Ao longo de seus 15 anos de carreira no mercado de TI, Daniel Nascimento sempre teve curiosidade e vontade de empreender. E foi em 2012 que o executivo enxergou potencial de lucro e transformação social na área de resíduos sólidos e fundou, em Belo Horizonte, a startup Seiva Coleta, especializada na logística reversa e reciclagem de todo tipo de material, exceto vidro, pois não havia pontos para vendê-lo no estado de Minas Gerais.
Daniel investiu R$ 60 mil para dar vida à empresa. Com pouco mais de 100 clientes, instalava bombonas (recipientes para coleta) em bares e baladas para a coleta do material a ser reciclado, dava treinamentos em condomínios, entre outros serviços. Recolhia o material, vendia para cooperativas e dividia metade do lucro com o dono do bar.
O negócio foi crescendo e, depois de 4 anos, a startup passou a dedicar 100% das operações para o vidro. Decidiu então fabricar máquinas apropriadas para coleta e trituração do material. Mas no início digamos que foi um tanto quanto amador.
“O primeiro protótipo da máquina era de madeira e testando o modelo chamamos o diretor de meio ambiente do estádio do Mineirão. Só que a máquina era praticamente um canhão que cuspia o vidro pra fora. Quando ele colocou uma garrafa na máquina voou um caco de vidro no meio da testa dele”, lembra Daniel. Neste momento da entrevista eu ri, mas foi de nervoso.
Após algumas transformações ao longo de uma década, a startup não só cresceu, como virou um grupo, o Grupo Seiva, formado por quatro empresas focadas na oferta de uma solução de sustentabilidade e logística reversa 360º. A Seiva Coleta cuida de toda a parte de logística do vidro. A Seiva Mídia é responsável pela publicidade nas máquinas, por meio de telas. A Seiva Data cuida de toda a parte tecnológica. E a Seiva Machine, por fim, é detentora das patentes e fabricante das máquinas.
Logística reversa na prática
Para conseguir alavancar a reciclagem de vidro no Brasil, o Grupo Seiva conta com máquinas 4R Glass, JM Sand e a 4R PET- todas produzidas integralmente pela startup. Duas delas já possuem embarcados seus sistemas de Engajamento Social, como o Ponto Caco – programa que remunera o cliente com descontos em produtos do Grupo Heineken – e o RePET – programa dedicado ao Instituto Fecomércio de Sustentabilidade (IFES), que premia seus colaboradores com cursos, benefícios sociais e diversos brindes.
As máquinas 4R Glass possuem o propósito de promover uma mudança cultural na relação do mundo com o vidro e com o PET, além de fornecer soluções práticas e inovadoras de sustentabilidade, possibilitando que pessoas transformem suas comunidades. Já o modelo JM Sand é uma adaptação da primeira máquina para um tamanho menor, com foco em recolher e triturar o vidro nos restaurantes e bares, a fim de evitar que esses estabelecimentos recebam multa das autoridades pela destinação incorreta das garrafas de vidro.
“Os garçons e o próprio público dos bares e restaurantes, ao invés de jogarem suas garrafas no lixo convencional, as depositam nas máquinas para serem trituradas e armazenadas em coletores acoplados e posteriormente recolhidas pelo time logístico do próprio Grupo Seiva, que por sua vez entrega o material já limpo as recicladoras”, explica Daniel.
O CEO também desenvolveu uma 3ª máquina, porém, essa atua apenas com garrafas PET: a 4R PET. O equipamento, criado para o Instituto Fecomércio de Sustentabilidade em parceria com o Grupo Seiva, possui uma ferramenta de corte que fragmenta as garrafas de forma mais rápida e eficiente. As máquinas contam com leitura do tipo de embalagem que informa ao usuário se o material a ser reciclado é adequado.
2023 promete
A startup mineira recolheu, apenas em 2022, mais de 200 toneladas de vidro em 10 ecopontos espalhados em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte – crescimento de 92% em comparação a 2021. Também foram recolhidas mais de 500 mil embalagens de vidro de bares, restaurantes e grandes condomínios residenciais.
Em termos de receita, a empresa cresceu 40% no mesmo período e com a expansão de suas operações para dezenas de capitais brasileiras, projeta um 2023 com crescimento de 300%. O grupo conta hoje com parceiros comerciais como Heineken, Instituto Fecomércio de Sustentabilidade (IFeS) e a Fecomércio RJ.
A aposta do ano, segundo Daniel, é o projeto com a fabricante de embalagens de vidro Owens Illinois, que se inicia em março, no qual haverá um aumento significativo no volume de vidro coletado. A perspectiva é de coletar mais de 120 mil toneladas. Com isso, a projeção é que o faturamento de R$ 3,5 milhões obtido em 2022 salte para R$ 16 milhões este ano.
“O grupo criado me dá uma pulverização de faturamento. Minhas fontes de monetização vão além da venda do resíduo. Tenho a mídia, o aplicativo, o aluguel da máquina, etc, então se um projeto de um cliente acaba, a empresa não corre o risco de morrer”, finaliza Daniel.