A construtech paraense Vigha, criadora de um software para controle de obras via aplicativo, é um exemplo de como uma empresa familiar pode dar certo. A startup foi criada em 2015, em Belém, pelos irmãos Marcelo e Fábio Chaar, diretor de operações e presidente, respectivamente, que contam com o apoio e experiência de ninguém menos que o pai, Nélio Chaar, diretor financeiro da empresa.
Um ano antes, os irmãos já haviam se aventurado em outra startup própria, o marketplace Avisaí. Até chegaram a participar do programa de aceleração da Startup Farm, na Universidade de São Paulo (USP), mas o plano não saiu como o esperado e encerraram a empresa. Eles entenderam que o produto criado não era o que o mercado precisava, fora que a startup demandaria um investimento maior do que imaginavam.
Voltando à construção civil, foi na extinta construtora do pai que os irmãos puderam conviver de perto com algumas dores e problemas vividos por esse tipo de empresa. Muitas planilhas e papéis que se perdiam, ao mesmo tempo em que softwares disponíveis no mercado eram caros e complexos de usar. Foi com essa bagagem, somada à formação em ciência da computação e experiência com TI, que decidiram fundar a Vigha, lançada comercialmente em 2017.
A plataforma faz a gestão de todo o fluxo de uma construção: do orçamento até a entrega da obra. Seu diferencial, segundo Fábio, está na interface simples e intuitiva. Pelo aplicativo é possível criar orçamentos, controlar o canteiro de obras, planejar um cronograma financeiro, entre outras funcionalidades. Um diário de obras completo pelo celular. A solução é vendida em módulos (financeiro, gestão, engenharia, etc) e o valor, a partir de R$ 200, é calculado de acordo com os módulos escolhidos e a quantidade de usuários. Avisa lá para o pessoal da Oico que esse pode ser um complemento interessante para o negócio deles.
Mais de 5 mil obras já foram administradas pelo software. A startup já atendeu quase 400 empresas e hoje tem uma base de 103 clientes – pequenas empresas da construção civil – em todos os estados do país e mais além. Também conquistou um cliente na Angola e outro no Paraguai. “Nunca pensamos em ir para o exterior pois entendemos melhor o mercado regional, mas as oportunidades aparecem e não podem ser dispensadas”, comenta Fábio.
De porta em porta
Apesar da experiência no segmento, o começo não foi nada fácil. Os primeiros 2 anos de empresa contaram com um empurrãozinho financeiro de Nélio, pai dos fundadores da Vigha, cujo valor Fábio preferiu não divulgar. Com um pequeno MVP em mãos, os irmãos literalmente saíram batendo de porta em porta pela cidade de Belém em busca de clientela – foram pelo menos 80 empresas visitadas nessa jornada.
O esforço rendeu 4 primeiros clientes alguns meses depois: as paraenses Simões Engenharia, Amazon Service Engenharia e Construtora Incorporadora, e a cearense Enterplan Engenharia. Esta última conheceu a Vigha quando a startup colocou seu app no Google Play. “Ainda existe uma barreira muito grande no Norte para empreendedores da construção civil irem atrás de tecnologia. Muitos ainda não tiveram uma primeira experiência com algo disruptivo e inovador”, afirma Fábio.
Após participar do programa de aceleração BID ao cubo – iniciativa do Banco Internacional do Desenvolvimento e Cubo Itaú – no ano passado, para 2022, os sócios seguem focados no processo de automatização da jornada do cliente, com melhorias no produto e amadurecimento do seu lifetime value. Para tal, o plano é contratar mais profissionais de TI e marketing para quase dobrar a atual equipe de 8 pessoas.
Pensando nisso, no 1º semestre, a Vigha se dedicará a preparar o terreno para sua primeira rodada de captação para, na segunda metade do ano, buscar de fato o investimento com mais segurança. A expectativa é de encerrar o ano com faturamento em torno de R$ 750 mil, o que representa um crescimento de 70% em relação aos ganhos de 2021.