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Abaixo a perfeição: como marcas precisam apostar em autenticidade

Autenticidade é importante no storytelling da empresa. Foto: Canva
Autenticidade é importante no storytelling da empresa. Foto: Canva

*Dan Contente é co-fundador da StoryRun

As narrativas de marcas que mostram uma vida com perfeição estão com os dias contados. Em um mercado cada vez mais exigente, especialmente no setor de tecnologia e startups, comunicar uma visão idealizada de leveza, inovação pura e um ambiente de trabalho ou produtos impecáveis está comprometendo conversões, retenções e a própria credibilidade dessas empresas.

A falta de autenticidade não apenas afeta a percepção de valor da marca, mas também começa a impactar diretamente os resultados de negócios que não evoluem suas narrativas para algo verdadeiro e transparente. As pessoas se engajam mais com marcas autênticas e legítimas, que alinham suas ações e valores, sem camuflar a verdade em busca de um imaginário da perfeição que, por muito tempo, se refletiu em resultados imediatos.

O movimento Block Out, que surgiu em maio de 2024 nos EUA, é um claro reflexo dessa mudança. Ele nasceu como uma resposta ao cansaço das gerações mais jovens em relação às imagens idealizadas e superficiais da perfeição que respinga nas marcas e pessoas, com um comportamento ativo de “descurtir” e “deixar de seguir” empresas, figuras públicas e pessoas que não apresentam uma narrativa autêntica, legítima e transparente.

O fenômeno demonstra como as novas gerações rejeitam conteúdos de vida perfeita que não parecem reais e buscam conexões mais genuínas com as marcas que consomem ou que consideram como empregadoras.

Geração Y e Geração Z

A Geração Y, que ocupa hoje boa parte dos cargos estratégicos em empresas de tecnologia, vive uma fase de questionamento em relação ao ambiente de trabalho. Depois de anos imersos na cultura do “work hard, play hard,” agora buscam conexões mais reais e críveis, distantes de ideais de perfeição.

Essa geração amadureceu e hoje valoriza marcas e companhias que demonstram vulnerabilidade e transparência, com um discurso coerente e honesto, que gere identificação e confiança.

Enquanto isso, a Geração Z, composta por jovens que influenciam decisões de compra e que já ocupam grande parte dos times de produto e tecnologia de empresas tech e startups, é ainda mais crítica e vale reforçar que, ainda antes de aceitar uma vaga, avalia autenticidade, relações saudáveis e flexibilidade no trabalho.

Uma pesquisa da Consumoteca, em parceria com a Caju, mostra que 80% dos jovens dessa geração buscam marcas que estejam genuinamente alinhadas a seus valores. Como consumidores e profissionais, rejeitam empresas que constroem uma imagem que não corresponde à realidade, mostrando-se menos propensos a se envolver com marcas que vendem uma perfeição vazia.

Perfeição nas Empresas Techs

As startups e empresas consolidadas de tecnologia foram exemplos de trabalhos próximos à perfeição por muitos anos – com ambientes descolados, horários flexíveis, salários acima da média, plano de carreira, viagens, entre outros benefícios. Mais recentemente, entretanto, as demissões em massa e a preocupação com resultados mais concretos mudaram esse imaginário – tanto no front-office quanto no back-office.

Agora, as empresas precisam investir em uma narrativa clara, verdadeira e legítima, que transmita vulnerabilidade e não venda uma perfeição a qualquer custo. Uma narrativa realmente autêntica exige consistência e deve ser integrada em todas as operações, refletindo a verdade da empresa em todos os pontos de contato. É uma estratégia central, que deve percorrer todas as áreas da empresa.

Em termos práticos, algumas empresas tech já estão avançando na construção de narrativas genuínas por meio de duas estratégias que vêm ganhando força. Primeiramente, CEOs e líderes C-Level vêm investindo fortemente em seus perfis no LinkedIn e Instagram, adotando essas plataformas como avenidas para amplificar a narrativa da marca de forma autêntica e acessível, num claro movimento de desconstrução da perfeição.

Essa presença ativa permite que a liderança compartilhe experiências e mostre vulnerabilidade, criando conexões mais reais e humanizando a marca para clientes, parceiros e colaboradores. Com isso, essas empresas já começam a colher frutos em termos de retenção de talentos, atração de novos clientes e fortalecimento de uma base de seguidores engajados.

Além disso, a criação de micro-narrativas voltadas para diferentes públicos é outro passo crucial. Em vez de uma mensagem genérica, como a que busca a perfeição, essas empresas constroem narrativas que abordam diretamente as dores e expectativas reais de cada grupo – desde investidores até colaboradores e clientes.

Esse conjunto de histórias específicas não só fortalece a identidade global da marca, mas também responde de maneira personalizada às necessidades de cada público, formando um mosaico coeso e integrado. Com essa abordagem, empresas que adotam uma narrativa transparente e transversal conseguem se destacar em um mercado saturado, aumentando a percepção de valor e fidelizando seus públicos. Ao longo do tempo, essa prática se revela como um verdadeiro diferencial competitivo, essencial para construir uma marca sólida e à prova de futuro.