* Fernanda Ribeiro é cofundadora e CCO da Conta Black
Lidar com dinheiro não é uma tarefa fácil. Quem nunca deixou de pagar uma conta no fim do mês ou fazer malabarismo para sobreviver? Essa infelizmente é a realidade de muitos brasileiros, principalmente da população negra.
Não tem como falar de finanças, sem antes trazer um histórico da desigualdade social no Brasil. Sabemos que a pobreza tem cor, e ela é negra. Entre os 10% com menor rendimento per capita no país, 75,2% são pretos ou pardos. No estrato dos 10% mais ricos, eles são apenas 27,7%. Isso sem falar no abismo salarial que continua separando pretos e pardos dos brancos no Brasil. Segundo um levantamento feito pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a média de ganhos de pretos e pardos equivale a 57,7% da renda de brancos.
No contexto atual, a criação de iniciativas de valorização ao empreendedorismo, fez com que movimentos como o Black Money surgissem para equilibrar as relações de poder e dinheiro. O nascimento do movimento surge como fortalecimento da população preta, fazendo o dinheiro circular mais pela comunidade.
Por muitos anos, entendemos que dinheiro e pessoas negras eram palavras rivais e que nos colocavam em situação de aceitação das nossas condições financeiras. O Brasil é uma das nações mais desiguais do mundo e precisamos compreender a relação entre essa desigualdade e o racismo estrutural, que está inserido nos espaços econômicos, culturais, políticos e até mesmo nas relações diárias e interpessoais. Entendo ser por conta dessa realidade que a maioria de nós pensamos que negro e dinheiro não combinam.
Pensando em mudar essa realidade, que algumas outras iniciativas também foram surgindo. O afroempreendedorismo, por exemplo, é compreendido como uma estratégia de enfrentamento à vulnerabilidade econômica e social da população negra. A construção de uma cadeia produtiva em que a população negra seja dona dos meios de produção, esteja capacitada e tenha oportunidades para alavancar qualquer negócio, é explicada pela forma de empreender, seja por oportunidade ou por necessidade, que é o caso da maioria dos empreendedores negros.
Integração sustentável
Partindo desse conceito, o Black Money reforça a importância de utilizar o poder de compra deste grupo étnico racial, investindo na própria comunidade. Promovendo assim, a integração da população ao sistema financeiro de forma sustentável e eficiente.
Viabilizar o acesso a projetos, empresas e negócios que movimentam parte significativa da economia é atuar de forma contundente no fortalecimento da comunidade e reduzir a desigualdade social presa em nosso sistema financeiro. O afroempreendedorismo se torna mais potente no Brasil por ter nós, pessoas negras, à frente de negócios, abrindo caminhos e gerando espaços para que mais pessoas negras estejam conectadas ao nosso propósito.
Estamos protagonizando a nossa história e moldando para que a sociedade entenda que podemos sim ocupar lugares de poder, somos ferramentas cruciais para gerir a economia do país.
Aproveito e faço aqui um convite a todas as empresas: tenham em sua cadeia de fornecedores empresas pretas. Aos consumidores: vejam quem são os pequenos e médios negócios dentro do seu bairro e consuma produtos ou serviços, só assim estaremos rompendo com a estrutura social que por muitos anos nos inviabilizou.