Fazer uma vaquinha online é uma forma prática e rápida de arrecadar dinheiro para as mais diversas finalidades, desde causas sociais até projetos pessoais. Muito antes do Kickstarter e do Catarse surgirem, dois gaúchos, cunhados, vislumbraram a arrecadação de grana pela internet como uma oportunidade de negócio promissor. Nascia no Rio Grande do Sul, em 2009, o Vakinha.
A ideia inicial surgiu na verdade três anos antes, no casamento do Luiz Felipe Gheller, um dos fundadores da startup. Ele se casou com a irmã do outro fundador do Vakinha, Fabricio Milesi, e como iam se mudar para fora do Brasil, não fazia sentido para o casal pedir equipamentos de cozinha e outros presentes na lista de casamento, e sim dinheiro para custear a mudança de país.
Foi então que Luiz e Fabricio perceberam que os sites disponíveis para organizar a arrecadação eram confusos e não inspiravam confiança. Que esse era um problema que devia ter uma solução melhor. Depois de muito quebrar a cabeça, e com a ajuda de R$ 100 mil de um amigo do sogro de Luiz, iniciaram o Vakinha com a proposta de levar a prática de fazer vaquinhas na internet.
São quase 15 anos no mercado e mais de 3 milhões de vaquinhas criadas. Só que a trajetória da startup não foi nada fácil. Os primeiros anos foram bem complicados. Mesmo com indicativos de que o site crescia e um número cada vez maior de vaquinhas online sendo criadas, o volume transacionado não era suficiente para manter o negócio.
“No começo ficávamos com uma taxa de apenas 1% do volume transacionado, o que não dava para pagar as contas. A gente entendia que o pessoal gostava de usar o nosso site, seja criando uma vaquinha ou doando, mas não conseguimos gerar caixa”, conta Luiz em conversa com o Startups para a série Além da Faria Lima.
Para se ter ideia do perrengue, o negócio quebrou não uma, mas 5 vezes. Depois de muitos empréstimos e anos de luta, os empreendedores deram um passo para trás, reduziram custos e conseguiram “breakvar”. Lançamos o site totalmente reformulado em 2015 e em 2016 começaram a ter um volume maior de arrecadação e a crescer de fato. Isso se deu tanto pelas mudanças internas quanto pela popularização do modelo, com a maior adoção dos pagamentos online e com o trabalho da concorrência de crowdfunding.
É claro que muita vaquinha diferenciada e curiosa já foi criada no site. “Já tivemos vaquinha para implante de silicone, para casamento que não deu certo e tivemos que tirar a arrecadação do ar, e até vaquinha para ajudar o Silvio Santos na crise do Banco Panamericano, o que nos rendeu notificações dos advogados do apresentador”, relembra Luiz.
Causas sociais
Vaquinhas criativas a parte, 80% do volume do site atualmente é destinado a causas sociais. Neste ano, a startup intensificou as ações de cunho social, usando a tecnologia para promover em grande escala uma grande corrente de solidariedade. Além de começar a fazer eventos solidários para seus usuários participarem, lançou iniciativas que contam com seu apoio institucional.
Dentre as novidades de 2023, o Vakinha também lançou uma amplificadora de impacto para impulsionar o crescimento de negócios de impacto que resolvem os problemas mais urgentes do mundo. Nomeada Celeiro, a iniciativa tem como objetivo potencializar a atuação de iniciativas de impacto focadas em cinco temas: alimentos/água; dignidade; educação; meio ambiente/energia e saúde.
Assim, as empresas participantes poderão contar com capital financeiro, por meio de aportes de até R$ 100 mil para que elas consigam ganhar tração e alcançar os objetivos. Além disso, haverá mentores e profissionais renomados que compartilharão as principais experiências e conhecimentos, a fim de garantir maior aplicabilidade para o negócio. De base própria, a plataforma terá, aproximadamente, 12 milhões de pessoas interessadas em doar para causas sociais.
A primeira empresa que se beneficiará desse projeto será a startup naPorta, uma logtech de impacto que tem o propósito de viabilizar a entrega de compras online feitas por moradores de comunidades e regiões com restrição. A partir da solução chamada CEP Digital, a startup possibilita que todas as residências de uma comunidade tenham localidade no mapa. Desde sua fundação, mais de 50 mil consumidores foram impactados. Hoje, a operação logística inclui mais de 40 localizações, entre Rio de Janeiro e São Paulo, por meio de seis bases operacionais.
“Pensando nesse cenário e no impacto que a startup vai gerar na sociedade como um todo, o Vakinha pretende, a partir do Celeiro, mapear 10 mil casas e gerar 10 mil CEPs digitais, além de emprego e renda para mais de 30 mapeadores, entregadores e líderes operacionais das comunidades. Ademais, impactará 40 mil pessoas a mais que moram nessas regiões”, comenta Luiz.
Como criar uma vaquinha
Para criar uma vaquinha no site do Vakinha é muito simples. Basta criar uma conta no site, informar o valor que quer arrecadar e configurar as metas da campanha, podendo incluir fotos e vídeos. Com a vaquinha disponível, é possível acompanhar todo o seu desempenho, como quanto dinheiro foi obtido, o valor bruto, as taxas, tarifas e o status da campanha.
Segundo detalha Luiz, as doações ficam retidas por cinco dias corridos até serem liberadas para o saque. O site cobra uma taxa de 6,4% por transação + R$ 5 por saque para a conta bancária do usuário. O Vakinha permite contribuições via cartão de crédito, boleto bancário ou Pix – um QR Code ou um código Pix personalizado para copiar direto no aplicativo do banco, sem que precise envolver dados pessoais e bancários. Asaas, Transfeera e Mercado Pago são alguns dos parceiros de meios de pagamento da startup.
“Este ano, esperamos crescer 50% em receita comparado ao ano passado e 30% em volume de doações arrecadado”, acrescenta Luiz. Ainda segundo o fundador, são alguns milhões arrecadados todo mês e mais de 3 mil novas vaquinhas criadas por dia na maior plataforma de doações online do Brasil.