Paraíba é terra de inúmeros talentos (só na música temos nomes como Zé Ramalho, Cátia de França e Chico César, e na literatura temos José Lins do Rego). Entretanto, o estado nordestino também é terra de inovação em inteligência artificial, com universidades expoentes na parte de pesquisa em visão computacional e engenharia de computação.
“Vamos falar baixinho antes que queiram levar gente daqui para outros lugares”, brinca Fabio Falcão, cofundador e CEO da IARIS, desenvolvedora de aplicações em visão computação e IA, sediada em João Pessoa. Fruto do ecossistema acadêmico local, fundada por três pesquisadores, a empresa registrou um crescimento significativo em apenas dois anos de mercado: de um faturamento de R$ 800 mil no ano passado, a companhia espera fechar 2023 com receita de R$ 5 milhões.
Fundada por três sócios (Igor Lucena, Fábio Falcão e Erick Vagner), a IARIS possui duas soluções de SaaS em seu portfólio, com tecnologia 100% desenvolvida dentro de casa: o EasyProctor e o EasyInspection. O EasyProctor é uma ferramenta que combina dados analisados via inteligência artificial com análise humana para o monitoramento de provas online com segurança. A solução já acompanhou cerca de 700 mil exames, o que gerou mais de 3 milhões de alertas de possibilidade de fraudes.
Já o EasyInspection é voltado à parte de auditoria veicular, com uma solução que utiliza visão computacional para avaliar itens externos e o funcionamento de cada veículo, além de detectar possíveis danos e avarias no veículo, de forma automática utilizando inteligência artificial.
Com sua expertise em IA voltada a dois segmentos específicos, mas com uma alta demanda por soluções antifraude, a IARIS aproveitou 2022 para validar sua proposta e conquistar os primeiros clientes e parceiros, como a idtech VSoft e o Detran da Paraíba, que implementou o EasyProctor para aumentar a segurança em suas provas online. Outro cliente que utilizou a plataforma da IARIS para suas provas EaD foi o Grupo +A, tradicional empresa gaúcha do ramo educacional.
“Além do ganho operacional dos orgãos, já que antes as provas precisavam ser presenciais, com pessoas precisando se deslocar, o Detran conseguiu reduzir as tentativas fraudes de quase 50% para 5% a 10% das provas”, afirma Fábio, ao falar sobre o resultado junto aos primeiros clientes.
Crescendo com parcerias
A partir de 2023, a IARIS também focou em parcerias para abrir o caminho da expansão, levando seu SaaS para plataformas como AWS, Azure e Google, este que inclusive apresentou o EasyProctor em mercados internacionais, um plano da empresa para um futuro não muito distante. Outra parceria de destaque foi com o Moodle, uma das mais populares ferramentas de EAD, em que o EasyProctor foi totalmente integrado.
Com a maior exposição, o plano da startup é atrair ainda mais clientes no setor privado, como universidades, empresas que organizam concursos e até mesmo grandes empresas que possuem internamento programas de educação corporativa. Segundo Fábio, atualmente o Brasil ainda não possui muitas startups no ramo em que a IARIS atua – os chamados softwares de “proctoring”.
Segundo o CEO, a maioria dos softwares com a mesma finalidade do EasyProctor ou EasyInspection ainda é comprada no mercado internacional – geralmente softwares norte-americanos ou indianos. “Existem por aqui outras empresas que trabalham na parte de identificação para prevenir fraudes, mas ficam mais em áreas como finanças ou varejo”, pontua.
Por falar em áreas de atuação, um dos próximos focos da IARIS está na saúde. “Nossa solução está pronta para ser integrada a plataformas de telemedicina, ajudando planos de saúde a identificar se a pessoa certa e o médico certo estão fazendo as consultas”, explica.
Só no sapatinho
Além de ser paraibana com orgulho, a IARIS é orgulhosa por caminhar com as próprias pernas. “Temos uma boa liquidez, e desde o início nos preparamos para não precisar de investimentos, com um time enxuto e produto enxuto. Conseguimos investir com o nosso caixa e a volumetria de negócios gerados.
Atualmente, o time da IARIS conta com cerca de 10 pessoas em tempo integral, mas ela também possui um corpo de profissionais ligado à companhia através de projetos de pesquisa junto às universidades federais da Paraíba (UFPB) e Campina Grande (UFCG). “No total, temos cerca de 25 pessoas trabalhando em nossas soluções”, completa.
Apesar de querer se manter no bootstrapping pelo menos até um futuro próximo, Fábio reconhece que as coisas podem mudar, ainda mais em um mercado em que aplicações de inteligência artificial estão se tornando cada vez mais quentes junto aos investidores. Entretanto, Fábio não tem pressa. “Nosso negócio tem escala, mas o foco é entregar valor e não buscar investimentos para simplesmente crescer por crescer”, finaliza.