os potenciais diferenciais para conseguir vender ao novo público-alvo”, conta o CEO.
A Medicou.Net migrou então para o B2G, com objetivo de levar o modelo de negócio para o Sistema Único de Saúde (SUS), oferecendo um serviço especializado a baixo custo para atender a população do interior com qualidade. O foco da companhia passou a ser então a venda de planos para prefeituras, onde são providos insumos tecnológicos e especialistas.
“O serviço permite que qualquer agente de saúde local inicie o atendimento presencial, realizando exames físicos, para que um especialista conclua a consulta de forma digital. De quebra, ajudamos ainda os municípios a baterem metas federais, aumentando a arrecadação recebida pelo governo federal. É um ciclo que se retroalimenta”, afirma Marcus. “A partir de R$ 30 mil por mês conseguimos levar 20 especialistas diferentes para uma cidade com menos de 20 mil habitantes”, exemplifica.
A estratégia deu tão certo que a healthgovtech faturou R$ 240 mil em 2022, um crescimento de 600% comparado ao ano anterior. Desde sua fundação, em 2021, a startup beneficiou mais de 1.000 pessoas e a expectativa para 2023 é de ampliar este número em uma escala muito maior, ao adentrar mais 2 Estados, no Norte e Nordeste. A projeção é fechar o ano com faturamento de R$ 1 milhão.