Artigo

A volta dos organizadores financeiros

Novas fintechs buscam ser um misto entre pagamento de contas, organização e educação financeira, diz Ana Zucato, da Noh

Ana Zucato, CEO e co-fundadora da Noh. Foto: Divulgação
Ana Zucato, CEO e co-fundadora da Noh. Foto: Divulgação

*Por Ana Zucato, CEO e co-fundadora da Noh

A primeira onda das fintechs no Brasil, lá em meados de 2010, teve startups apostando em dois modelos bem distintos. Um grupo de empreendedores tentava consertar as ineficiências históricas e o mau atendimento do setor bancário com contas digitais mais modernas e com menos burocracia. Outras empresas nascentes tinham como foco analisar as finanças dos clientes e fornecer dicas e insights sobre saúde financeira.

Entre aqueles que se dedicaram à primeira missão, muitos nomes prosperaram, como Nubank, Neon e Inter. O outro lado não tão bem sucedido da história tem o GuiaBolso como maior exemplo. Era um aplicativo de controle financeiro que fez o Pix e o Open Finance antes de o Banco Central encabeçar essas agendas. Teve muita repercussão e atraiu investidores e clientes, mas falhou em encontrar um modelo saudável de monetização e foi incorporado pelo PicPay.

O mercado de venture capital é um tanto cético sobre as chances de novos Nubanks, Neons e Inters aparecerem nos próximos anos. Só que, mesmo sem a euforia de antes, as fintechs seguem surgindo e na briga por um espaço. Mas qual espaço será esse?

Como empreendedora e pessoa física, sinto um certo cansaço dos consumidores ao ter de analisar e escolher entre os neobancos. Qual realmente é diferente do outro e atende às minhas necessidades?

Não é por acaso que as fintechs mais novatas estão cada vez mais buscando seus nichos. A ideia não é roubar clientes dos bancos ou neobancos – ou, como se diz no jargão do mercado, a disputa pela principalidade.

É o que eu chamo de a volta dos organizadores financeiros, assim como foi o GuiaBolso lá atrás. É um conceito bastante amplo, mas que pode ser resumido assim: cada um a seu modo, essas novas empresas buscam ser um misto entre pagamento de contas, organização e educação financeira.

Modéstia à parte, há exemplos como a Noh, da qual sou cofundadora, e que reúne pagamentos, investimentos, organização e um toque humano de lifestyle para casais que procuram mais controle e fim da complicação com as finanças a dois.

Existem também os novos aplicativos com missão parecida à do GuiaBolso. Conheci recentemente apostas como o Parsa e o Despezzas. Há também aqueles que se concentram em usar o WhatsApp e a Inteligência Artificial para funcionar como um assistente financeiro e pagador de contas, como a Magie e a Friday.

Tudo isso acontece enquanto o sistema financeiro brasileiro passa por mais revoluções do que é possível acompanhar. O Pix, já estabelecido, ganha mais funcionalidades a cada dia e uma delas, o Pix por Aproximação, pode ocupar o lugar dos cartões. Em outra frente, o real digital, ou Drex, promete tornar as operações financeiras ainda mais inteligentes, seguras e baratas.

No meio de tudo isso, enxergo muito espaço para essas companhias que se colocam como orquestradores e meio de campo entre os consumidores e as inovações que estão surgindo. O acesso simples e descomplicado a produtos financeiros já não é mais uma questão. Agora, vai vencer quem melhor atender às necessidades reais e específicas dos consumidores.