* Diego Perez é CEO da SMU Investimentos
O mercado de capital de risco fechou 2022 com metade do volume de investimentos do ano anterior, para surpresa de absolutamente ninguém. A chegada do “inverno” foi muito debatida, em meio a um cenário no qual animais míticos perderam um pouco seu brilho cintilante e deram lugar para outro, com características nada mágicas, mas bem úteis para sobrevivência.
Apesar de todo ceticismo quanto às perspectivas positivas, a quebra do paradigma do crescimento acelerado traz uma nova dinâmica para o ecossistema de startups e se engana quem pensa que isso significa que a torneira fechou. Pelo contrário, este momento de baixa é uma oportunidade para os investidores. A verdade é que está mais barato investir em startups.
Os números comprovam que a liquidez diminuiu, mas mostram também esse comportamento do setor. Segundo dados da Sling Hub, 2021 foi o ano de recordes, com cerca de 930 captações no país. Entretanto, em 2022, mesmo com a drástica queda no valor captado, este número ultrapassou 800 rodadas, marca bem superior aos anos que antecederam o recorde. Isso significa que o volume de dinheiro caiu, mas os investimentos em negócios inovadores sofreram uma queda bem menos vertiginosa, ou seja, os cheques são menores, mas os aportes não pararam.
Com as cifras reduzidas, a sobrevivência dos negócios ainda depende de metas agressivas diante de um mercado super competitivo. O uso do capital precisa ser cada vez mais inteligente para a startup não só atingir escala, mas também, ser lucrativa. Para o investidor, é uma oportunidade de se injetar menos capital, em empresas com planejamentos concretos para um crescimento sustentável. Das captações realizadas no ano passado, em torno de 450 levantaram até R$ 5 milhões. Oportunidade para o early stage e para o crowdfunding de investimentos, modalidade que passou por importantes atualizações regulatórias
No fim de abril, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) divulgou as novas normas para a captação de financiamento coletivo por empresas iniciantes, o crowdfunding, dando maior flexibilidade na promoção das ofertas aos investidores. Entre as principais mudanças trazidas Resolução 88 – que revoga a antiga CVM 588, que regulava o segmento até então – estão a elevação de R$ 10 milhões para R$ 40 milhões o limite da receita bruta das sociedades empresariais de pequeno porte e até R$80 milhões quando se tratar de Grupo Econômico, e de R$ 5 milhões para R$ 15 milhões, o montante máximo por captação.
Esse novo cenário faz com que o crowdfunding de investimento esteja disponível para mais de 80% das empresas nacionais e em mais de 20% do PIB brasileiro. O aprimoramento do mercado secundário, com o objetivo de trazer mais liquidez para a modalidade já é assunto dos órgãos reguladores, exemplo disso é a iniciativa de tokenização de ativos de startups do Sandbox Regulatório. Todas essas mudanças podem ajudar a impulsionar o ambiente de investimentos em pequenas empresas e a pulverizar os aportes para soluções criadas por todo o país.
Existem inúmeros desafios para superar os reflexos – nada cintilantes – da escassez de capital que assolou o ano passado. A única certeza é que o mundo não para de se transformar e mesmo diante de um mercado mais cético, sempre haverá espaço para startups que resolvem problemas reais. Com análises criteriosas e escolhas inteligentes, investir em inovação é sempre um bom negócio.