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A produtividade está no limite: por que times de tecnologia seguem travados em 2025

O desafio não é mais estratégico: é operacional. Sabemos o que precisa ser feito, mas esbarramos na falta de estrutura, foco e pessoas

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Cobrança por resultados nas áreas de tecnologia e produto nunca foi tão alta | Foto: Canva
Cobrança por resultados nas áreas de tecnologia e produto nunca foi tão alta | Foto: Canva

*Por Caio Laurino, cofundador e CIO da Maitha Tech

Estamos em um ano em que a cobrança por resultados nas áreas de tecnologia e produto nunca foi tão alta — mas os gargalos que impedem esses times de performar continuam os mesmos. E isso deveria nos preocupar muito mais do que estamos demonstrando.

A pesquisa Tech Challenges Brasil 2025, conduzida pela Maitha Tech com 100 líderes de empresas dos setores de tecnologia, financeiro e educação, escancara uma realidade conhecida, mas negligenciada: 96,3% dos respondentes afirmam que a pressão sobre os times de tecnologia e produtos será maior ou muito maior este ano. Ainda assim, quando perguntamos quais são os principais entraves à produtividade, os mesmos vilões seguem à frente — e sem respostas estruturais.

Gargalos antigos, impacto crescente

Os três maiores obstáculos apontados pelos líderes ouvidos no estudo foram:

  • Falta de profissionais capacitados (29,21%)
  • Alternância de foco nas lideranças e nas equipes (25,84%)
  • Desalinhamento entre estratégia e operação (13,48%)

São dores que se repetem ano após ano. A diferença agora é que estamos exigindo mais das equipes — com menos condições para que elas entreguem. O desafio não é mais estratégico: é operacional. Sabemos o que precisa ser feito, mas esbarramos na falta de estrutura, foco e pessoas certas para executar.

A escassez de talentos não pode ser normalizada

A falta de profissionais qualificados lidera a lista de gargalos. Ainda assim, não aparece entre as prioridades de investimento das empresas para 2025. Esse paradoxo mostra que começamos a naturalizar o problema, como se ele fizesse parte do “normal” da operação.

É um erro grave. O mercado precisa tratar a formação e retenção de talentos como agenda central. Três caminhos que temos visto funcionar com clientes de alta performance:

  • Upskilling interno: investir em programas contínuos de desenvolvimento técnico nas áreas de engenharia, dados e produto.
  • Composição ágil de times: utilizar squads sob demanda, consultorias ou plataformas especializadas para preencher lacunas temporárias.
  • Automação inteligente: reduzir tarefas operacionais, liberando os profissionais para focar em desafios de alto impacto.

Proteger o foco virou responsabilidade de liderança

Outro obstáculo crítico é a alternância de foco — uma armadilha silenciosa. Vivemos imersos em ciclos de urgências, reuniões e pivôs constantes, que desconectam times dos objetivos reais do negócio. É papel da liderança proteger o foco, com coragem para dizer “não” e rigor para manter a execução em rota.

As práticas que funcionam neste cenário incluem:

  • Rituais de governança bem definidos, como plannings, weeklies e QBRs com foco claro.
  • Controle de WIP (Work in Progress): evitar excesso de demandas em paralelo.
  • Priorização orientada por dados: backlogs vivos e alinhados a objetivos estratégicos.

Foco não se impõe por discurso. Foco se conquista com processo.

Estratégia e operação precisam se enxergar

O desalinhamento entre o que se espera das áreas de tecnologia e o que de fato é entregue também segue como obstáculo relevante. E isso acontece, muitas vezes, porque falta uma ponte concreta entre o nível estratégico e a operação.

É urgente adotar mecanismos que conectem as entregas técnicas ao impacto de negócio:

  • OKRs claros e vivos, que guiem a execução sem virar burocracia.
  • Métricas de produto e engenharia como instrumentos de comunicação estratégica — como NPS, retenção, dívida técnica e velocidade de deploy.
  • Presença ativa de lideranças de Tech e Produto na definição da estratégia corporativa.
  • Tratar a arquitetura tecnológica como ativo estratégico, não apenas operacional.

Se queremos que tecnologia seja protagonista do crescimento, ela precisa estar na sala onde as decisões são tomadas.

A pressão não vai diminuir — mas o desperdício pode

Estamos entrando em um novo ciclo de cobrança — e ele veio para ficar. Metas mais ambiciosas, prazos mais curtos, e cada vez menos margem para erros.
Mas enquanto as causas do baixo rendimento seguem sendo subestimadas, corremos o risco de esgotar times e comprometer entregas sem resolver o essencial.

Falta de talentos, foco instável e desalinhamento não são obstáculos inevitáveis. São problemas de gestão — e, como tais, podem e devem ser enfrentados com estrutura, priorização e coragem.