
*Marco Sinatura, Chief Strategy & Innovation Officer na ID\TBWA
A Creator Economy vive um momento decisivo. O investimento em influência cresceu 61% no Brasil nos últimos três anos, mas os desafios estruturais permanecem: metade dos marketeiros ainda não consegue medir ROI, a eficiência é questionada e a profissionalização avança devagar. Crescemos em escala, mas ainda precisamos crescer em maturidade.
As marcas aprenderam a incluir creators em suas estratégias, mas poucas conseguiram transformar influência em motor de negócio. O salto que falta é integrar cultura, dados e tecnologia, não tratar criadores como um canal de mídia, mas como parceiros de crescimento.
O avanço de Retail Media e Live Commerce reforça essa mudança. Quando os creators conectam desejo, experiência e conversão no mesmo ambiente, a influência deixa de ser sobre “atenção” e passa a ser sobre resultado. IA generativa, testes em tempo real e personalização ampliam esse potencial, desde que não transformem a estética do conteúdo em algo genérico. O algoritmo pode até otimizar; autenticidade, não.
Outro ponto crítico é a erosão da confiança. Com deepfakes e manipulações digitais, a reputação se torna um ativo ainda mais frágil. As diretrizes recentes da Meta ajudam, mas não resolvem. Marcas e creators precisarão investir em verificações, protocolos e, sobretudo, coerência, que ainda é a camada mais difícil de falsificar.
Também observamos um movimento claro de descentralização. Criadores começam a equilibrar presença em plataformas massivas com espaços proprietários, newsletters, podcasts, comunidades. Isso reduz a dependência dos algoritmos e fortalece laços mais profundos com audiências. A próxima fase da Creator Economy será híbrida: escala de um lado, vínculo do outro.
Há ainda um tema urgente: saúde mental. A pressão por produção constante, somada à imprevisibilidade das plataformas, tem custado caro. Relações mais longas, previsibilidade financeira e métricas mais humanas devem nortear o amadurecimento do setor.
O Brasil, pela sua vocação criativa, tem tudo para ocupar um papel global relevante nesse novo ciclo. Mas, para isso, precisamos avançar em método, ética, tecnologia e profissionalização.
A Creator Economy vai sobreviver ao hype. Para prosperar, porém, ela terá que entregar algo que nenhuma plataforma consegue simular: confiança. No fim, influência nunca foi sobre alcance, sempre foi sobre impacto.