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Uma tese de doutorado que transformou pesquisa molecular básica em exame genético para tumor cerebral infantil e que deu vida à uma startup. Esse seria um breve resumo de como surgiu a Neogenys, healthtech de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, fundada em 2019 pelos pesquisadores e sócios Ricardo Bonfim (CEO); Gustavo Alencastro, responsável pela tese de doutorado que gerou a técnica usada no exame; e Carlos Biagi, que entrou como sócio para executar a área de Bioinformática.

O teste desenvolvido pelos gênios, digo, cofundadores da startup, trata-se “apenas” do primeiro exame diagnóstico brasileiro para o meduloblastoma – um dos tumores no cérebro mais comuns e malignos em crianças. Denominado Neoprofiler-MB, o exame foi desenvolvido em convênio com o Hospital das Clínicas da FMRP/USP e o Laboratório de Biologia Molecular do Departamento de Pediatria. O teste contou com o apoio de R$ 200 mil do PIPE, projeto da Fapesp que apoia a execução de pesquisa científica e tecnológica em pequenas empresas no Estado de São Paulo.

Baseado na metodologia de PCR, a mesma utilizada nos diagnósticos de Covid-19, o teste avalia o nível de atividade de 20 genes diferentes. A partir daí, classifica o risco de pacientes com meduloblastoma em quatro subgrupos moleculares: WNT (baixo risco), o SHH (risco intermediário), e não-WNT/SHH (Grupo 3, alto risco) ou Grupo 4 (risco intermediário), contribuindo para um diagnóstico mais preciso da doença. 

“Dessa forma, o médico tem maior precisão e facilidade no protocolo clínico, enquanto o paciente recebe um tratamento personalizado, específico para o estágio em que o tumor se encontra, com menos sequelas a longo prazo”, explica o CEO da Neogenys, Ricardo, em conversa com o Startups para a série Além da Faria Lima. Ou seja, não há o risco de um paciente de baixo risco, por exemplo, que talvez não precisasse de radioterapia, acabar recebendo um tratamento que seria indicado para uma pessoa com risco de metástase.

Outras vantagens apresentadas pelo exame da Neogenys é que ele é ao menos 50% mais barato do que alternativas internacionais e, por ter material parafinado, pode ser armazenado em temperatura ambiente, o que facilita o transporte via Correio. Ricardo não divulga o valor cobrado pelo exame, mas reforça que é um preço bem abaixo do que deveriam estar cobrando (olha a oportunidade), estando abertos a orçamentos.

Ricardo Bonfim, CEO e cofundador da Neogenys (Foto: Divulgação)
Ricardo Bonfim, CEO e cofundador da Neogenys (Foto: Divulgação)

Momento de deslanchar

Validado na Alemanha, o teste mostrou resultados idênticos ao diagnóstico padrão-ouro para a estratificação do meduloblastoma. Com o “ouro” em mãos, a Neogenys agora aguarda sair o resultado da fase 2 do PIPE-Fapesp (em duas semanas), quando poderá ser disponibilizada uma bolsa maior, de até R$ 1 milhão, para deslanchar a parte comercial da startup.

“Estamos confiantes de que seremos aprovados, fomos chamados para mais algumas entrevistas desse processo todo. Então, agora estamos no momento de divulgação, de marketing, já rodamos alguns exames com alguns laboratórios de patologia que enxergamos como potenciais clientes”, conta Ricardo. Segundo ele, esse é o momento de dar as caras, conseguir reconhecimento por parte desses laboratórios, de estar montando a clientela, conquistar a confiança de empresas e médicos. 

Incubada no parque tecnológico da USP de Ribeirão Preto, a Neogenys ainda não tem uma sala própria por lá. Toda a parte experimental e de execução do próprio exame é realizada em um laboratório de biologia molecular do Hospital das Clínicas. Então se for aprovada para a próxima fase, a startup já está em uma lista de espera para ter um lugar para chamar de seu no Container Park, complexo de contêineres empresariais em fase final de construção no Supera Parque de Inovação e Tecnologia instalado no campus da USP em Ribeirão Preto.

“Hoje, nossa principal meta é montar o nosso próprio espaço. A segunda é, de fato, a gente conseguir abranger, vamos dizer, pelo menos o mercado nacional com a realização deste exame”, complementa Ricardo, adiantando que a healthtech já está trabalhando no desenvolvimento de um segundo exame, relacionado a um subtipo de linfoma.

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