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A relação ganha-ganha entre startups e grandes empresas

Foto: Canva
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* Cristiane Taneze é diretora executiva de Inovação da Visa

Invenção é criar algo totalmente novo, do zero. Já inovação é aperfeiçoar algo já existente, capaz de gerar um padrão de desempenho superior para a empresa. Ou, como diz Braden Keeley, “As invenções são orientadas por ideias, enquanto a inovação é orientada pela execução”.

A inovação é essencial à sobrevivência das empresas em um contexto cada vez mais competitivo e globalizado. Ela envolve três aspectos fundamentais: estratégia, cultura e processos.

Estratégia de inovação é a articulação de recursos, ações e pessoas para desenvolver soluções de inovação de curto e longo prazo que criem valor para a empresa. Essa estratégia é viabilizada pela cultura de inovação, uma filosofia que estimula os colaboradores à experimentação. A inovação também requer processos, isto é, mecanismos que organizem o caminho para entender quais atividades resultam em soluções inovadoras.

Nem sempre a forma mais rápida de inovar em uma grande empresa é investindo esforços – e cifras – na criação de um time específico para essa tarefa. Em muitos casos, as companhias identificam mais potencial – e conversão em negócios – ao contar com uma startup especializada, pois a cultura e a forma de trabalho desta suprem tal demanda com maior eficácia e velocidade.

Essas parcerias proporcionam uma troca enriquecedora, de alto ganho para os dois lados, a famosa relação ganha-ganha (ou win-win, no jargão em inglês muito utilizado também no mercado aqui no Brasil). Não é coincidência que o número de corporações que adotaram modelos de open innovation com startups cresceu 96% em 2021 em relação ao mesmo período do ano anterior, de acordo com a plataforma brasileira de inovação aberta 100 Open Startups.

Algumas vezes, uma empresa está focada em várias frentes de atuação e pode ter menos celeridade para resolver um problema muito específico de determinado usuário ou sistema. Por ter um olhar de nicho, a startup trabalha de outro modo, com mais profundidade e rapidez . Além disso, lida com erros de  maneira totalmente diferente: é mais fácil para a startup ‘pivotar’, ou seja, abandonar uma abordagem em andamento e escolher outro direcionamento quando identifica que precisa agir de outra forma para obter um melhor resultado.

A dinâmica do empreendedor em investir em novos projetos e negócios disruptivos, caminhando entre erros e acertos, torna-se uma das melhores formas de levar a inovação para uma grande empresa, que, por sua vez,  se beneficia também pela oxigenação das visões e talentos complementares.

Vivemos uma nova geração de consumidores, que querem se comunicar com a empresa da qual consomem, que exigem estar por perto dela, conhecer toda a sua trajetória e fazer parte de suas decisões. Isso só é possível quando essa organização entende o seu público, coisa que, as startups, que passam longe de burocracias e buscam conexão direta com seus clientes, são especialistas. 

Visões diferentes e enriquecedoras

A flexibilidade presente nas startups e a determinação em resolver o problema identificado também são pontos importantes que podem ser adotados pelas grandes empresas. Mais do que começar projetos novos e descartar antigos, com visões diferentes é possível transformá-los em soluções ousadas e prontas para revolucionar o mercado.

Do lado da startup, o fato de se conectar com uma grande empresa  significa uma possibilidade de crescimento real, pois passa a fazer parte do ecossistema dela. Isso abre novas portas, e estimula novas parcerias. Sem a conexão com a grande empresa, a startup crescerá muito mais lentamente, muitas vezes conquistando um cliente de cada vez.

É a partir do investimento no desenvolvimento da startup dentro do mercado que é possível aprender todos esses mecanismos, repensar a atuação da gama de produtos e soluções e, posteriormente, avançar para parcerias comerciais. Dessa forma, a relação mútua gera mais negócios para todos os envolvidos, além de, é claro, geração de valor.

Outro aprendizado para as grandes empresas ao se aliar à uma startup é o formato de trabalho: não há muita divisão de tarefas, elas trabalham de forma mais colaborativa internamente, o que já alinha grande parte dos colaboradores à mesma rota, facilitando a disseminação de valores, propósitos, alinhando o mindset.

A tendência é que essa colaboração influencie e altere a forma Às  vezes “engessada” das grandes corporações e que elas cada vez mais entendam que uma parceria com startups traz grandes benefícios. Isso não apenas do ponto de vista tecnológico, mas também para praticamente todos os setores, desde a definição da estratégia, a estrutura e a cultura organizacional, até a definição de processos e ritos que transformem de forma ágil às invenções em reais inovações de produtos e serviços. O segredo é continuar implementando metodologias ágeis em todas as áreas que estejam abertas à inovação.